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02/07/2003 - 05h33

Tratamento da impotência deve incluir a mulher

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AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo, em Paris

Pênis ereto não é garantia de relação sexual satisfatória. Uma sintonia com a parceira é essencial para que o homem em tratamento tenha de volta a ereção perdida e o prazer do sexo.

Essa preocupação com a "parceria" é certamente o principal avanço do 2º Congresso Internacional em Disfunção Erétil e Sexual, concluído ontem, em Paris.

Outra mudança tem a ver com o preconceito: de agora em diante, ejaculação precoce será "ejaculação rápida". Os especialistas concluíram que o termo anterior era pejorativo, da mesma forma que durante o 1º congresso, em 1999, impotência virou disfunção erétil.

O novo "international consultation" foi elaborado ao longo de cinco encontros com especialistas de 29 países divididos em 16 grupos. Participaram do trabalho várias sociedades médicas internacionais, além das de urologia e de impotência, com apoio da Organização Mundial da Saúde.

Houve concordância sobre o emprego de drogas orais como primeira escolha no tratamento da disfunção erétil em pelo menos 90% dos casos. A afirmação dessa forma de tratar ocorre cinco anos depois que o Viagra passou a ser usado, e no momento em que duas outras drogas chegam ao mercado: o Levitra e o Cialis.

Para disputar o espaço com a primeira, da Pfizer, as duas outras chegam anunciando avanços: as pesquisas com o Levitra, da Bayer-GSK, apontam para maior eficácia e precisão; e as do Cialis, da Eli Lilly, mostram duração que vai de 24 a 36 horas.

As três agem com o mesmo princípio: inibem a enzima fosforodiesterase-5, facilitando a ereção. E as três disputam um mercado estimado em 12 milhões de pessoas no Brasil e mais de 150 milhões no mundo.

De acordo com os estudos apresentados, o uso de qualquer dessas drogas levará de 80% a 90% dos homens com disfunção erétil a terem uma ereção satisfatória, desde que excitados.

Pacientes diabéticos, hipertensos, cardíacos e paraplégicos também podem se beneficiar, em maior ou menor escala. As drogas só trazem risco quando associadas ao nitrato. Esse fato levou a Sociedade Brasileira de Cardiologia a determinar que, em casos de urgência, essa droga só seja administrada se houver certeza de que o paciente não está tomando medicamento para ereção.

A prescrição de Viagra, Levitra ou Cialis caberá ao médico, depois de expor ao paciente o perfil de cada uma. É assim que deveria ser, e é assim, em princípio, que ocorre na Europa e nos EUA.

No Brasil, onde essas "tarjas vermelhas" podem ser obtidas no mercado, embora por lei dependam de prescrição médica, cada paciente experimenta aquela que desejar. "Ele já chega na clínica dizendo qual medicamento quer tomar, porque já experimentou", diz o urologista Sidney Glina, ex-presidente da Issir, Sociedade Internacional para Pesquisa em Sexo e Impotência.

Com as novas opções de remédio, "é desejável e esperado que mais pessoas procurem ajuda médica", diz Celso Gromatzky, da Faculdade de Medicina da USP e do Prosex, Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas.

Sexo holístico

Pesquisa patrocinada pela Bayer-GSK com 23.838 homens de oito países (entre eles Brasil, EUA, França e Alemanha) mostrou que 16% deles sofriam de disfunção erétil. Entre 40 e 59 anos eram 18%, e entre 60 e 75 anos, 32%. Cerca de 69% deles procuraram ajuda médica, metade deles encorajados por suas parceiras, descontentes com a relação.

"O medicamento sozinho não vai salvar tudo, mas é um atalho para que o casal passe a se entender melhor", diz Carmita Abdo, psiquiatra coordenadora do Prosex. "O homem leva de três a quatro anos para procurar ajuda, depois anos para ter de volta a ereção. Com a droga, o sintoma é resolvido rapidamente."

Entre 60% e 70% das disfunções têm causas psicogênicas. As outras seriam físicas, especialmente diabetes, hipertensão e depressão. Nos dois casos, a participação da mulher e dos remédios é fundamental, dizem os especialistas.

O ideal é que os dois sejam tratados, pois a "mulher passa a lidar com um parceiro deprimido, que evita o contato", diz Marian Dunn, diretora do Centro de Pesquisa em Sexualidade Humana de Nova York. Segundo a médica, as mulheres se queixam que o comprimido traz a ereção, mas não cria o clima.

John Dean, da Salisbury Clinic, de Londres, diz que o futuro do tratamento da sexualidade será "holístico", considerando-se o corpo, a mente e os relacionamentos do casal.

Para Dean, estimulação, carícias, boa relação com o parceiro e continuidade no tratamento são fundamentais. "Dessa forma, a medicação não será apenas garantia de ereção, mas a redescoberta do prazer do sexo."
 

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