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16/03/2006 - 11h37

Novo conceito de beleza abandona perfeição e prioriza saúde

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TATIANA DINIZ
da Folha de S.Paulo

Rostinho bonito, corpinho sarado e pouquíssimos quilos. A fórmula que resumiu o ideal de beleza ao longo da última década pode despencar. Um novo conceito, o de beleza sustentável, promete pôr em xeque a perseguição por padrões estéticos preestabelecidos. A idéia é combater o desejo pela perfeição e refazer as conexões entre beleza, saúde, longevidade e bem-estar. O assunto será tema de um congresso inédito que acontecerá em novembro deste ano, em São Paulo, e pretende reunir 750 profissionais para debater o padrão estético vigente.

"Essa ditadura da beleza efêmera está insuportável. É preciso dar um grito de independência", comenta Carla Góes Sallet, 38, especialista em medicina estética. Em seu último livro, "Belíssima aos 40, 50, 60, 70..." (ed.Conex, 248 págs. R$ 62), ela enfatiza que a beleza é distinta nas diferentes épocas da vida. "Ser bela é sentir-se bem, e sentir-se bem passa por se aceitar. Qual o sentido de uma mulher de meia-idade se achar feia por não ter as medidas de uma miss?", observa.

A psicanalista Maria Lucia Homem chama o momento atual de "ditadura da Barbie". E alerta para as conseqüências dela. Em um estudo que traça paralelos entre os valores contemporâneos e o sucesso da boneca, ela aponta que a perseguição pelo "ideal" provoca "disfunções entre o externo e o subjetivo", gerando sofrimento e desencadeando doenças.

""Performar" é o verbo soberano atualmente. É o império do espetáculo, do falseamento. Então, a subjetividade é recalcada e retorna na forma de angústia, de depressão e de tantas outras doenças contemporâneas. O ideal, como o termo já diz, é inatingível. Persegui-lo é uma lógica suicida", observa.

Em seu consultório, a especialista conta que acompanha vários casos de "pós-Barbies". "São mulheres que malharam e fizeram plásticas, mas se sentem infelizes. Afinal, o que fazer se você se tornou uma cinqüentona gostosa, mas seu marido a deixou mesmo assim? Há um embate entre a idéia e o real", explica. "A humanidade quer escapar dos limites, ninguém mais pode ter rugas, é preciso apagar os sinais do tempo. Isso não é sustentável."

Plásticas

No país vice-campeão em cirurgias plásticas no mundo --o Brasil perde apenas para os Estados Unidos--, os números testemunham a busca pela aparência perfeita. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (www.cirurgiaplastica.org.br), em 2004 foram realizadas 617 mil cirurgias, 60% delas para fins estéticos. As mulheres receberam 70% das intervenções. E mais: os adolescentes respondem hoje por 15% da clientela, denunciando o sofrimento precoce diante da pressão pela beleza padronizada.

Ainda de acordo com os dados da SBCP, a lipoaspiração é o procedimento mais procurado no país, seguido das intervenções nas mamas (aumento ou diminuição) e das modificações na face --olhos, nariz, lábios e outros.

Apesar disso, quem entra no consultório do cirurgião plástico Antonio Luiz Pássaro, do hospital Oswaldo Cruz, pode escutar dele nada mais que um elogio. "Muitas vezes digo que o nariz [do paciente] é lindo e sugiro que corte o cabelo. Se não há indicação, sinto-me responsável por tirar da cabeça dele a idéia de que precisa da cirurgia. A mídia banalizou a plástica, e as pessoas agora querem sanar suas frustrações com recursos externos."

O médico alerta para o fato de que "a cobrança estética gera uma angústia existencial, e há uma exploração dessa angústia". "E a responsabilidade social, onde fica? A indústria cosmética já fatura mais que a automobilística e a siderúrgica juntas. Enquanto isso, as mulheres estão se esquecendo de desenvolver características que sempre as destacaram, como o charme, a sensualidade e a feminilidade. Não dá para preencher isso com botox", diz.

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