Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
15/02/2004 - 06h43

Empresas de mídia divergem sobre pedido de socorro ao BNDES

Publicidade

da Folha de S.Paulo, no Rio

O pedido de socorro financeiro do BNDES tem sido objeto de discussão, e de críticas, dentro do próprio setor de mídia. Há consenso de que as empresas de mídia são pouco transparentes no que se refere à divulgação de seus próprios números, embora cobrem transparência dos outros setores.

A Folha ouviu dirigentes dos principais grupos de comunicação sobre o pedido de empréstimo ao BNDES. Há duas questões em jogo: se o empréstimo vai afetar a independência da mídia e se representa privilégio ao setor. A posição das empresas pode ser vista a seguir:

Jorge Nóbrega, diretor de planejamento e controle da Globopar: "Achamos o empréstimo importante. As empresas se endividaram em dólar. O câmbio triplicou, e a receita do setor caiu, por causa da redução da atividade econômica. Não queremos subsídio, mas o alongamento da dívida. Se o projeto for aprovado, é claro que as condições dos empréstimos serão de conhecimento público".

Roberto Civita, presidente do Grupo Abril: "O BNDES é a única fonte de recursos de longo prazo do Brasil. Se todos os setores básicos da economia recebem recursos, não sei por que a mídia deveria ser excluída.

O tratamento às empresas sérias não pode ser diferente de um setor para outro. [...] Se o BNDES exigir "full disclosure" [abertura total de informações] das empresas, não vejo problema. [...] Transparência de informações é bom. Mas acho que está se esperando demais do BNDES. Há gente sonhando, se iludindo".

Luís Frias, presidente do Grupo Folha: "A posição da empresa e do jornal é favorável à participação da mídia nos programas de financiamento do BNDES, desde que em condições iguais às dos demais setores da economia e desde que haja rigor total em relação à transparência e à qualidade dos números das empresas".

Francisco Mesquita Neto, presidente do Conselho de Administração do Grupo O Estado de S.Paulo: "O BNDES entendeu a importância do setor para o país, do ponto de vista institucional, e vai fazer uma análise transparente do assunto, como nós gostaríamos. A preocupação em preservar a autonomia da imprensa está na cabeça de todos. Não vi nenhum sinal de que o BNDES queira influir na linha editorial das empresas.

Acho que vai exigir que as empresas passem a publicar balanços e sejam mais transparentes. Se o setor não estiver preparado para isso, é melhor se preparar. E vai ser extremamente positivo".

Luiz Sandoval, presidente do Grupo Silvio Santos: "A indústria de radiodifusão tem de ter uma linha de financiamento. É justo, correto. Não somos diferentes de uma fábrica de sabonetes, mas sou contra financiamento para recomposição de dívidas, pois o BNDES é um banco de fomento. O SBT não tem dívida externa".

Ariane de Carvalho, presidente do jornal "O Dia": "Qualquer banco de fomento tem de atender às indústrias que necessitam de capital. Os grupos de mídia investiram em parque gráfico e em tecnologia. Houve uma forte desvalorização cambial, e nosso principal insumo, que é o papel, é dolarizado. O projeto encaminhado ao BNDES faz sentido. O que eu não acho correto é a forma como a ANJ, a Abert [associação das emissoras comerciais] e a Aner [Associação Nacional das Editoras de Revistas] encaminharam a questão. A iniciativa de um grupo foi apresentada em nome das associações. Estou entre os cinco maiores jornais do país, faço parte da ANJ e não tive acesso ao projeto. [...] A mídia tem de dar sua contrapartida e profissionalizar a administração. Os grupos são muito fechados, tentam esconder informações, não falam realmente a verdade sobre os preços que praticam. [...] Não acho que o dinheiro do BNDES vá colocar a imprensa de joelhos".

Jayme Sirotsky, vice-presidente da Associação Mundial de Jornais e acionista do Grupo RBS: "Estamos [a RBS] há 47 anos no mercado, preocupados em prestar o melhor serviço, e isso pressupõe independência.

Se as empresas têm sua missão clara e condição de operação sadia, não
vejo por que um empréstimo do BNDES afetaria sua independência editorial. O alijamento de uma indústria pelo BNDES não é coerente".

Dennis Munhoz, presidente da TV Record de São Paulo: "A Record vai ficar muito atenta e não vai tolerar que uma emissora seja beneficiada em detrimento de outra. Precisamos saber por que vai ser dado o empréstimo, a quem e em que condições, para depois manifestarmos nossa opinião.
[...] A coisa está sendo tratada sem a transparência que merece, porque é dinheiro público. Se for empurrada goela abaixo, a Record não vai aceitar. A sociedade precisa participar do debate. [...] Não tive acesso à proposta entregue ao BNDES. [...] Se for para gerar emprego, para estimular o setor e para ele se defender do capital estrangeiro, o empréstimo é válido. Mas não se pode premiar quem administrou mal. Quem não está para quebrar não pode ser punido para que outro não quebre".

Antonio Teles, consultor da presidência da Rede Bandeirantes: "O BNDES foi criado para financiar a indústria. E é legítimo, e justo, que ele coloque recursos à disposição da mídia para que ela refinancie suas dívidas e incremente os negócios. [...] Não acho que um empréstimo público vá afetar a imparcialidade da imprensa. Se o governo quisesse ter a mídia de joelhos, a publicidade seria uma forma de pressão muito mais efetiva".

Walter de Mattos Júnior, presidente do jornal "Lance": "O Estado não deve refinanciar as dívidas nem fazer a mudança estrutural de custos sem exigir contrapartidas, como a publicação de balanços e a governança corporativa. O BNDES discriminou negativamente a mídia. [...] Como cidadão, quero discutir que mídia, principalmente a impressa, queremos ter. Não há país desenvolvido sem grande penetração da mídia impressa. Vivemos um apartheid da informação".
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página