Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
21/05/2001 - 20h36

Mara Carvalho fala de vida privada em sua estréia como autora

Publicidade

CARLA NASCIMENTO
da Folha Online

"Vida Privada" marca a estréia da atriz Mara Carvalho como autora de teatro. A peça, que entrou em cartaz no ano passdo e já passou por várias cidades, chega a São Paulo na próxima quinta-feira, onde ficará em cartaz até o dia 1º de julho, no Teatro Renaissance.

A peça, dirigida por Roberto Lage, mostra a relação cotidiana de um casal sem filhos e aborda, com humor, as crises, conflitos, traições e problemas rotineiros.

Mara, que é também a protagonista, interpreta a artista plástica Gilda, casada com Gustavo, um empresário da área de comunicação, vivido pelo ator Juan Alba.

Ex-mulher do ator Antônio Fagundes, com quem ficou casada durante 13 anos, "Vida Privada" é a primeira produção de Mara Carvalho. Se isso é uma forma de se afirmar como atriz longe da perceria com Fagundes, ela responde:."Nunca me senti à sombra do Fagundes". Veja alguns trechos da entrevista que ela concedeu à Folha Online.

Folha Online - "Vida Privada" fala dos conflitos de um casal. O final do casamento de 13 anos com o Antônio Fagundes foi o que a motivou a escrever a peça?
Mara Carvalho-
Não, não tem nada a ver com isso. Eu escrevi o texto bem antes de a gente pensar em qualquer hipótese de separação. Não é uma coisa que tenha a ver com isso.

Folha Online - Mas o texto traz experiências suas...
Mara -
Tanto o ator quanto o autor têm um acúmulo de informações que eles vão pegando cotidianamente. Eles têm uma busca desenfreada de acúmulo e de observação. Eu acho que você tem que ser muito observador porque você constrói às vezes um personagem a partir de um gesto ou de uma mania. Eu acho que o "Vida Privada" nasceu assim, porque ele é um espetáculo que fala muito do cotidiano, fala da relação homem-mulher e discute quase todos os ângulos das relações e quase todas as diferenças. A peça é uma junção de detalhes do cotidiano. Mostra a minha relação com a minha mãe, com meu irmão, com a amiga da minha mãe... Tanto que todas as pessoas se identificam facilmente com o espetáculo. Eu acho que aí é que está a graça dele, porque você se vê em muitos momentos.

Folha - As pessoas riem de si mesmas, então?
Mara
O que eu ouço de sugestões... As pessoas chegam e falam 'você tinha que fazer isso'. Elas se identificam tanto que começam a querer colocar as coisas delas ali.

Folha - Você já chegou a incorporar algumas dessas sugestões?
Mara -
É muito difícil. Eu já recebi muitas sugestões engraçadas. Em Vitória (onde a peça estava em cartaz antes de vir para São Paulo), recebemos uma sugestão... Um cara contou que sempre acorda a mulher dele de madrugada pra ela fazer misto-quente pra ele.

Cada pessoa vem com sua necessidade. Fica muito difícil colocar depois do texto já pronto e acabado. O teatro em si é uma obra fechada. Nesse aspecto é mais difícil do que, por exemplo, escrever uma novela. O teatro tem um ritmo, uma métrica. Às vezes a fala com uma palavra a mais fica meio capenga. Pode ser que uma hora eu acrescente, mas eu acho que ainda não vale a pena.

Folha - O processo de construção do texto teve contribuições?
Mara-
Quando eu escrevi eu dei pro Fagundes ler. Ele foi a primeira pessoa que leu, assim como tudo que eu fiz até agora e espero ainda que a gente continue assim, com essa proximidade.

Folha - Que tipo de sugestão ele fez?
Mara-
Ele sugeriu que eu desenvolvesse mais alguns aspectos, fosse mais fundo naquilo que eu já tinha apontado. Por exemplo, o aspecto da separação, do filho, ou da mãe. Ele falou pra eu não ter medo de desenvolver as coisas que eu tinha criado e um ou outro detalhe que eu podia aprofundar e não tinha aprofundado. A contribuição tem que vir de uma pessoa na qual você possa confiar, e ele é uma pessoa na qual eu sempre confiei muito. O conhecimento que ele tem de dramaturgia, como ator, dá a ele grandiosidade e credibilidade.

