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22/05/2000 - 11h52

Brasil quer 'duas velocidades' para o Mercosul

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ANDRÉ SOLIANI E RUI NOGUEIRA 22/05/2000 11h52
da Folha de S. Paulo, em Brasília

O Mercosul deixará de ser apenas um, serão dois. Para a diplomacia brasileira, haverá um avanço maior nos acordos entre o Brasil e a Argentina do que nos do bloco (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). O Itamaraty chama essa estratégia de integração "Mercosul de duas velocidades".

A mudança no projeto original, que prevê acordos quadrilaterais, se deve ao novo desafeto brasileiro: o Uruguai.

O mau humor brasileiro, que no ano passado era voltado para Argentina, agora recai sobre o vizinho ao sul.

Na opinião dos negociadores brasileiros, os uruguaios estão fazendo tudo para obstaculizar o avanço da integração, com exigências de tratamento especial ou boicotando projetos.

Refém
O Brasil não pode ser refém de um sócio com atitude pouco construtiva, disse um dos principais negociadores brasileiros.
A estratégia brasileira não é certa de obter sucesso. Pelas regras do Mercosul, os quatro membros têm o mesmo poder de voto e veto. Para alguns temas será possível aplicar duas velocidades; em outros, o Uruguai, se quiser, conseguirá criar dificuldades.

A "chateação" uruguaia fez com que o Paraguai, mesmo com toda a instabilidade política, deixasse de ser a principal preocupação da diplomacia brasileira. Para eles, o despreparo técnico dos paraguaios os impedem de atrapalhar os planos para a região.

Os uruguaios sabem que estão chateando o vizinho maior, mas não pensam em mudar de estratégia. Com essa postura, conseguem vantagens comerciais.

Na semana passada, o ministro de Indústria do Uruguai, Sergio Abreu, qualificou a posição do seu país de "inteligência que incomoda". A autodescrição foi feita depois dos resultados da negociação em torno do regime automotivo (regula o comércio de carros na região).

Segundo o embaixador uruguaio no Brasil, Mário Cesar Fernández, "o Uruguai conseguiu, no essencial, o que queria do regime automotivo".

A vitória do parceiro brasileiro foi conseguir uma tarifa mais baixa de importação para carros de países de fora do bloco que a praticada pelo Brasil e Argentina.

Para o Brasil, essa concessão foi injusta. A cessão foi feita para conseguir fechar o acordo e inscrevê-lo na OMC (Organização Mundial do Comércio). Sem assinatura do Uruguai, o regime automotivo poderia ser contestado na organização.
Fernández admite que, na prática, as negociações entre Brasil e Argentina já são mais intensas que com os demais membros. "Não acho isso conveniente."

"Brasil e Argentina muitas vezes apresentam pacotes prontos para o Uruguai que precisam de ajustes. Muitos acordos não seriam aceitos pela nossa opinião pública, sem modificações", disse Fernández.

Os brasileiros dizem que seria impossível chegar a alguns acordos, como o automotivo, se os quatros sócios, com tantas diferenças, sentassem para negociar ao mesmo tempo.

Os menos radicais, que vêem o "Mercosul de duas velocidades" acontecendo na prática, sem mudanças institucionais, acreditam que o Chile deverá ser um membro mais pleno que o Uruguai e o Paraguai, num futuro próximo.

Espera telefônica
Em Brasília, os brasileiros não são os únicos que se sentem incomodados pelos uruguaios. Na Embaixada da Argentina há até quem se incomode com a música tocada no sistema de telefone da embaixada uruguaia.

Os argentinos não gostam de ser lembrados que o tango mais famoso no mundo não é argentino, é uruguaio, "La Cumparcita". A música na espera do telefone da embaixada uruguaia faz questão de recordá-los.

Os argentinos preferiam ouvir um "Candomblé", música típica uruguaia, ao telefone. Os brasileiros, um parceiro mais dócil.

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