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28/03/2005 - 09h38

Brasil exporta professor para o Timor Leste

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RICARDO WESTIN
da Folha de S. Paulo

Na mala um carregamento de repelentes de insetos, na mão comprovantes de vacinas contra moléstias tropicais e no bolso um dicionário do exótico dialeto tétum. Embora pareçam aventureiros embarcando para a África, esses viajantes fazem parte de uma missão oficial do governo brasileiro. São professores de todo o país recrutados para ajudar na reconstrução do Timor Leste.

Amanhã e depois, despedem-se do Brasil no aeroporto de Guarulhos. Vão passar um ano nesse país menor que Sergipe cravado entre a Indonésia e a Austrália ensinando os professores locais a usar o português na sala de aula.

Assim como o Brasil, o Timor Leste foi colônia de Portugal, mas turbulências históricas impediram o português de ser a língua corrente. Uma semana após a independência, em 1975, a vizinha Indonésia anexou o Timor e, para cimentar a dominação, impôs o indonésio como idioma. O português foi lentamente abandonado.

Um referendo em 1999 decidiu pela independência. Português e tétum voltaram a ser as línguas oficiais, mas hoje pouco mais de 5% da população fala o idioma de Camões. E fazer com que a nova geração aprenda a língua é uma tarefa hercúlea quando nem os professores falam o velho idioma.

É por isso que a capacitação em português dos professores timorenses será o pilar do trabalho dos 47 brasileiros que embarcam nesta semana para a capital, Dili. Eles se juntarão aos 150 portugueses que já estão lá com o mesmo objetivo. Essa é a terceira missão após a assinatura, em 2002, do acordo de cooperação entre Brasil e Timor. As primeiras missões ajudaram a traçar as diretrizes educacionais básicas do país asiático.

Concorrência de vestibular

O grupo que vai para o outro lado do mundo é heterogêneo. Inclui de professores de colégio (de disciplinas como português, física e biologia) a pesquisadores com pós-doutorado. Gente do Brasil inteiro enfrentou uma seleção mais concorrida do que vestibular de medicina: a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que é ligada ao Ministério da Educação, recebeu a inscrição de 13 mil interessados nas 50 vagas.

Ainda assim, três dos selecionados desistiram --dois alegando problemas familiares e um dizendo não ter recebido informações suficientes sobre o trabalho.

Dos 47 que embarcam nesta semana, muitos não hesitaram em interromper a carreira profissional ou acadêmica no Brasil. É o caso de Tarcísio Botelho, 32, que após uma semana de trabalho abandonou um projeto de alfabetização de filhos de catadores de papel em São Paulo.

"Sei que no ano que vem volto sem emprego, com uma mão na frente e outra atrás. Mas o idealismo de ajudar a reconstruir um país falou mais alto."

Ele não é o único a dizer que a bolsa mensal de US$ 1.100 (quase R$ 3.000) não foi o grande chamariz. "Sempre quis fazer como o pessoal da Cruz Vermelha, recuperar países destroçados", conta a professora Jerusa Garcia, 48, referindo-se à guerra civil após o referendo de 1999 provocada por milícias pró-Indonésia, que custou vidas e a infra-estrutura do país. O valor dessa missão oficial para os cofres brasileiros, segundo a Capes, é de R$ 2,8 milhões.

Uma das preocupações da professora Ana Lúcia Souto, 38, é o vocabulário que vai usar ao falar com os timorenses. "Não vai ser como dar aula no Brasil. As palavras terão que ser bem pensadas, não poderão ser coloquiais."

O ministro da Educação do Timor, Armindo Maia, que dará as boas-vindas aos brasileiros no aeroporto de Dili, trata de tranqüilizá-los. "O jeito de falar não atrapalha. Tem sido até mais fácil para os timorenses se adaptarem ao português brasileiro. A vossa pronúncia é mais aberta", explica ele, com sotaque lusitano.

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