15/02/2001 - 15h46

Juiz do Rio fiscaliza letra de funk cantado por menino de 7 anos

JANAÍNA NUNES
do Agora São Paulo

Jonathan Costa, 7 anos, o herdeiro da Furacão 2000, equipe de som que domina os bailes funks do Rio, está na mira da Justiça por causa de uma polêmica canção.

O garoto é o autor da música "Nova Geração" ("De segunda a sexta esporro na escola. Sábado e domingo soltar pipa e jogar bola. Dance potranca, dance com emoção ...").

O "potranca" da música foi o que deixou o Juizado de Menores do Rio indignado e resultou em uma ação pública, que está rolando desde o final de janeiro na 1ª Vara da Infância da Juventude do Rio. "Não é correto expressões como "potranca" ou "popozão" estarem em uma música cantada por uma criança. De uma forma ou de outra, insinua uma malícia no menor", diz o juiz Siro Darlan.

Segundo ele, a letra de Jonathan está sendo analisada por um promotor e, se ela for julgada imprópria, o garoto será proibido de cantá-la. "A criança tem de ter proteção integral contra qualquer coisa que viole seu estado físico ou mental. Se os pais forem negligentes, o poder público pode e deve interferir", diz o juiz.

Os pais do garoto, Rômulo e a vereadora Verônica Costa (PL), que é conhecida como "mãe loira" pelos funkeiros, se defendem dizendo que o filho não tem malícia.

"O Jonathan é uma criança inocente, mas essas palavras estão presentes no seu dia-a-dia. Tanto que ele veio com essa música pronta da escola", diz a mãe do garoto.

Mas a família de funkeiros está a todo vapor. Verônica contou que terá um quadro de funk no "Domingo Legal" a partir do próximo domingo e seu filho deve participar. "Vamos ensinar a dançar funk e mostrar um pouco dos bailes."

Jonathan canta desde os 5 anos e acompanha os pais nos programas de funk. Ele já fez seis músicas (uma delas traz a letra "eu já vou pegar um filé com popozão").

"Tiro as idéias para as músicas das coisas que acontecem no Rio. Adoro funk e sei o que quer dizer popozão. É uma mulher de bumbum grande", diz Jonathan, que ficará triste se for impedido de cantar. "Também vou ficar bravo."

Os pais da criança estão esperando por um processo na Justiça. "Grupos como Mamonas e os de axé cantam músicas com palavras muito mais maliciosas e nada acontece", diz Rômulo. "Uma coisa é um adulto cantando, outra é uma criança", rebate Darlan.