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05/09/2001 - 02h41

"Dias de Nietzsche em Turim" será exibido hoje em Veneza

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SILVANA ARANTES
da Folha de S. Paulo, em Veneza

"Dias de Nietzsche em Turim" despede-se de Veneza hoje (com sua terceira e última apresentação na seção Novos Territórios da 58 ª edição do festival de cinema), mas os italianos não perderão contato com a obra do brasileiro Julio Bressane.

A emissora estatal RAI acaba de comprar um pacote com seis títulos do cineasta ("Matou a Família e Foi ao Cinema", "O Anjo Nasceu", "Brás Cubas", "Sermões", "O Mandarim" e "Miramar"). Todos os filmes serão exibidos, neste e nos próximos três anos, três vezes cada um.

Adepto do cinema autoral, Bressane se diz surpreso tanto com a decisão da RAI quanto com a boa acolhida de "Dias de Nietzsche em Turim" pela crítica e pelo público do Festival de Veneza, onde estreou ontem.
"É um filme de linguagem estranha, ao arrepio do cinema", afirma o cineasta.

Com Fernando Eiras no papel de Friedrich Nietzsche (1844-1900), o filme trata do período em que o filósofo alemão viveu em Turim (entre 1888 e 1889), durante o qual produziu obras como "Ecce Homo" e "O Anticristo" e sucumbiu a um colapso emocional que o impediu de voltar a escrever até a sua morte, aos 46 anos de idade.

Jogo das perspectivas
A pesquisa que deu substrato ao filme é de Rosa Dias, mulher do diretor, que assina com ele também o roteiro. Bressane diz que é um leitor da obra de Nietzsche, mas não um especialista no tema. "Amo alguém que ama Nietzsche e estou sempre em contato com a leitura de uma especialista. Portanto, minha relação afetiva com ele é muito grande."

Na abordagem do pensamento do filósofo, interessavam a Bressane sobretudo três aspectos: "A idéia da dissolução do sujeito, o jogo das perspectivas e o conceito do "bom europeu" como sendo o "extra-europeu", algo que parecia a Nietzsche um antídoto para a grande enfermidade do pensamento europeu, que era a raiva nacional".

Para traduzir esses conceitos filosóficos em linguagem cinematográfica, Julio Bressane construiu um filme com variadas texturas, alcançadas por meio do uso de sete distintos recursos de captação e tratamento de imagens -super 8, digital cinescopado, 35 mm em cor e em preto-e-branco, foto em cor e em preto-e-branco e animação.

"Outra coisa forte no filme, e que também exige certa tolerância do espectador, é ouvir Nietzsche em português", lembra o cineasta.

"Interpretação espírita"
Eiras, que atingiu, na opinião de Bressane, "uma interpretação espírita de Nietzsche", recita numerosos trechos de textos do filósofo e cita passagens auto-referentes como "Há homens que nascem póstumos".

A trilha sonora inclui composições de Nietzsche e trechos da ópera "Carmem", de Bizet, interpretada por Celine Imbert.

No elenco estão também Paulo José, Mariana Ximenes, Leandra Leal, Vicentina Novelli, Pacoal Villaboin e Isabel Themudo.

Esta é a terceira vez que Julio Bressane apresenta um filme no Festival de Veneza. Em mostras anteriores exibiu "Miramar" (97) e "São Jerônimo" (99).

"Dias de Nietzsche em Turim" será distribuído pela Riofilme, mas ainda não tem previsão de lançamento no Brasil. Bressane acredita que o longa só deverá chegar ao circuito comercial do país no ano que vem.


 

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