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21/03/2001 - 04h10

Video Hits e Bidê ou Balde tentam sair do gueto gaúcho

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES, da Folha de S.Paulo

O Sul tenta ser Brasil de novo. De expressão musical quase sempre isolada, o Rio Grande do Sul envia ao reino do funk popozudo duas bandas de rock'n'roll: Video Hits e Bidê ou Balde.

"As coisas estão maravilhosas em Porto Alegre. Há tempos não aparecia uma cena com sustância", faz a autopropaganda Diego Medina, 26, do Video Hits.

"Quando começamos, gravamos uma demo com "Melissa". Em vez de gravarmos um CD meio ruim, com várias músicas, preferimos gravar uma só, que tocasse no rádio. Ficou em primeiro lugar aqui", comemora Carlinhos Carneiro, 22, do Bidê ou Balde.

Embora o Brasil pouco saiba, as bandas retrabalham uma tradição do rock gaúcho, que passa, nos 80, por DeFalla, Replicantes e Cascavelletes e chega, nos 90, aos dissidentes daquelas bandas Flu, Wander Wildner e Júpiter Maçã (ou Apple). Quem conhece?

"Registro Sonoro Oficial" e "Se Sexo É o Que Importa, Só o Rock É sobre Amor!" são os CDs de estréia. Entre várias semelhanças, as bandas são numerosas e alternam vocais masculinos e femininos.

A linhagem é de rock bem-humorado -engraçadinho, para alguns-, que no meio dos 90 foi atropelado pelo sucesso dos Mamonas Assassinas. O desafio é duplo: para ser brasileiros e ter sucesso, têm de contornar o isolamento (do Estado e do rock) e a síndrome de "parece Mamonas".

"Recebemos mal o rótulo de "engraçadinhos". A banda tem o fator histriônico, mas a gente é mais irônico que engraçadinho. O Video Hits tem mais esse negócio que nós, o Diego diz que é um palhacinho", rebate Carlinhos.

Fala Diego, justificando o rock humorado: "Tem de ser muito bom para
falar sério com consistência. Acho mais fácil apelar para o humor. Mas essa cena engraçadinha minguou com os Mamonas. Puxamos o freio de mão, para não parecermos tão palhaços".

Um nexo com o rock engraçadinho o Video Hits não pode desfazer: seu produtor é Rafael Ramos, filho do diretor artístico da Abril, ex-líder da banda Baba Cósmica e... descobridor dos Mamonas.

"Nossa demo foi feita por Thomas Dreher, que já gravou Júpiter Maçã e Wander Wildner. Na hora do disco, acho que a gravadora não acreditou nele, achou melhor colocar o Rafael. Aí vimos que ele ouvia muito o som que nós ouvíamos, que podia nascer uma linda união", conta Diego.

Sobre a distância entre Brasil e seu Sul, o discurso é peitar a conquista. "O Sul é uma ilha isolada, todo gaúcho tem um pouco de bairrismo. Mas agora estamos no esquemão, e eu adoraria virar uma banda nacional. Para aparecer, vamos ter de nos mudar, passar uns meses em São Paulo, mas vai me doer muito sair de Porto Alegre", diz Diego.

Não abre mão de suas especificidades sulistas: "Tenho orgulho do rock gaúcho, não digo dos Engenheiros do Hawaii e cia.. Temos isso de andar na contramão, colocar algo diferente. Queria dificultar mais a cada disco, não consigo me imaginar um medalhão do rock nacional".

Finaliza, exprimindo sua interpretação sobre a vida artística: "Amo Rio e São Paulo, mas para passar um tempo. Queria ficar em Porto Alegre. Se entrar no caldeirão, a gente acaba se vendendo".

Carlinhos também trafega pela ambiguidade: "Nós vamos passar um mês em São Paulo, mas é um período em que vamos passar sem fazer tanto show. Hoje aqui há um circuito organizado, sempre há trabalho e "pila" no bolso".

Continua: "O isolamento gaúcho é histórico, vem de Borges de Medeiros, do positivismo e de Getúlio Vargas. Nos incomoda, queremos fazer rock brasileiro, e não gaúcho. Não sei se para isso é necessário sair daqui, mas é necessário não ter mais casa".

Não só de semelhanças vivem os grupos. Ao citar suas matrizes sonoras, divergem de vez. Video Hits assume ir na cola de "jovem guarda e psicodelia". Diego, contra a corrente, critica a revalorização do rock dos 80.

"Nós nos influenciamos pelos anos 60, 70 e 90. Pelos 80, não. Acho a música dos 80 muito fake. Tinha muito cabecismo, teclados horríveis, maquiagem, moda. Ouvi muita porcaria quando era pequeno, a virada foi quando ouvi "Doolittle" (89), dos Pixies", diz, confessando também a influência do Weezer sobre o Video Hits.

O Bidê ou Balde vai pelo inverso: "A principal influência são os anos 80. Gostamos de Blitz e Ultraje a Rigor. É o bom humor sem ser idiota, com ironia. Mas o grunge, nos 90, foi quando começamos a gostar de música".

Os objetivos parecem divergir. Bidê ou Balde: "Propomos revalorizar o
glamour no rock. Nos vestimos especialmente para fazer um show para as pessoas. O grunge usou aquelas roupas de flanela como revolução estética. Ninguém entendeu e continua todo mundo malvestido até hoje".

Video Hits: "Gosto de melodia, de balançar a cabeça e cantar junto. O ideal era achar um meio-termo, se vender, mas não passar nada muito mastigado".
 

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