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16/10/2002 - 11h30

Mostra começa e exibe "Agora ou Nunca", novo filme de Mike Leigh

ADRIANE GRAU
free-lance para a Folha de S. Paulo, em Los Angeles

Mesmo quando o cineasta britânico Mike Leigh, 59, volta a câmera para o pacato cotidiano de sua gente, o resultado toma proporções universais.
Apesar de seus filmes e personagens terem características nitidamente britânicas, classe e cultura perdem o foco quando situações cotidianas revelam emoções fáceis de entender, mas difíceis de sentir. Após ter investido na superprodução de época "Topsy-Turvy" (99), Leigh volta à fórmula anterior em "Agora ou Nunca", que passa a partir de sexta-feira na 26ª Mostra BR de Cinema.

O filme desvenda o desamor que invade a vida monótona de uma família da classe trabalhadora inglesa. Cansados do batente em empregos que, apesar de honestos, mal provêm o sustento num conjunto habitacional decrépito, o casal não lembra mais por que se apaixonou, os filhos não respeitam os pais e o apoio dos amigos vem por linha tortas.

"Eu quis mostrar como uma série de jornadas diferentes, cada qual com sua história, se cruzam e vão caminhando em direção a um evento que ecoa o tema fundamental do longa", diz o diretor. "Acho que é a primeira vez que consegui explorar com precisão temas complexos de uma maneira complexa."

Mas, segundo Leigh, apesar de os personagens de "Agora ou Nunca" serem da classe trabalhadora, não se trata de um filme sobre classe social.
"Acho que seria errado imaginar que a classe trabalhadora exerce monopólio das emoções ruins ou das dificuldades da vida", explica. "Claro que as coisas poderiam ser diferentes se eles tivessem uma vida melhor, mas a essência dessa história poderia estar presente em qualquer camada da sociedade."

Método de improvisação

Leigh usa, aqui, seu método habitual. Começa sem roteiro, apenas apresentando aos atores os personagens que concebeu. Antes de dar início às filmagens, dirige três meses de ensaios durante os quais coloca os personagens em várias situações. Muitas não aparecem no filme finalizado. "Vou aos poucos e cuidadosamente juntando o que os atores falam durante os ensaios para criar um mundo que se desenvolve numa certa direção até se tornar a premissa dramática", explica.

Mas, para ele, isso não quer dizer que os atores mereçam dividir o crédito de escritor. "Todos contribuem para os diálogos, claro, mas eu sou o autor do filme, pois ajusto e puxo as situações. Alguém tem de ter o controle."

Leigh não acha que a experiência de ter dirigido 25 filmes para cinema e televisão tenha tornado mais fácil a complicada missão a que se propõe. "A dificuldade para qualquer artista é que quanto mais você já fez, mais tem de evitar se repetir", conta.

Ele conta que continua fazendo testes com centenas de atores desconhecidos até encontrar quem se encaixe num dos personagens que criou em sua cabeça.

Foi assim que se deparou com os jovens atores Alison Garland e James Corden. "Você teria de ser cego para não perceber que eles são muito parecidos e poderiam ser irmão e irmã até mesmo na vida real", diz Leigh.
Se um ator ou atriz declina seu convite, no entanto, Leigh vê a decisão como um indício de falta de confiança em seu processo criativo, e o nome é para sempre eliminado de sua lista. "É um trabalho delicado, e as pessoas têm de tomar grandes riscos."

Para criar seus personagens, Leigh revela que não descansa um minuto. "Minhas antenas estão ligadas o tempo todo, até agora", revela, para, logo em seguida, desconversar. "Mas claro que todos são personagens fictícios."

AGORA OU NUNCA - (All or Nothing)
Direção: Mike Leigh
Produção: Inglaterra, 2002
Quando: sexta, às 17h55, na Sala UOL; sábado, às 17h20, no Cinearte 1; e domingo, às 19h55, no Unibanco Arteplex 1

Leia mais sobre a 26ª Mostra BR de Cinema
 

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