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07/02/2001
-
04h09
IVONETE PINTO, da Folha de S.Paulo
A capital do Irã vive dias de euforia. Desde o dia 31 de janeiro, Teerã abriga dois grandes festivais internacionais: o Fajr Theatre, de teatro, e o Fajr Film Festival, de cinema. O de cinema, em sua 19ª edição, é o que mobiliza maior público. A estimativa é de que 20 mil pessoas assistam aos filmes dos diversos programas, que vão desde filmes em competição até homenagens a Robert De Niro e Roberto Rosselini.
O festival abriu com "Baran", de Majid Majidi, o mesmo diretor
de "Crianças no Paraíso", que concorreu ao Oscar de filme estrangeiro no ano passado. Este ano, o escolhido para representar o Irã no Oscar é "Tempo de Embebedar Cavalos", de Bahman Ghobadi (leia texto nesta página).
Fazem parte da programação do 19º Fajr Film Festival 400 filmes. Em competição, são 23 filmes iranianos e 19 estrangeiros (veja quadro ao lado).
As 25 obras iranianas na disputa pelo melhor filme formam filas intermináveis, cujos ingressos foram vendidos antecipadamente. Essa correria toda tem uma explicação. Afora o fato de que os iranianos em geral têm adoração por cinema, o público sabe que pode ser a única oportunidade de ver os filmes na íntegra. Depois, a chance de sofrerem cortes é tão certa quanto o fato de que Reza Pahlevi não é mais o rei.
Criado nos anos 80 pelo atual presidente Mohammad Khatami, então ministro da Cultura, o Fajr (fajr em farsi significa "brilho", "iluminação") é o canal de expressão que mais ousa contestar o regime. Por contestação entenda-se algo muito discreto, sugerido, metafórico. É nas entrelinhas que os cineastas falam.
Mas há os que ousam mais e atrevem-se a tocar em temas tabus para a república islâmica xiita, como aborto e prostituição. Esses são temas do longa de Jafar Panahi, "O Círculo", ganhador do último Festival de Veneza. Mesmo com o Leão de Ouro, o filme não obteve autorização para ser exibido no Irã. Pior, foi recusado até para participar do Fajr Festival.
Exibição
Outro cineasta premiado que enfrenta problemas com a censura é Hassan Yekta Panah. Panah, ganhador do Camera D'Or em Cannes no ano passado, é diretor de "Djomeh", exibido na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
"Djomeh" obteve autorização para entrar em cartaz, mas curiosamente foi recusado para a mostra competitiva do festival. Apenas será exibido na mostra paralela Festival dos Festivais, fazendo companhia a "Central do Brasil".
Yekta Panah, ex-assistente de Abbas Kiarostami e do próprio Jafar Panahi, também espera uma sala para colocar seu filme em cartaz. Co-produzido com a França, "Djomeh" sofre a mesma censura não declarada por que passa Panahi e Abbas Kiarostami.
Kiarostami ganhou diversos prêmios em festivais internacionais com o seu "O Vento nos Levará" e há dois anos aguarda uma sala de cinema para exibi-lo no Irã. Só em Teerã são mais de 70 salas, mas os distribuidores alegam que "não há onde passar".
Yekta Panah, 37, atribui esse fato à interferência política do Ministério da Cultura.
Segundo ele, apesar de as salas de cinema serem propriedade de grupos privados, o ministério, não oficialmente, determina o que é ou não apropriado para chegar ao público, numa audiência que alcança facilmente 3 milhões de espectadores para cada filme de sucesso. E são muitos no Irã, que ostenta uma produção anual média de 70 filmes.
Festival do Irã recusa filmes premiados
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A capital do Irã vive dias de euforia. Desde o dia 31 de janeiro, Teerã abriga dois grandes festivais internacionais: o Fajr Theatre, de teatro, e o Fajr Film Festival, de cinema. O de cinema, em sua 19ª edição, é o que mobiliza maior público. A estimativa é de que 20 mil pessoas assistam aos filmes dos diversos programas, que vão desde filmes em competição até homenagens a Robert De Niro e Roberto Rosselini.
O festival abriu com "Baran", de Majid Majidi, o mesmo diretor
de "Crianças no Paraíso", que concorreu ao Oscar de filme estrangeiro no ano passado. Este ano, o escolhido para representar o Irã no Oscar é "Tempo de Embebedar Cavalos", de Bahman Ghobadi (leia texto nesta página).
Fazem parte da programação do 19º Fajr Film Festival 400 filmes. Em competição, são 23 filmes iranianos e 19 estrangeiros (veja quadro ao lado).
As 25 obras iranianas na disputa pelo melhor filme formam filas intermináveis, cujos ingressos foram vendidos antecipadamente. Essa correria toda tem uma explicação. Afora o fato de que os iranianos em geral têm adoração por cinema, o público sabe que pode ser a única oportunidade de ver os filmes na íntegra. Depois, a chance de sofrerem cortes é tão certa quanto o fato de que Reza Pahlevi não é mais o rei.
Criado nos anos 80 pelo atual presidente Mohammad Khatami, então ministro da Cultura, o Fajr (fajr em farsi significa "brilho", "iluminação") é o canal de expressão que mais ousa contestar o regime. Por contestação entenda-se algo muito discreto, sugerido, metafórico. É nas entrelinhas que os cineastas falam.
Mas há os que ousam mais e atrevem-se a tocar em temas tabus para a república islâmica xiita, como aborto e prostituição. Esses são temas do longa de Jafar Panahi, "O Círculo", ganhador do último Festival de Veneza. Mesmo com o Leão de Ouro, o filme não obteve autorização para ser exibido no Irã. Pior, foi recusado até para participar do Fajr Festival.
Exibição
Outro cineasta premiado que enfrenta problemas com a censura é Hassan Yekta Panah. Panah, ganhador do Camera D'Or em Cannes no ano passado, é diretor de "Djomeh", exibido na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
"Djomeh" obteve autorização para entrar em cartaz, mas curiosamente foi recusado para a mostra competitiva do festival. Apenas será exibido na mostra paralela Festival dos Festivais, fazendo companhia a "Central do Brasil".
Yekta Panah, ex-assistente de Abbas Kiarostami e do próprio Jafar Panahi, também espera uma sala para colocar seu filme em cartaz. Co-produzido com a França, "Djomeh" sofre a mesma censura não declarada por que passa Panahi e Abbas Kiarostami.
Kiarostami ganhou diversos prêmios em festivais internacionais com o seu "O Vento nos Levará" e há dois anos aguarda uma sala de cinema para exibi-lo no Irã. Só em Teerã são mais de 70 salas, mas os distribuidores alegam que "não há onde passar".
Yekta Panah, 37, atribui esse fato à interferência política do Ministério da Cultura.
Segundo ele, apesar de as salas de cinema serem propriedade de grupos privados, o ministério, não oficialmente, determina o que é ou não apropriado para chegar ao público, numa audiência que alcança facilmente 3 milhões de espectadores para cada filme de sucesso. E são muitos no Irã, que ostenta uma produção anual média de 70 filmes.
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