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28/03/2001
-
03h52
da Folha de S.Paulo
Foi o jornalista alemão Kai Hermann quem, ao lado do colega Horst Rieck, recolheu o depoimento de Christiane F. em 1978, quando ela tinha 15 anos. Antes de virar livro, a história de Christiane foi publicada em série pela revista "Stern", onde Hermann permanece escrevendo, hoje como
free-lancer.
Aos 63 anos, o jornalista publicou outra obras, nenhuma delas com tanto sucesso quanto "Wir Kinder vom Bahnhof Zoo" -"Nós, as Crianças da Estação do Zôo", nome original do livro, que para ele não perdeu o impacto após tanto tempo. "Acho que continua chocante", disse à Folha, por telefone, de Hamburgo.
Hermann conta que Christiane alternou, neste meio tempo, períodos longe e perto da heroína. Da última vez que a viu, tinha tido uma filha e estava "limpa".
Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Como o sr. encontrou Christiane?
Kai Hermann - É uma longa história. Estávamos fazendo uma reportagem sobre jovens que dormiam nas ruas. Eu não sabia muito sobre heroína nessa época, e crianças de rua eram um fenômeno novo na Alemanha.
Tivemos encontros com Christiane durante mais de um ano. Ela estava "limpa" de heroína e vivia com uma tia em um vilarejo. Nos encontrávamos durante quatro, cinco dias por semana, e ela nos contou sua história. No começo, ninguém queria publicar o livro.
Folha - E se tornou um sucesso.
Hermann - Foi o número um da lista de best sellers da Alemanha durante dois anos. O filme também foi um sucesso. E o livro continua vendendo.
Folha - Como é a situação hoje? Ainda há adolescentes vivendo como ela?
Hermann - Sim. Nos mesmos lugares de Berlim onde se passa a história ainda há problemas com drogas.
Folha - Na época em que o livro foi lançado, o Muro ainda estava de pé. Depois que caiu, isso melhorou?
Hermann - Eu acho que piorou.
Folha - O que aconteceu com Christiane?
Hermann - Ela esteve longe das drogas por cinco anos depois de o livro ser publicado e vivia com um músico alemão famoso. Depois desse tempo, ela se separou e começou a tomar heroína de novo. Esteve na cadeia por um ano -eu não vou contar o que aconteceu porque não tenho o direito de falar tudo sobre ela. Na cadeia, ela passou períodos usando e sem usar drogas. Agora tem uma filha de 3 anos e, da última vez que a vi, não tomou drogas.
Folha - Por que ela revelou sua identidade?
Hermann - Nos primeiros anos, só os amigos mais íntimos dela sabiam, mas, depois que voltou a usar heroína, ela foi à TV e coisas assim para ganhar dinheiro.
Folha - O sr. continua a ter contato com ela?
Hermann - Infelizmente não com regularidade. Há dois anos não tenho nem mesmo seu número de telefone. Faz um ano e meio que não a vejo.
Folha - O livro fez o sr. e seu parceiro ricos, ou Christiane?
Hermann - Não exatamente. Os direitos estão divididos entre nós três, então... Não.
Folha - Após todo esse tempo, e de histórias como a do filme "Trainspotting", por exemplo, o livro continua chocante?
Hermann - Sim, pelo menos na Alemanha. Acaba de ser feita aqui uma edição de bolso e vendeu quase 100 mil cópias, então deve continuar interessando aos jovens de hoje. Acho que continua chocante para a maioria deles.
Folha - Aqui no Brasil, a história de Christiane chocou, mas depois dela houve muitas outras de prostituição infantil, garotas de 9 anos grávidas, crianças fumando crack na rua...
Hermann - Eu acho que a grande razão do sucesso do livro não é o vício em drogas ou a prostituição, mas o fato de Christiane ser uma garota como qualquer outra, como qualquer jovem. As pessoas podem se identificar com ela. Acho que esse é o ponto principal.
