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06/07/2002 - 03h52

Contos iniciais William Faulkner ganham 1ª edição no Brasil

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

De tão bonitas e vastas, algumas coisas dão impressão de nunca terem começado a existir, como se houvessem pulado prontas de lugar nenhum direto para a natureza. Tal é o caso do monumental conjunto de romances que levam a assinatura de William Faulkner.

No entanto, nos 40 anos da morte do escritor norte-americano, que se completam hoje, o leitor brasileiro ganha oportunidade enfim de conhecer essa espécie de Grand Canyoon literário em pleno momento de gestação.

Chega às livrarias nacionais na próxima quarta-feira, pelas mãos da editora José Olympio, o volume "Esquetes de Nova Orleans", obra com as primeiras experiências narrativas do Nobel de 1949.

Em 1925, o baixinho franzino da pequena Nova Albany, cidade do sulino Estado do Mississippi, já havia publicado um pequeno volume de poesia, "O Fauno de Mármore", e pulverizara uma outra limitada quantidade de versos em jornaizinhos das proximidades.

Aos 27 anos, Bill, como era chamado pelos poucos amigos, se demitiu de um emprego burocrático no posto dos correios na Universidade de Mississippi e decidiu agarrar a ficção na unha.

Faulkner mudou, então, sozinho para Nova Orleans. Mal acochambradas as maletas em um casebre do Quarteirão Francês, bairro-epicentro do jazz norte-americano, ele começou a rabiscar algumas notas. Na edição do primeiro bimestre de 1925 a revista "Double Decker", principal publicação literária da região, já trazia 11 vinhetas do jovem autor.

Eram perfis de um mendigo, um padre, um artista, um marinheiro... "A figura mais próxima a Balzac jamais produzida pelos EUA", como lhe caracterizaria o biógrafo Frederick Karl, por sua habilidade análoga à do escritor francês em descrever tipos da sociedade, já afiava as garras.

Nos sete meses seguintes, enquanto trabalhava de zelador de bordel e costurava seu primeiro romance, "The Soldiers" Pay", Faulkner publicaria outras 16 narrativas, mais extensas, no "The New Orleans Times-Picayune", diário ainda em circulação.

É desses dois conjuntos de textos que é feito "Esquetes de Nova Orleans", publicado como tal em 1958. Nesse "retrato do artista quando jovem" que é literalmente o volume se pode espiar muitas das marcas que estariam na face das grandes peças romanescas que Faulkner começaria a escrever poucos anos depois.

As frases trabalhadas, mais compridas e sinuosas que as do colega geracional Ernest Hemingway (que, junto a Faulkner e Scott Fitzgerald, forma o pódio da literatura norte-americana do século 20), a habilidade para trabalhar grandes conflitos humanos, mesmo muitos motivos temáticos, já apareciam nos primeiros escritos. No conto "Terra Natal", por exemplo, o autor ensaia (ainda que de modo "tateante", como exprime habilidosamente o estudioso Carvel Collins no bom prefácio ao livro) um monólogo interior, recurso que consagraria seu "O Som e a Fúria", escrito quatro anos mais tarde, como um dos grandes romances de todos os tempos (leia texto ao lado).

O romance de 1929, por sinal, está incluído no segundo item das boas novas faulknerianas. A saga classificada como o sexto melhor livro da língua inglesa no século 20 por júri da editora Random House (oitavo colocado em ranking semelhante, mas universal, feito pelo caderno Mais! em 1999, no qual Faulkner foi o recordista de número de títulos mencionados: sete), vai voltar furiosamente ao mercado brasileiro.

A editora Cosac & Naify comprou os direitos de publicar no país não só a primeira obra-prima do autor, mas dois de seus outros melhores trabalhos.
O primeiro deles, o romance "Palmeiras Selvagens", sai em novembro. Na sequência, já entrando em 2003, vem "O Som e a Fúria", que está sendo traduzido por Paulo Henriques Britto, poeta e um dos grandes transformadores do inglês para o português.

No segundo semestre do ano que vem, também pela nova coleção de ficção contemporânea da Cosac (recém-inaugurada com "Retrato do Artista Quando Velho", de Joseph "Ardil 22" Heller), será lançada "Luz em Agosto", uma das obras prediletas dos literatos faulknerianos.

ESQUETES DE NOVA ORLEANS - De: William Faulkner. Tradutor: Leonardo Fróes. Editora: José Olympio (tel. 0/xx/ 21/2585-2060). R$ 27 (240 págs.).
 

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