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14/06/2000 - 05h12

Biografia escancara os escândalos de Woody Allen

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AMIR LABAKI
da equipe de articulistas da Folha de S. Paulo

Woody Allen é o maior personagem já criado por Woody Allen, aliás, Allan Stewart Konigsberg, 64. Em "The Unruly Life of Woody Allen" (A Vida Indisciplinada de Woody Allen), Marion Meade ilumina a trajetória de um dos maiores cineastas e cômicos em atividade sem ceder à boataria e escapando da eficiente máquina publicitária por ele erigida.

Mas não se engane. Meade faz a primeira biografia de Allen como celebridade, não como cineasta. Seus filmes são vistos como reencenações da vida de Allen. Breves sinopses, resumos da reação crítica, números de bilheteria (máximo, "Annie Hall", 1977; mínimo, "Setembro", 1987) _e é tudo.

Se é o cinema de Allen que lhe interessa, seu livro é outro. Compre as entrevistas dele com o crítico sueco Stig Björkman. Agora, caso seja a vida dele seu foco de interesse, Meade a aborda com empenho e sem cerimônia.

É tentador, mas exagerado, escrever que Meade desconstrói Allen. O centro de sua releitura da vida de Allen é a escandalosa relação dele com Soon-Yi Previn.

Como a galáxia sabe, em 1992, a então mulher do cineasta, Mia Farrow, descobriu no apartamento de Allen fotos pornográficas da filha adotiva dela, Soon-Yi, então com 19 anos. Allen tinha 57.

Fazendo curta uma longa história, alguns anos e US$ 7 milhões para advogados depois, Allen casou-se com Soon-Yi, mas perdeu o direito de visita a seu filho natural com Mia, Satchel, 12 anos, e viu-se acusado de pedofilia, como pretenso molestador de outra filha adotiva de Farrow, Dylan.

O caso Allen/Mia/Soon-Yi e suas consequências ocupam o capítulo de abertura e quase um terço das 384 páginas do livro. Meade marca um tento ao frisar que o relacionamento com ninfetas não era um tabu na trajetória sentimental do diretor, como a radiante Mariel Hemingway sinaliza no insuperável "Manhattan" (1979).

Com a prática de biografias anteriores de Buster Keaton e Dorothy Parker, Meade sintetiza ao essencial as descobertas de sua ampla pesquisa sobre o meio século anterior de vida de Allen.

Infância numa família judia de classe média baixa do Brooklyn, pai distante, mãe rigorosa, aluno regular, universitário medíocre, precoce redator de piadas para jornais e shows de TV, sucesso como comediante "stand-up", textos de sucesso na prestigiada "The New Yorker", fácil migração para a comédia cinematográfica, primeiro como ator ("O Que É Que Há, Gatinha?", 1965) e logo diretor ("Um Assaltante Bem Trapalhão", 1969), guinada para um cinema de sentimentos mais sofisticado e impopular.

"The Unruly" rompe o mito da timidez atávica de Woody Allen, revelando a atividade social que sustentou a ascensão de sua carreira. Foi num segundo momento, quando o Allen cômico transformava-se no Allen autor, que surgiu o artista metódico e misantropo das últimas décadas.

Allen controlou como mestre a mídia até esta rebelar-se contra ele, trocando seu papel de "cineasta renomado" pelo de "celebridade da hora". Desde então, Allen tenta recuperar o status anterior. O livro de Meade representa outra batalha perdida. Houve outras, de resultado distinto.

Allen controlou a hagiografia escrita por Eric Lax (Companhia das Letras, 1991). Foi sob sua encomenda que nasceu "Woody Allen em Concerto" (1998), o documentário de Barbara Kopple sobre os bastidores da turnê européia de Woody Allen e Soon-Yi com uma banda de jazz.

Um posfácio à saga de Allen seria necessário. Desgastado com os insucessos comerciais que marcaram sua parceria de sete filmes com a produtora e amiga Jean Doumanian (produções médias de US$ 16 milhões, bilheterias nos EUA de US$ 10 mi, contas fechadas graças ao mercado europeu), Allen anunciou há dois meses um acordo com os estúdios DreamWorks, para quem, em 1998, tinha dublado o protagonista da animação "Formiguinhaz".

O contrato para três filmes deve-se à relação de Allen com o produtor Jeffrey Katzenberg, sócio da DreamWorks, que assumiu ainda o lançamento americano do último filme de Allen, "Small Time Crooks", uma comédia escrachada como em seus primeiros tempos.

A parceria começou bem: Allen finalmente voltou a emplacar por mais de uma semana um filme no ranking das dez maiores bilheterias nos EUA.

O novo acordo parece reconciliar o diretor de "Crimes e Pecados" (1989) com o "mainstream" hollywoodiano. Sai o discípulo de Bergman, volta o colega de Mel Brooks. Eis Allen mais uma vez reconstruindo Allen.

The Unruly Life of Woody Allen - A Biography
Autor: Marion Meade
Editora: Scribner
Quanto: US$ 26 (384 págs.)

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