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04/03/2004 - 07h52

Veja algumas atitudes para combater a paranóia

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da Folha de S.Paulo

Evitar o preconceito

A visão preconceituosa já é uma forma de violência e tem como uma de suas conseqüências potencializar o problema, criando um ciclo vicioso. O comportamento individual de, em princípio, agir com temor a minorias e/ou "estereótipos" (a pessoa mal-vestida, negra ou de classe baixa, por exemplo) cria uma desconfiança generalizada nas relações humanas, "ampliando o clima e o fato da violência", diz Mizne. Em uma pesquisa do Instituto Futuro Brasil, divulgada em 2003, 89% dos entrevistados disseram considerar prudente "ficar sempre com o pé atrás" em relação aos outros. Para a historiadora Vera Malaguti, toda a nossa insegurança de vida é descarregada no diferente de nós. "A insegurança é global, mas a gente fica com medo do menino, do filho da faxineira."

Controlar o medo

É uma reação automática quando a ameaça se faz presente. Já o medo generalizado, sem critérios definidos, faz as pessoas agirem com irracionalidade, o que, muitas vezes, gera mais violência. O professor de matemática e filosofia da educação Ubirantan D'Ambrósio acha que o medo paranóico com um perigo apenas potencial (pode acontecer ou não) lembra a paranóia da Guerra Fria, quando as duas grande potências mundiais da época, Estados Unidos e União Soviética, entraram numa corrida armamentista para se defenderem de uma ameaça que elas mesmas estavam criando. O medo também é um fator que restringe o simples ir e vir no cotidiano. "O efeito perverso do crime é que ele afeta os estilos de vida, a circulação e a capacidade que as pessoas têm de usufruir a cidade", diz o sociólogo Leandro Piquet Carneiro, um dos coordenadores de uma pesquisa do Instituto Futuro Brasil sobre o perfil das vítimas da violência em São Paulo, publicada em 2003. Por isso o medo exige controle.

Controlar a obsessão

A violência existe, é real, mas a obsessão, que leva o cidadão a achar que vive correndo perigo a toda hora e em todo lugar, só piora a vida. Sobre isso, Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, afirma: "Os índices realmente altos de violência continuam focados em alguns bolsões". O fato é que o pensamento obsessivo prejudica uma visão clara do grau de periculosidade das situações e também de possíveis mudanças positivas que estejam acontecendo. "Os índices de homicídio em São Paulo caíram mais de 20% nos últimos três anos, mas a percepção geral é de que nada mudou", diz Paulo Mesquita, do Instituto São Paulo Contra a Violência. Uma pesquisa do Instituto DataBrasil e do Núcleo de Estudos sobre Segurança e Política Criminal, ambos da Faculdade Cândido Mendes (RJ), mostra que a porcentagem de cariocas que considera a violência grande em sua cidade subiu de 51% em 1999 para 63% em 2003, enquanto o número de vítimas caiu de 43% para 36%. O número ainda é muito elevado, mas a reação parece desproporcional aos fatos.

Escapar do individualismo

Buscar apenas medidas individuais de autoproteção "não está no cardápio das soluções possíveis", diz Mesquita. O problema não é individual, portanto não será resolvido se cada um se isolar e só pensar no bem-estar próprio. Exemplo: fechar a rua com guarita. Para Mizne, o caminho é ampliar o trabalho de conscientização da comunidade e partir para ações concretas, como programas sociais focados em educação, cultura, que sejam opções mais atraentes do que a violência.

Cuidar do afeto

Para combater a violência na sua raiz, o que significa em casa e socialmente, é preciso dedicar-se à manutenção dos vínculos afetivos e persistir na transmissão de valores e modelos éticos. "O resto é política pública", diz o psiquiatra David Levisky, do Instituto São Paulo Contra a Violência. O envolvimento dos pais na formação e na educação dos filhos, geralmente, diminui o nível de violência na comunidade. O economista Ladislau Dowbor conta que, em algumas cidades dos Estados Unidos onde as mães se organizaram e foram pessoalmente buscar seus filhos nas "bocas" de droga, o tráfico e o consumo diminuíram sensivelmente.

Selecionar informações

Absorver passivamente qualquer informação sobre violência só reforça o clima de obsessão reinante e acaba por difundir ainda mais a violência, e não necessariamente as soluções para o problema. É preciso selecionar as fontes em que se busca informação e questioná-las ou refletir sobre elas. No livro "Cultura do Medo", que inspirou o filme "Tiros em Columbine", de Michael Moore, seu autor, o sociólogo Barry Glassner, diz que, nos últimos anos, nos Estados Unidos, houve um aumento de 600% na quantidade de notícias sobre violência, enquanto as taxas de criminalidade caíram 20%. Atenção às crianças e aos adolescentes: eles são mais propensos a reproduzir sem critério os modelos de violência que consomem na mídia, porque seus valores e mesmo sua estrutura cerebral não estão totalmente formados, diz o psicofisiologista Kenji Toma. E a função dos pais é estabelecer os padrões e limites a respeito do que os filhos podem consumir. Para Levisky, também é função dos pais agir como mediadores, conversando sobre as informações que recebem, mostrando quais são seus parâmetros e valores em relação ao assunto.

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