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25/05/2001 - 05h02

Estréia o filme mexicano "Amores Brutos", urbano e violento

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SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo

Três cães. Um participa de brigas sangrentas por dinheiro, outro é tratado como criança mimada e o terceiro é um vira-lata que faz companhia a um mendigo.

Três amores. Um adolescente apaixonado pela cunhada, um homem de meia-idade por uma modelo deslumbrante, e um pai, pela filha que não vê há anos.

Em um acidente de carro na caótica e barulhenta Cidade do México, cães e amores colidem numa cena trágica. Nasce "Amores Brutos" (título mal-ajambrado em português para o original "Amores Perros"), longa-metragem que marca a estréia no cinema do publicitário mexicano Alejandro González Iñárritu, 37.

O filme, que chega hoje às telas brasileiras, é um dos campeões de premiações internacionais do último ano. Entre os louros que amealhou estão a indicação a melhor filme estrangeiro no Oscar, os prêmios em Cannes, Chicago, Los Angeles e SP, entre outros.

"Amores Brutos" conta três pequenas histórias de amor, passadas na violenta capital mexicana. Em cada uma, uma paixão obsessiva e um cão. Apesar das cenas cheias de sangue, Iñárritu diz que não gosta que seu cinema seja comparado ao do norte-americano Quentin Tarantino.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista que o diretor concedeu à Folha, da Cidade do México, onde e vive e observa a vida da cidade pela janela: "Tudo o que está no filme está aqui na minha frente, todos os dias".

Folha - Por que cachorros?
Alejandro González Iñárritu -
A natureza do homem e a do cachorro são muito próximas. Podemos ser fiéis, nobres, humildes e também muito leais. Ao mesmo tempo, uma linha muito tênue nos separa da possibilidade de matar. É também verdade que todo cachorro se parece com seu dono e podemos reconhecer um ser humano ao observar o modo como trata seu cão. Na Cidade do México, há 4 milhões de cães. Acredito que tudo isso teve alguma importância em minha vida.

Folha - As três histórias falam de obsessões, mas há um romantismo quase ingênuo. Concorda com isso?
Iñárritu -
Sim. "Amores Brutos" não é nada mais que a reunião de histórias de amor. A de um rapaz de 20 anos, a de um homem de 45 e a de um homem de 65. Cada um de diferentes camadas sociais. Na primeira, temos o amor passional, na segunda, o carnal, baseado em uma fantasia ou ilusão, e na terceira, o utópico e filial. Os três são obsessivos e acho que são, na verdade, mais do que amor. O amor é o sentimento mais subversivo de todos, pode nos dar a razão da existência, mas, ao deformar-se, pode nos matar. Que atire a primeira pedra quem não tenha vivido, um dia, um amor de cão.

Folha - Você trata da violência urbana de um ponto de vista mexicano, mas parece ter influências do cinema de Quentin Tarantino. "Amores Brutos" nasce de uma mistura de referências?
Iñárritu -
Diferentemente do que a crítica tem dito, não acredito que "Amores Brutos" tenha a ver com o cinema de Quentin Tarantino. Tarantino utiliza a violência como um instrumento para entreter as pessoas, fazê-las rir. Vivo em uma cidade violenta, sou vítima disso e não vejo nenhuma graça na violência. Não conheci a violência pelas histórias em quadrinhos ou pelo cinema.

Em "Amores Brutos" tratei de desbanalizar a violência e tirar dela a frivolidade e a superficialidade, que é a forma como a utilizam, em grande parte, os filmes norte-americanos. Tratei de explorar a violência de uma forma mais complexa e com as dolorosas consequências que ela traz consigo.

Folha - Como seria esse filme se não fosse rodado no México?
Iñárritu -
As histórias que são contadas em "Amores Brutos" poderiam acontecer em qualquer grande cidade do mundo. O amor, a traição, a vingança, a infidelidade, a deslealdade, a vulnerabilidade, a morte, a redenção, a esperança, a dor e a perda são temas que não têm a ver com a nacionalidade, e sim com a essência do nosso espírito. Acho que o cinema deve ser visto e ser feito com o coração, não com a cabeça. Deve emocionar e criar catarse. Deve gerar em quem o assiste muitas perguntas.

Folha - O que acha da recepção internacional que recebeu o filme?
Iñárritu -
Foi um filme que fiz, mais que com a cabeça ou o coração, com minhas vísceras. Ser recompensado por algo que fiz como um ato de sobrevivência é, mais que tudo, uma surpresa.

Leia a nossa opinião sobre o filme na Crítica Online
 

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