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26/05/2001 - 04h55

Literatura: Carlos Fuentes constrói ponte sobre o Atlântico

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da Folha de S.Paulo

Os 500 anos da chegada de Colombo às Américas, comemorados em 1992, foram o pretexto encontrado pelo mexicano Carlos Fuentes para lançar-se em busca daquilo que ainda liga a cultura latino-americana à Espanha.

O resultado da escavação é o livro "O Espelho Enterrado", que chega traduzido para o português do Brasil em julho, pela Rocco, com nove anos de atraso em relação a seu lançamento original.

O livro, ilustrado com mais de 150 imagens, foi imaginado inicialmente como complemento para a série de TV homônima, exibida em cinco capítulos pelo canal Discovery.

Acabou se transformando em um grande ensaio, em que Fuentes investiga desde as raízes das instituições políticas latino-americanas -ao traçar o embate entre democracia e autoritarismo na Espanha- até a mistura étnica da qual originou-se o espanhol que colonizou a América.

Fuentes acaba de lançar na Europa e no México seu mais novo romance, "El Instinto de Inez", que tem como pano de fundo uma ópera de Berlioz. O livro entrelaça duas histórias de amor, por trás da paixão de um diretor de orquestra por uma soprano, e se passa na Londres bombardeada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial. "El Instinto de Inez" ainda não tem data de lançamento prevista no Brasil.

Leia os principais trechos da entrevista que Carlos Fuentes deu à Folha, por telefone, de Londres.
(SYLVIA COLOMBO)

Folha - "O Espelho Enterrado" é uma história da América espanhola para os latino-americanos ou uma obra didática para os europeus?
Carlos Fuentes -
Quis escrever, pela primeira vez, uma história cultural e política compartilhada entre Espanha e América hispânica. Geralmente se apresenta uma história dividida pelo Atlântico, como se o oceano fosse um abismo. Não é. Considero o Atlântico uma ponte. Na época do franquismo e do pós-franquismo, divulgou-se a idéia de que nossa cultura era única. A idéia de que existiria uma só "hispanidade" era própria do pensamento conservador.

Folha - E como você entende a "hispanidade"?
Fuentes -
É um evento cultural que carrega explicações sobre o que será o mundo neste século 21. Um mundo em que os países latinos, particularmente os de língua espanhola, vão ter grande importância. O espanhol já é a segunda língua mais falada no Ocidente depois do inglês. É um inegável fato histórico de essencial importância que cada vez mais pessoas falem espanhol nos Estados Unidos, que está se tornando um país bilíngue. Em "O Espelho Enterrado", quis fazer um histórico dessa atualidade e desse futuro.

Folha - E a América de língua portuguesa não é parte desse futuro?
Fuentes -
Infelizmente, não tive tempo suficiente para tratar de Portugal e Brasil. O Brasil é um continente em si mesmo, o máximo que pude fazer foi falar de Aleijadinho. O Brasil é um caso muito especial dentro da América Latina. Não é uma típica república sul-americana. Tem a particularidade de ter obtido sua independência pelas mãos do colonizador e de ter sido um império. Além disso, havia limitação de recursos para viagens.

Folha - Por que você diz que o que acontece na América Latina é um termômetro do século 21?
Fuentes -
Desde a abertura democrática, as minorias ganharam espaço para se fazerem ouvidas. O caso de Chiapas é significativo, pois chegou ao Congresso mexicano, onde, teoricamente, leis são decididas democraticamente. Tomamos consciência de que somos nações multiculturais, e não só descendentes de europeus.

Acho que se está cultivando de forma mais intensa uma visão de multiculturalismo, e essa é a profecia do que vai ser o século 21, um século mestiço e de migrações.

Folha - Como é seu novo livro, que está sendo lançado na Europa?
Fuentes -
É sobre amor, música e história. "El Instinto de Inez" é um romance que tem como pano de fundo a ópera. Os protagonistas são um diretor de orquestra e uma cantora mexicana. É a história de uma mulher que se apaixona por alguém de um outro tempo e quer buscá-lo a todo custo.

Começa quando o diretor da orquestra se prepara para dirigir uma ópera, aos 93 anos, pela última vez. As suas recordações surgem e ele evoca seu passado pessoal e a história que viu acontecer.

Folha - Por que você passa seis meses por ano em Londres?
Fuentes -
Vivo aqui porque a comida é ruim e as pessoas são sem graça, vão para a cama muito cedo. Não há distração, é excelente para trabalhar. No México sou feliz, há festas, há boas conversas, música e cores, mas não escrevo.

O ESPELHO ENTERRADO
("The Buried Mirror", Nova York, 1992)
De: Carlos Fuentes
Editora: Rocco (tel. 0/xx/21/ 507-2000, www.rocco.com.br). Tradução: Mauro Gama
Primeira edição. 374 págs
Preço ainda não definido
 

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