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05/04/2002 - 04h17

"O Invasor" estréia hoje após ser premiado em dois festivais

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

A invasão começa hoje. O terceiro longa-metragem de Beto Brant ("Os Matadores", "Ação entre Amigos") estréia em São Paulo e no Rio, depois de alguns exercícios certeiros.

Foi premiado em dois dos três festivais de que participou; é o único brasileiro em competição no atual Festival de Cinema de Paris e tem distribuição acertada na França e em Israel.

Filme policial, gênero de bilheterias tradicionalmente magras no país quando o diretor que o assina é brasileiro (os dois títulos anteriores de Brant registraram, juntos, 70 mil espectadores), "O Invasor" é farto em características inusuais.

O papel-título tem o veterano titã Paulo Miklos em seu primeiro desempenho no cinema. A atuação motivou o júri da edição 2001 do Festival de Brasília a incluir um prêmio especial (ator revelação) entre os Candangos de praxe.

Seu cenário de predileção é a periferia paulistana -origem do "invasor" que cumpre a sentença de morte de um empreiteiro, mas decide tomar parte na vida dos mandantes do crime, os dois sócios da vítima.

Realizado com R$ 1 milhão, o filme tem uma destacada pós-produção de imagem e usa o rap (de Sabotage, Pavilhão 9, Tolerância Zero e Professor Antena) como elemento narrativo. A convite da Folha, Paulo Miklos, Alexandre Borges e Marco Ricca, que formam a trinca de protagonistas, reuniram-se num bate-papo sobre a trama do filme e suas bordas. A seguir, um resumo.

RICCA SOBRE MIKLOS - "Não consigo ter essa distinção entre quem é ator e quem não é, porque ninguém nasce ator. O Paulo já entrou como esse personagem que deu muito certo no filme, alguém que invadiu. Alexandre e eu tínhamos feito umas cenas e, de repente, vem essa figura que tem outro ritmo, outro tempo.

A atmosfera criada pelo Beto [Brant] contagiou todo mundo. Na verdade, eu me senti também meio principiante, porque nunca tinha feito um filme desse jeito."

BORGES SOBRE MIKLOS - "Ele e os Titãs sempre foram uma referência muito importante para mim, quando comecei a sacar as nossas possibilidades, as nossas loucuras, o que a nossa geração queria dizer. A figura do cara sempre teve muito a dizer. E acho que ser ator é também emprestar a sua personalidade, a sua cultura, é ter o que dizer."

MIKLOS SOBRE ELE E OS OUTROS - "Fiquei numa expectativa danada da direção, numa paúra, uma vertigem. Pensei: ele vai me levar e dizer tudo o que tenho de fazer, vai me dar uma receita, uma bula.

No primeiro dia em que encontrei esses caras, vi que não era nada daquilo. Eles já estavam brincando. Cada um falava com uma voz que não era aquela com que tinha me cumprimentado ali fora.

Depois, fui ficando mais tranquilo, porque vi que a idéia é o "play", é jogar, é a brincadeira e o empréstimo, uma coisa de troca e coleguismo. Esses caras foram sensacionais, eles me pegaram pela mão e me ressuscitaram nas horas em que eu travava, gaguejava, esquecia tudo."

BORGES SOBRE ANÍSIO (O INVASOR) - "O marginal é sedutor. Eles têm um código, uma linguagem, uma coisa visceral, primitiva, que a gente -mais cheio de dedos, preconceitos, posturas, boa educação-, com a convivência social, leva para um lado mais brando. Mas, quando vemos figuras que já romperam com tudo, elas seduzem. E ao mesmo tempo você não quer se permitir ficar seduzido, porque o cara é um bandido. O Anísio tem essa personalidade forte, essa glamourização de atitudes, porque ele é assim."

RICCA SOBRE ANÍSIO - "Não acho que o personagem do Anísio enalteça a malandragem, porque, no final, ele se aburguesa. É um pequeno-burguês, que põe um robe, senta na poltrona e se torna igual a qualquer outro. Se o filme continuasse, ele estaria falando difícil no final.

Acho que "O Invasor" é muito inteligente ao não tratar a periferia de São Paulo como uma coisa de coitadinhos, que não têm uma visão de mundo, não sabem chantagear como a burguesia chantageia e lhes paga mal para ser funcionário da sua casa, ser escravo do seu lar.

Ele também sabe, se for necessário, porque a guerra é para todos. É um filme que delimita de novo a possibilidade de a gente entender a luta de classes."

MIKLOS SOBRE ANÍSIO - "Eu estava muito preocupado com a glamourização do malandro. Eu não queria que ele fosse o herói. Esse cara é o mal. Ele não tira uma camisinha, ele é a Aids. Ele é a morte em pessoa. Ele é péssimo. Não tem nenhum exemplo bom para dar, não tem por baixo da capa, não vai abrir um superanísio."

RICCA SOBRE BORGES - "Acho "O Invasor" o melhor trabalho do Alexandre. Ele põe o filme no chão. Se não fosse a solidez desse personagem, o filme poderia escapar, como aqueles filmes que perdem a mão, transformam-se numa série de sequências interessantes, mas perdem a narrativa."

MIKLOS SOBRE BORGES - "Saí do set com essa impressão. Na hora que eu estava escapando, ele me trazia de volta. Dizia: senta, respira um pouco agora, depois você fala. Eram coisas desse tipo. Mais no chão do que isso é impossível."

BORGES SOBRE RICCA - "Ele é um ator que eu admiro há muito tempo. Sempre acompanhei a carreira dele. Foi uma referência entre os atores de São Paulo, engajado numa postura nova na atuação, desvinculada da televisão."

RICCA SOBRE A PROFISSÃO - "O ator que não quer ser generoso não pode fazer cinema. A gente não tem nenhum domínio sobre o que vai acontecer. Você tem que ler o roteiro e se encantar por aquilo. A profundidade do trabalho está em querer contar aquela história ou não. O resto não nos diz respeito. "O Invasor" tem um roteiro tão perfeito que daria para contar a história do ponto de vista de qualquer personagem.
O Beto leu de um jeito. Eu, por estar fazendo um dos papéis, obviamente li de outro jeito, e provavelmente isso aconteceu com cada um de nós. O bom é que a gente vê um resultado que é absolutamente eficiente para a história."

 

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