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28/06/2001
-
04h20
da Folha de S.Paulo, em Los Angeles
Foi em 1985 que Stanley Kubrick falou a Steven Spielberg sobre o projeto de sua vida: um filme sobre inteligência artificial. "Era a primeira vez que ele se abria comigo", lembra Spielberg. "Nosso relacionamento, até então, era unilateral: eu falava sobre meus projetos, e ele só ouvia".
Foi nessa tarde de verão, há 16 anos, por telefone -Spielberg em Nova York e Kubrick em sua casa no interior da Inglaterra-, que os dois começaram o projeto "Inteligência Artificial".
Kubrick, que pretendia fazer o filme sozinho, só queria a opinião de Spielberg sobre a idéia, mas mudou de idéia quando "Jurassic Park" chegou às telas. "Foi aí que ele percebeu que Spielberg seria o único cineasta capaz de criar com perfeição o mundo de "Inteligência Artificial". E imediatamente o procurou", disse Jan Harlan, assistente de Kubrick por 30 anos.
De novo por telefone (apesar de se conhecerem havia 20 anos, os dois se encontraram poucas vezes, graças ao incontrolável medo de avião de Kubrick), o diretor de "Laranja Mecânica" disse: "Preciso falar com você, mas tem de ser pessoalmente". "Dois dias depois, eu estava na cozinha da casa dele, ouvindo que ele queria que eu dirigisse "Inteligência Artificial'", lembra Spielberg. "Kubrick tinha o primeiro e o terceiro atos esquematizados, mas não sabia o que fazer com o segundo e precisava da sensibilidade de Spielberg para ajudá-lo", disse Harlan.
Chocado, o criador de E.T. tentou escapar dizendo que não poderia assinar o projeto da vida dele, mas Kubrick estava determinado e explicou que seria uma obra de ambos. ""Uma produção de Stanley Kubrick para um filme de Steven Spielberg" foram as exatas palavras dele", lembra Harlan.
"Nessa noite, ele mostrou a Spielberg mais de 90 páginas de anotações e todo o storyboard que já havia sido feito, coisas que estavam sendo guardadas sob sigilo absoluto", continuou. "Ele me fez jurar que jamais comentaria isso com outro ser humano e me obrigou a instalar um fax em meu quarto, que seria usado para trocarmos informações secretas sobre o projeto", contou Steven Spielberg.
Bonnie Curtis, assistente de Spielberg, conta que, no escritório, sabia-se apenas que o diretor estava metido em algo secreto. "Ele chegava para trabalhar com cara de quem não havia dormido e, quando perguntávamos por que, dizia apenas que a culpa era de um aparelho de fax que estava em seu quarto".
A máquina foi utilizada por meses até que Kate Capshaw, mulher de Spielberg, cansada de acordar às três da manhã com as alucinações de Kubrick sobre como seria o mundo em um futuro distante, deu um basta e colocou o aparelho na sala. Spielberg nunca contou isso a Kubrick.
Ocupado com as filmagens de "O Resgate do Soldado Ryan", Spielberg pediu para ser afastado do projeto. Kubrick, convencido de que "Inteligência Artificial" poderia esperar, foi fazer "De Olhos Bem Abertos". "Quando ele morreu, sabíamos que a única chance de "Inteligência Artificial" chegar às telas chamava-se Steven Spielberg", afirmou Harlan. O resultado está nas telas.
(MILLY LACOMBE)
Comunicação do projeto de "Inteligência Artificial" era feita por fax
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Foi em 1985 que Stanley Kubrick falou a Steven Spielberg sobre o projeto de sua vida: um filme sobre inteligência artificial. "Era a primeira vez que ele se abria comigo", lembra Spielberg. "Nosso relacionamento, até então, era unilateral: eu falava sobre meus projetos, e ele só ouvia".
Foi nessa tarde de verão, há 16 anos, por telefone -Spielberg em Nova York e Kubrick em sua casa no interior da Inglaterra-, que os dois começaram o projeto "Inteligência Artificial".
Kubrick, que pretendia fazer o filme sozinho, só queria a opinião de Spielberg sobre a idéia, mas mudou de idéia quando "Jurassic Park" chegou às telas. "Foi aí que ele percebeu que Spielberg seria o único cineasta capaz de criar com perfeição o mundo de "Inteligência Artificial". E imediatamente o procurou", disse Jan Harlan, assistente de Kubrick por 30 anos.
De novo por telefone (apesar de se conhecerem havia 20 anos, os dois se encontraram poucas vezes, graças ao incontrolável medo de avião de Kubrick), o diretor de "Laranja Mecânica" disse: "Preciso falar com você, mas tem de ser pessoalmente". "Dois dias depois, eu estava na cozinha da casa dele, ouvindo que ele queria que eu dirigisse "Inteligência Artificial'", lembra Spielberg. "Kubrick tinha o primeiro e o terceiro atos esquematizados, mas não sabia o que fazer com o segundo e precisava da sensibilidade de Spielberg para ajudá-lo", disse Harlan.
Chocado, o criador de E.T. tentou escapar dizendo que não poderia assinar o projeto da vida dele, mas Kubrick estava determinado e explicou que seria uma obra de ambos. ""Uma produção de Stanley Kubrick para um filme de Steven Spielberg" foram as exatas palavras dele", lembra Harlan.
"Nessa noite, ele mostrou a Spielberg mais de 90 páginas de anotações e todo o storyboard que já havia sido feito, coisas que estavam sendo guardadas sob sigilo absoluto", continuou. "Ele me fez jurar que jamais comentaria isso com outro ser humano e me obrigou a instalar um fax em meu quarto, que seria usado para trocarmos informações secretas sobre o projeto", contou Steven Spielberg.
Bonnie Curtis, assistente de Spielberg, conta que, no escritório, sabia-se apenas que o diretor estava metido em algo secreto. "Ele chegava para trabalhar com cara de quem não havia dormido e, quando perguntávamos por que, dizia apenas que a culpa era de um aparelho de fax que estava em seu quarto".
A máquina foi utilizada por meses até que Kate Capshaw, mulher de Spielberg, cansada de acordar às três da manhã com as alucinações de Kubrick sobre como seria o mundo em um futuro distante, deu um basta e colocou o aparelho na sala. Spielberg nunca contou isso a Kubrick.
Ocupado com as filmagens de "O Resgate do Soldado Ryan", Spielberg pediu para ser afastado do projeto. Kubrick, convencido de que "Inteligência Artificial" poderia esperar, foi fazer "De Olhos Bem Abertos". "Quando ele morreu, sabíamos que a única chance de "Inteligência Artificial" chegar às telas chamava-se Steven Spielberg", afirmou Harlan. O resultado está nas telas.
(MILLY LACOMBE)
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