Autor de "Christiane F." diz que livro continua "chocando" os leitores
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Foi o jornalista alemão Kai Hermann quem, ao lado do colega Horst Rieck, recolheu o depoimento de Christiane F. em 1978, quando ela tinha 15 anos. Antes de virar livro, a história de Christiane foi publicada em série pela revista "Stern", onde Hermann permanece escrevendo, hoje como
free-lancer.
Aos 63 anos, o jornalista publicou outra obras, nenhuma delas com tanto sucesso quanto "Wir Kinder vom Bahnhof Zoo" -"Nós, as Crianças da Estação do Zôo", nome original do livro, que para ele não perdeu o impacto após tanto tempo. "Acho que continua chocante", disse à Folha, por telefone, de Hamburgo.
Hermann conta que Christiane alternou, neste meio tempo, períodos longe e perto da heroína. Da última vez que a viu, tinha tido uma filha e estava "limpa".
Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Como o sr. encontrou Christiane?
Kai Hermann - É uma longa história. Estávamos fazendo uma reportagem sobre jovens que dormiam nas ruas. Eu não sabia muito sobre heroína nessa época, e crianças de rua eram um fenômeno novo na Alemanha.
Tivemos encontros com Christiane durante mais de um ano. Ela estava "limpa" de heroína e vivia com uma tia em um vilarejo. Nos encontrávamos durante quatro, cinco dias por semana, e ela nos contou sua história. No começo, ninguém queria publicar o livro.
Folha - E se tornou um sucesso.
Hermann - Foi o número um da lista de best sellers da Alemanha durante dois anos. O filme também foi um sucesso. E o livro continua vendendo.
Folha - Como é a situação hoje? Ainda há adolescentes vivendo como ela?
Hermann - Sim. Nos mesmos lugares de Berlim onde se passa a história ainda há problemas com drogas.
Folha - Na época em que o livro foi lançado, o Muro ainda estava de pé. Depois que caiu, isso melhorou?
Hermann - Eu acho que piorou.
Folha - O que aconteceu com Christiane?
Hermann - Ela esteve longe das drogas por cinco anos depois de o livro ser publicado e vivia com um músico alemão famoso. Depois desse tempo, ela se separou e começou a tomar heroína de novo. Esteve na cadeia por um ano -eu não vou contar o que aconteceu porque não tenho o direito de falar tudo sobre ela. Na cadeia, ela passou períodos usando e sem usar drogas. Agora tem uma filha de 3 anos e, da última vez que a vi, não tomou drogas.
Folha - Por que ela revelou sua identidade?
Hermann - Nos primeiros anos, só os amigos mais íntimos dela sabiam, mas, depois que voltou a usar heroína, ela foi à TV e coisas assim para ganhar dinheiro.
Folha - O sr. continua a ter contato com ela?
Hermann - Infelizmente não com regularidade. Há dois anos não tenho nem mesmo seu número de telefone. Faz um ano e meio que não a vejo.
Folha - O livro fez o sr. e seu parceiro ricos, ou Christiane?
Hermann - Não exatamente. Os direitos estão divididos entre nós três, então... Não.
Folha - Após todo esse tempo, e de histórias como a do filme "Trainspotting", por exemplo, o livro continua chocante?
Hermann - Sim, pelo menos na Alemanha. Acaba de ser feita aqui uma edição de bolso e vendeu quase 100 mil cópias, então deve continuar interessando aos jovens de hoje. Acho que continua chocante para a maioria deles.
Folha - Aqui no Brasil, a história de Christiane chocou, mas depois dela houve muitas outras de prostituição infantil, garotas de 9 anos grávidas, crianças fumando crack na rua...
Hermann - Eu acho que a grande razão do sucesso do livro não é o vício em drogas ou a prostituição, mas o fato de Christiane ser uma garota como qualquer outra, como qualquer jovem. As pessoas podem se identificar com ela. Acho que esse é o ponto principal.
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