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07/08/2001 - 05h32

Festival Internacional de Linguagem Eletrônica começa hoje no MIS

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RODRIGO MOURA
da Folha de S. Paulo

Com exceção de algumas projeções em telões e um ou outro trabalho de apelo um pouco mais espacial, o espectador que visitar a partir de hoje o File (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica), no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, vai ficar procurando os 190 trabalhos que a organização anuncia como atrações.

E só vai encontrá-los nas telinhas de 20 microcomputadores espalhados pelo museu, que abrigam sobre o mesmo suporte as quase duas centenas de trabalhos. É a tal da morte da aura da obra de arte -ou a lógica do clone-, que a arte eletrônica vem anunciando desde meados da década passada e da qual o File se propõe ser porta-voz no Brasil.

Não que tudo o que é exibido no File seja "arte". Aliás, uma das certezas que os artistas de "linguagem digital" pretendem implodir são aquelas que caracterizam o dispositivo estético.

"O que é mais interessante nesse campo é que essas categorias de arte e ciência, estética e técnica, estão totalmente contaminadas. A idéia de arte do século 19, como um sistema que poderia ser totalizado, vai para o brejo", decreta o organizador do festival, Ricardo Barreto, ele próprio artista digital presente ao File com trabalhos em animação computadorizada.

"Surge um paradigma técnico que é um paradigma cultural e está mexendo com a cabeça das pessoas", completa a webartista Giselle Beiguelman, jurada do festival e que também vai expor trabalhos seus no evento.
Mas, em termos de reflexão, a marca forte do File é a ubiquidade dos trabalhos. Ou seja, tudo bem se você quiser ver os trabalhos no MIS, onde as máquinas vão todas ter um padrão técnico nivelado que permite uma fruição, digamos, mais completa e uma visão do conjunto do festival.

Mas todas as obras que participam podem ser vistas de casa, de hoje até o fechamento do festival, no site www.file.org.br -contanto que você tenha uma máquina razoável.

"Uma especificidade da arte digital em relação às outras artes é que ela permite os originais de segunda geração. Quando você reproduz o vídeo ele tem uma perda, o mesmo para foto e cinema, que têm matrizes das quais se fazem cópias. Na mídia digital, não. Ela permite uma lógica do clone: é a mesma carga de informação na exposição ou em casa", filosofa Beiguelman.

"Arte digital não tem onde você encaixar o conceito de aura. Não quer dizer que a experiência é a mesma. É um idêntico diferente", diz, sobre as condições de fruição, como a máquina utilizada, que podem determinar a especificidade da experiência de cada espectador.

Numa verdadeira sopa de letrinhas de formatos, o File aposta em pelo menos duas tendências entre a produção de arte eletrônica: no campo mais estético, o cinema interativo aparece com força em trabalhos que permitem que o espectador altere a montagem e a decupagem dos filmes, numa espécie de "você decide" cibernético: trabalhos como os do grupo Oncotypie, por exemplo, que está com o filme "The Intruder".

No campo da tecnologia pura -as chamadas "experiências" que pululam-, o japonês Ishihama Yoshiaki comparece com trabalhos de vida artificial, em que o espectador interage com elementos "vivos" em tempo real. Você pode, por exemplo, dar uma migalha a um grupo de formigas, que nunca vai encontrá-la do mesmo modo. "Não é animação. É uma programação muito sofisticada", diz Barreto.

Outra tendência inferida entre as centenas de inscrições recebidas é a volta do CD-ROM como suporte, que vinha sendo tido como superado com a chegada do DVD. "Ele permite ver mais facilmente trabalhos que têm acesso mais difícil pela rede por questões de conexão. Apesar de todos os avanços na internet, alguns problemas físicos ainda persistem. À medida que eles são resolvidos, novas possibilidades expressivas vão surgindo", diz Beiguelman.

Outro campo de atrito que os organizadores do festival encontraram foi a falta de limites muito estabelecidos entre arte e arte aplicada. Muita coisa que se intitula webart, por exemplo, nada mais é do que webdesign.

"Estabelecemos categorias para inscrição, mas na verdade elas acabam se confundindo muito", explicita o organizador, reconhecendo que as condições de um festival não permitem tantas apostas em tendências. "Não somos curadores."

FILE - FESTIVAL INTERNACIONAL DE LINGUAGEM ELETRÔNICA
exposição com 190 trabalhos de artistas e pesquisadores de 30 países.
Onde: Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158, tel. 0/xx/11/3062-9197, São Paulo).
Quando: de hoje a 2/9; ter. a dom., das 10h às 17h.
Quanto: grátis.
Na internet: www.file.org.br


 

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