Folha Online - Você fala que o espetáculo é uma espécie de catarse das relações humanas. O que você exorciza na peça? Qual a sua catarse no espetáculo?
Mara-
O personagem passa pela emoção dentro da relação. Então, em alguns momentos não tem como você não colocar pra fora aspectos seus também. Embora seja uma coisa completamente diferente da minha experiência pessoal, tem coisas lá que são muito pessoais. Não que eu faça ou a pessoa com quem eu estou faça, mas são coisas que te remetem às tuas especificidades do cotidiano.

O fato de eu colocar coisas minhas não impede que eu me distancie. É o trabalho do ator: você se transforma quando entra em cena e vira uma terceira pessoa. Enquanto autora isso também acontece. Claro, tem muitas coisas minhas, tem os meus gritos lá, mas essa distância se estabelece muito rapidamente quando se tem um conhecimento daquilo que você está fazendo. Eu acho que o que mais tem meu mesmo lá é o meu humor, e a minha contribuição maior no trabalho é como atriz, porque eu estou me expondo.

Folha - Por que só agora encenar um texto escrito em 1992?
Mara-
Tem uma série de coisas. Eu estava envolvida com novela, com outras atividades, estava fazendo teatro também e acabei deixando pra depois. No ano passado eu estava ansiosa e querendo produzir e aí comecei a ensaiar "Vida Privada". Eu estava vivendo um momento profissional que me fez fazer essa busca pelas minhas necessidades profissionais.

Folha - Quando você escreveu a peça você pensou em encená-la com o Fagundes?
Mara-
Na época era um desafio muito grande. Além de ser um texto meu, atuar com o Fagundes... Eu não pensei nisso não. Eu tinha feito pra atores experientes. Pra ele porque tudo que eu escrevi até hoje eu sempre escrevi pensando nele. Em todos os personagens eu me baseei muito nele, porque ele é um ator sem limite e consegue fazer bem qualquer papel, na minha opinião. Eu vejo ele assim. Eu acho que eu e o Brasil vemos assim.

Folha - Ser vista sempre ligada ao Fagundes incomoda agora que vocês estão separados?
Mara-
Nunca me senti à sombra do Fagundes. O fato de eu estar sempre ligada a ele fez com que eu, inevitavelmente, fizesse muitos dos projetos dele também. Não porque eu era mulher dele, mas porque estava próxima a ele. Não tinha porque não aceitar se eu gostava do projeto que estava sendo encaminhado.

Folha - Você tem algum outro texto para teatro?
Mara -
Eu estou escrevendo uma peça falando da minha relação com meu pai, que morreu há dois anos. O texto ainda não está pronto. Eu comecei a escrever em um momento de muito sofrimento. Eu tenho que me distanciar desse meu processo pessoal de sofrimento até para poder ler o espetáculo com uma visão mais ampla, senão ele fica muito específico, e nem sempre a minha experiência interessa aos outros.

Folha - Nesse texto você pensa no Fagundes para atuar?
Mara -
Penso nele, sim. Você sempre pensa em alguém. É legal você ter um parâmetro bom, de uma pessoa que consiga explorar sem limite qualquer personagem.

Folha Online - E as novelas, há projetos?
Mara -
Novela eu quero fazer sempre. Ela me dá um outro "time", um outro enfoque no meu trabalho e me ajuda muito no teatro também. Uma maneira inteligente de viver é trazer uma experiência de uma coisa pra outra.

Folha Online - Você se define como uma otimista. No final da peça o casal supera as diferenças e dá uma lição de amor...
Mara -
Eu acho que o casamento pode tanto ser pra sempre como não. Tem uma coisa que eu comecei a questionar. O mundo mudou totalmente, só que a gente deixou o casamento como uma ordem estabelecida. O casamento pode ser muito bom e não durar cem anos. A gente tem que estabelecer novas regras para a união.

Folha Online - E a experiência do seu casamento?
Mara -
Eu fui uma mulher muito feliz. A relação foi maravilhosa, mas tem coisas que se modificam nas nossas vidas, que são a própria mudança do mundo; cultural mesmo. O casamento ficou dentro de uma coisa preconceituosa. Eu acredito sim na relação, acho que o casamento é uma coisa muito legal. O ser humano não se convence nunca de que ele é sozinho e tem essa necessidade de se agrupar, e eu acho que isso é muito positivo.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página