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01/06/2001 - 04h19

É preciso olhar "Domésticas" sem preconceito

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FERNANDO MEIRELLES
NANDO OLIVAL

especial para a Folha

Em sua crítica ao filme "Domésticas", Inácio Araujo diz que as domésticas são ignorantes, desastradas e burras. Está na cara que ele não assistiu ao filme ou assistiu com sua idéia já preconcebida.

Ao ouvir a primeira risada da platéia, já entendeu tudo e sapecou aquele monte de preconceito. Muita gente ri, muita gente se emociona. Para alguns, é um filme triste.

Suzana Amaral em sua avaliação para o Guia da Folha escreve: "Drama ou comédia?". Era exatamente o que queríamos. O espectador primeiro ri, depois se pergunta do que está rindo.

Brasileiras domésticas
As domésticas do filme não são burras. São românticas, religiosas, pragmáticas inconformadas ou vêm de um outro Brasil, lá do fundão, tentando entender os códigos da cidade. São apenas cinco brasileiras querendo ser felizes dentro de suas possibilidades, no Brasil que existe.

O crítico também afirma não ser possível fazer um filme sobre escravos sem a presença de senhores e traficantes. Talvez ele tenha uma dimensão muito pequena das possibilidades narrativas do cinema.

É, sim, possível fazer um filme sobre escravos sem senhores, sem traficantes, sem navios negreiros. É mesmo possível fazê-lo sem que seja necessário mostrar um único escravo.

Não mostrar não é omitir: quando a Creo, uma das personagens do filme, atravessa uma cozinha de 130 m2 de um apartamento de luxo para ir dormir em seu quartinho de 3 m2, ela pode falar de striptease ou de futebol que qualquer espectador conseguirá tirar suas conclusões.

Esse jogo se repete durante todo o filme, mas se o autor admitisse isso ele perderia seu achado: "a inocência do mal". Preferiu inocentemente ignorar as imagens e ficar com o achado.

Nas mais de 200 entrevistas que foram feitas por Renata Melo com domésticas, de onde foram extraídos os principais textos do filme, os patrões são raramente citados.

Os conflitos centrais de suas vidas continuam sendo a busca do afeto, as questões morais e religiosas, a educação dos filhos. É sobre isso o filme. Questões comuns a toda a humanidade.

Circuito aberto
O autor da crítica ainda lança a tese de que "Domésticas" é um filme feito para o circuito Jardins/ Morumbi/Higienópolis. Bastava abrir o jornal para perceber que, desde a sua estréia, o filme está em exibição em apenas duas salas deste circuito.

As outras cópias estão em salas da Vila Prudente, Santo André, Interlagos, Aricanduva, Tatuapé, São Bernardo. Nenhuma cópia nos Jardins. Inocência do mal?

Nesta semana atingimos 42 mil ingressos só em São Paulo. Só 20% desse total vem de Higienópolis e do Morumbi.

No lançamento do filme, não houve festas. Não houve pré-estréias. Preferimos distribuir mais de 10 mil ingressos em sindicatos, escolas públicas, ONGs.

Toda a estratégia de lançamento esteve voltada para levar o filme àquelas pessoas que não têm recursos para comprar ingresso ou bem não tem o hábito de ir ao cinema.

O filme foi cedido para o projeto BR Cinema em Movimento e está sendo exibido em várias comunidades pelo Brasil. Por que falar tão mal e com tanto rancor de "Domésticas"?

Provavelmente porque o filme tem feito sucesso. Para alguns críticos, o bom cinema nacional é aquele do qual o público não gosta. Porque, se gostar, é filme de mercado. E isso é algo que ele não pode aceitar.

É preciso entender que o cinema nacional passa por um período de renovação, mas, para que essa renovação seja completa, é preciso que a velha crítica preconceituosa olhe os novos filmes com o mesmo frescor com que os novos filmes, dos novos e velhos cineastas, estão sendo feitos.

  • Fernando Meirelles e Nando Olival são os diretores do longa-metragem "Domésticas"

    DOMÉSTICAS - O FILME
    Brasil, 2001.
    Com: Cláudia Missura, Graziela Moretto e Lena Roque. 90 min. Onde:,/b> em cartaz no Metrô Tatuapé 6 (r. Domingos Agostim, s/nº, SP, tel. 6192-9232)
    Quando: às 11h30, 15h40, 20h e 24h
    Quanto: de R$ 5 a R$ 10
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