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10/02/2001
-
04h50
da Folha de S.Paulo
Nei Lopes não é cantor, mas em "De Letra & Música" canta forte, com a voz da exclusão a que ele e seus pares ainda se vêem confinados pelo Brasil oficial.
É um purista que se dirá ao toque dos sambas doídos e inteiriços, dividindo o CD com Zé Renato, Toque de Prima, Alcione, Ivone Lara, João Bosco, Arlindo Cruz & Sombrinha, Dunga, Chico Buarque, Martinho da Vila, Fátima Guedes, Zeca Baleiro, Guinga, Emílio Santiago, Dudu Nobre, MPB-4, Joyce.
Talvez ele seja, mas o xis do problema aqui não é a pureza, mas a beleza do samba como ele já foi e como pode ainda ser, se é que há lugar para todo tipo de gente neste mundo.
Nei Lopes tem, com seu parceiro Wilson Moreira, larga ficha de serviços prestados à MPB -não ao samba em particular, ele está pleno de razão ao reclamar.
Foi catapultado principalmente por Clara Nunes, em preciosidades como "Coisa da Antiga" (77), "Candongueiro" (78) ou "Mulata do Balaio" (79). O paralelismo entre os dois pode ser notado: a gigantesca cantora nunca foi realmente reconhecida, porque sambista; talvez o mesmo aconteça com ele como compositor, fora do ambiente fechado do samba.
Mas, só por exemplo, ele compôs, com Wilson Moreira, o retumbante samba "Senhora Liberdade" (79), gravado primeiro por Zezé Motta, outra marginalizada da canção brasileira -está no CD.
Várias intérpretes portaram bandeiras dos princípios do samba de Nei -Beth Carvalho, Ivone Lara, Alcione-, e uma triste junção fez coincidirem a morte de Clara Nunes (em 83) e o advento da geração do dito pagode de fundo de quintal (praticado, segundo o próprio Nei, dentro dos apartamentos).
Hoje Nei Lopes é tido como nome dessa geração -e vários pagodes fundo de quintal estão no disco, para não desmentir-, também com o que de descompassado (a diluição poética daqueles letristas) ela represente.
Ele gosta do desígnio, mas em prol da memória tem de saber que antes, durante e depois daquilo Nei compunha altares da elegância como "Samba do Irajá" (com Chico Buarque no CD), "Gotas de Veneno", "Moqueca de Idalina", outras tantas, todas aí neste tímido CD. A galeria dos marginalizados do samba parece que não tem mais fim.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
De Letra & Música
Artista: Nei Lopes
Lançamento: Velas
Quanto: R$ 25, em média
Crítica: No disco, beleza fala mais alto que pureza
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Nei Lopes não é cantor, mas em "De Letra & Música" canta forte, com a voz da exclusão a que ele e seus pares ainda se vêem confinados pelo Brasil oficial.
É um purista que se dirá ao toque dos sambas doídos e inteiriços, dividindo o CD com Zé Renato, Toque de Prima, Alcione, Ivone Lara, João Bosco, Arlindo Cruz & Sombrinha, Dunga, Chico Buarque, Martinho da Vila, Fátima Guedes, Zeca Baleiro, Guinga, Emílio Santiago, Dudu Nobre, MPB-4, Joyce.
Talvez ele seja, mas o xis do problema aqui não é a pureza, mas a beleza do samba como ele já foi e como pode ainda ser, se é que há lugar para todo tipo de gente neste mundo.
Nei Lopes tem, com seu parceiro Wilson Moreira, larga ficha de serviços prestados à MPB -não ao samba em particular, ele está pleno de razão ao reclamar.
Foi catapultado principalmente por Clara Nunes, em preciosidades como "Coisa da Antiga" (77), "Candongueiro" (78) ou "Mulata do Balaio" (79). O paralelismo entre os dois pode ser notado: a gigantesca cantora nunca foi realmente reconhecida, porque sambista; talvez o mesmo aconteça com ele como compositor, fora do ambiente fechado do samba.
Mas, só por exemplo, ele compôs, com Wilson Moreira, o retumbante samba "Senhora Liberdade" (79), gravado primeiro por Zezé Motta, outra marginalizada da canção brasileira -está no CD.
Várias intérpretes portaram bandeiras dos princípios do samba de Nei -Beth Carvalho, Ivone Lara, Alcione-, e uma triste junção fez coincidirem a morte de Clara Nunes (em 83) e o advento da geração do dito pagode de fundo de quintal (praticado, segundo o próprio Nei, dentro dos apartamentos).
Hoje Nei Lopes é tido como nome dessa geração -e vários pagodes fundo de quintal estão no disco, para não desmentir-, também com o que de descompassado (a diluição poética daqueles letristas) ela represente.
Ele gosta do desígnio, mas em prol da memória tem de saber que antes, durante e depois daquilo Nei compunha altares da elegância como "Samba do Irajá" (com Chico Buarque no CD), "Gotas de Veneno", "Moqueca de Idalina", outras tantas, todas aí neste tímido CD. A galeria dos marginalizados do samba parece que não tem mais fim.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
De Letra & Música
Artista: Nei Lopes
Lançamento: Velas
Quanto: R$ 25, em média
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