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21/02/2002 - 03h52

Nando Reis grava canções suas celebrizadas por Cássia Eller

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Ao lançar seu terceiro álbum solo, "Infernal", Nando Reis, 39, está entregue à própria sorte. Como autor, ele próprio diz que costuma estar diluído dentro de sua banda, Titãs. Alternativamente, encontrou Marisa Monte e Cássia Eller como intérpretes e "amplificadores" de sua obra. Da primeira anda distanciado; a segunda morreu precocemente, em dezembro.

Além de sua intérprete, Cássia era uma de suas amigas mais próximas. A perda, ironicamente, é relativizada pela chegada de "Infernal". Gravado um ano antes da morte de Cássia, é disco em que o artista recupera para si canções que havia feito para outros intérpretes -Skank, Cidade Negra, Jota Quest e, principalmente, Cássia Eller. A seguir, Nando fala sobre as perdas, o disco, a gana de produzir mais daqui por diante.

Folha - O que este novo disco significa para você?
Nando Reis -
Quando fiz a turnê do disco anterior, trouxe os dois americanos que o gravaram, e acreditei muito em sua sonoridade e numa vontade de estendê-la ao meu repertório que eu nunca havia tocado ao vivo. Fizemos uma turnê, foi tudo muito caro e, de alguma maneira, não deu muito certo. Fiz bem menos shows do que imaginava, havia uma desproporção entre a qualidade que eu via nos shows e a quantidade de pessoas que estavam indo ver. Aí falei: "Vou gravar esse show".

Folha - Chegou a se cogitar que fosse um disco ao vivo?
Reis -
Não, em nenhum momento. Não gosto muito de disco ao vivo, acho que ouvir a platéia, para quem não está lá no show, é chato. A gravação aconteceu em dois dias, foi um take de cada música. Foi quase como se fosse um disco ao vivo, sem platéia. Não refiz nenhuma voz, nenhum violão. Eu queria lançar no ano passado, mas não fiz por causa da agenda dos Titãs. De alguma maneira ele até entra em conflito com o disco dos Titãs, que está na estrada.

Folha - Hoje você tem duas gravadoras (Warner e, com Titãs, Abril). É um disco de fim de contrato?
Reis -
Não. Todo mundo interpreta assim, inclusive a própria Warner. Pode ser que coincida, ele encerra o contrato, mas não foi feito com esse intuito. Houve um hiato grande, de cinco anos, entre meu primeiro CD e o segundo. Uma coisa é fato: não há muito tempo para esperar. É meio "gravei, acho bom, vou lançar", dentro da minha condição, de ter uma banda estabelecida e poder ser... alternativo diante dos Titãs. Espero fazer com mais regularidade, é muito importante que eu faça, na idade que tenho e após todos os acontecimentos recentes.

Folha - Você teme que hoje o CD seja visto como de alguém gravando músicas que Cássia Eller cantou?
Reis -
Não, porque foi gravado antes de fazermos o "Acústico MTV" da Cássia. O CD está pronto há tanto tempo que a gente ouviu durante a mixagem do "Acústico". Ela ouviu (sorri), ouviu uma vez. Gostou muito (sorri).

Folha - Por que não estão no disco as que Marisa Monte cantou?
Reis -
Não sei. Talvez até porque estivesse um pouco distante da Marisa e mais envolvido com a Cássia... Evidentemente isso faz com que eu fique mais próximo de algumas coisas minhas.

Folha - A morte de Cássia envelhece seu disco? Ele seria diferente se fosse feito agora?
Reis -
Não... Mas acho que eu não seria estúpido de gravar um disco com "O Segundo Sol" e lançar dois meses depois da morte dela. Mas ele estar saindo, e com "O Segundo Sol", me deixa absolutamente tranquilo, por toda a relação que tive com ela.

Folha - Você já assimilou os fatos?
Reis -
Não. É claro que o tempo e a vida se encarregam de diminuir a tristeza. Mas algumas coisas são muito difíceis, muito duras. Ela me convidar para produzir seus discos e eu ter aquela mina de ouro era uma das coisas mais fundamentais para mim, para minha sobrevivência. É isso que me desespera um pouco. É muito louco pensar nas coisas que tínhamos combinado fazer e não vamos fazer. É muito ruim ter que me virar. Havia o próximo disco dela, de inéditas, que eu ia produzir. (Silêncio.) Foi tão louco, porque já havia acontecido com Marcelo Fromer. Ele era o outro prato da balança na minha vida. É muito simétrico, ele era meu amigo de infância, homem, companheiro de bairro, da minha banda de 20 anos. Fiquei seis meses ali tendo que arrumar um jeito, e brutalmente acontece a mesma coisa. Até brinco, porque Marcelo e Cássia morreram com 39 anos. Se atravessar este ano, vou longe.

Folha - Por que Cássia morreu?
Reis -
(Silêncio.) Por um acidente. Como o do Marcelo. Igualzinho. Coisas que se combinam e fazem dar tudo errado em um segundo. Um acidente. Parece tudo tão inexplicável... Mas não vou responder sobre droga. Os laudos vão dizer, já estão dizendo. Ela não morreu de overdose.

Folha - Você tem críticas a fazer às atitudes da imprensa no caso?
Reis -
Ah, acho tudo precipitado, tudo tem uma tendência simplista. É uma maneira "Casa dos Artistas" de ver o mundo. Não pode ser colocado nessa perspectiva, porque é fictícia, distorcida, mentirosa. Você mente para encontrar uma verdade. E é tão irônico que os laudos vêm desmentir, fica tudo meio surreal. Prefiro essa bagunça, que é mais próxima da ambiguidade da própria Cássia.


Leia a nossa opinião sobre o CD na Crítica Online
 

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