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18/08/2001 - 02h24

Na biografia, Debord aparece como um herói guerreiro

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Andrew Hussey escreveu o livro "The Game of War - The Life and Death of Guy Debord", sobre a vida do escritor


da Folha de S. Paulo, em Paris

"The Game of War", de Andrew Hussey, tem esse título porque Debord (1931-1994) era apaixonado por jogos de guerra, bem como por grandes estrategistas. A descoberta, na juventude, da obra-prima de Johan Huizinga, "Homo Ludens", com sua idéia de que o instinto lúdico é predominante no homem, o marcou.

Na biografia, Debord aparece como um herói guerreiro, lutando contra o conformismo e defendendo a utopia de um mundo em que vida e arte, pensamento e ação, guerra e jogo não apareçam como contradições.

É um homem intransigente e severo, concentrado em seus propósitos e odiado pela maioria da intelligentsia francesa. Quando jovem, mergulha na boemia parisiense, convivendo com marginais, bandidos e artistas desgarrados. Na velhice, dedica-se à gastronomia e aos bons vinhos. O álcool acaba por lhe afetar a saúde, mas não a lucidez nem o rigor. Mata-se com um tiro de fuzil no peito. "Seu suicídio é um ato nobre e poético", diz Hussey na entrevista feita em Paris, onde passava as férias.

Folha - Em que momento Debord deixa de ser um simples vanguardista e se torna um dos principais pensadores de seu tempo?
Andrew Hussey -
É uma questão complicada. Acho que Debord sempre foi um filósofo, mas segundo a sua idéia de uma filosofia em ação, que não é uma idéia vanguardista, mas clássica: pensamento e ação não podem ser separados. Não se pode dissociar, em Debord, o pensamento da ação, a escrita da ação. Tomei muito cuidado neste livro para não deixar brechas para que ele fosse lido como um pós-modernista. Ele é o oposto disso.

ha - Como os pós-modernistas recuperam Debord?
Hussey -
sua ênfase no texto e na intertextualidade, retiram seu potencial revolucionário. Não querem mudar nem transformar o mundo: querem apenas interpretá-lo. O pós-modernismo é parte do espetáculo integrado, como nas universidades americanas, cheias de marxistas, ou de pós-marxistas, ou de pós-modernistas, cuja influência sobre a sociedade americana é nula.

ha - Você acha que Debord estaria sendo mais bem compreendido pela chamada geração Seattle?
Hussey -
militantes são tão diferentes e tão variados que é difícil saber. Mas, fundamentalmente, todos têm essa idéia, como Debord, de que algo precisa mudar. Há muitas coisas que essa geração poderia encontrar nos seus livros e que não constituiriam um programa, mas um método para interrogar e desafiar o mundo com demandas utópicas e irrealistas.

ha - O suicídio de Debord parece ser uma questão central no seu livro, um enigma que você tenta resolver. Qual seria, afinal, a chave?
Hussey -
diria que é o ponto central, mas percorre todo o livro. Não podemos entender Debord inteiramente sem que entendamos o modo como deu fim à sua vida. Uma de suas qualidades heróicas é que pensava a vida e a arte como uma totalidade. O suicídio é um "potlatch", um presente que não pode ser retribuído. É um ato nobre e poético.

THE GAME OF WAR - THE LIFE AND DEATH OF GUY DEBORD
Autor: Andrew Hussey.
Editora: Jonathan Cape. 420 págs.
Quanto: 18,99 libras (cerca de R$ 68).
Onde encontrar:www.amazon.co.uk.



 

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