Publicidade
Publicidade
17/10/2002
-
02h46
articulista da Folha
Depois de mais de um quarto de século de dedicação, o cineasta americano Godfrey Reggio, 60, finalmente conclui sua trilogia sobre o mal-estar da civilização com "Naqoyqatsi" (Vida como Guerra). Contando com outra excepcional trilha do minimalista Philip Glass, o filme radicaliza sua crítica ao progresso tecnológico recorrendo ao próprio veneno, ao apostar na manipulação de imagens com novas tecnologias e retrabalhar cenas de arquivo.
"Naqoyqasti" estréia hoje na 26ª Mostra BR de Cinema - Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, às vésperas de seu lançamento nas salas comerciais americanas. O terceiro episódio da trilogia "qatsi" já tem distribuição assegurada também por aqui.
De Nova Orleans, sul dos EUA, Reggio falou com a Folha por telefone na tarde da última segunda-feira. Agradeceu a Steven Soderbergh ("Traffic") a viabilização do filme, falou no "terror do mundo globalizado" e adiantou uma radical guinada em sua carreira, prometendo uma comédia. Leia a seguir.
Folha - Houve um intervalo de quatro anos entre os dois primeiros episódios da série "Qatsi" e quase quinze anos desde então. Por que um intervalo tão longo?
Godfrey Reggio - Não levou tanto tempo por minha causa. Demorou, sim, devido à dificuldade para conseguir levantar o dinheiro. A indústria que controla o dinheiro resiste em financiar filmes que não tenham atores conhecidos, estrelas, uma história tradicional. Felizmente apareceu um anjo que viabilizou o projeto.
Folha - Quem foi ele?
Reggio - Foi Steven Soderbergh. Ele leu uma entrevista minha ao "New York Times" em 2000. Me ligou e perguntou se eu aceitaria que ele entrasse com o dinheiro. Ele já conhecia e admirava os dois primeiros episódios. Aceitei, assim foi feito e ele cumpriu o que prometeu.
Folha - Em retrospecto, passadas duas décadas, com a aceleração do progresso tecnológico e a crescente crítica à falta de limites éticos, a trilogia não parece até mais sintonizada com nossos tempos, com algo de profético?
Reggio - Sim, concordo que a trilogia parece mais atual. Não gosto da idéia de profecia como uma forma de adivinhar o futuro, mas se se considera profético saber ler os sinais do presente, aceito a definição. O filme mostra a guerra civilizada, algo que a gente não vê, mas está lá. Tentei ser um "outsider" e não alguém de dentro. Mostrar o terror do mundo globalizado. A unidade ditada pela homogeneização tecnológica. A "los-angelização" do planeta.
Folha - "Naqoyqatsi" apresenta breves imagens de Bin Laden e do presidente George W. Bush, mas não trata diretamente dos ataques terroristas de 11 de setembro. Por quê?
Reggio - Bin Laden, Bush e mesmo uma rápida imagem do World Trade Center já estavam no filme antes daqueles terríveis eventos. Aquilo foi tão horrível que não quis inclui-lo, pois o filme trata do terror da vida comum cotidiana.
Folha - Se a série "Qatsi" termina mesmo aqui, o que virá a seguir?
Reggio - Sim, é o fim desta série. Philip Glass está tentando me convencer a começar uma nova. Outra trilogia. Não tenho certeza ainda. Não quero me repetir. Gostaria de fazer algo distinto, inclusive em estilo. Pensei numa comédia, algo bem-humorado, com atores e com linguagem, mas não com palavras e sim com linguagem corporal. Já comecei a escrever e pretendo me dedicar ao projeto depois de dezembro.
Leia mais sobre a 26ª Mostra BR de Cinema
Cineasta Godfrey Reggio promete fazer comédia após trilogia
AMIR LABAKIarticulista da Folha
Depois de mais de um quarto de século de dedicação, o cineasta americano Godfrey Reggio, 60, finalmente conclui sua trilogia sobre o mal-estar da civilização com "Naqoyqatsi" (Vida como Guerra). Contando com outra excepcional trilha do minimalista Philip Glass, o filme radicaliza sua crítica ao progresso tecnológico recorrendo ao próprio veneno, ao apostar na manipulação de imagens com novas tecnologias e retrabalhar cenas de arquivo.
"Naqoyqasti" estréia hoje na 26ª Mostra BR de Cinema - Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, às vésperas de seu lançamento nas salas comerciais americanas. O terceiro episódio da trilogia "qatsi" já tem distribuição assegurada também por aqui.
De Nova Orleans, sul dos EUA, Reggio falou com a Folha por telefone na tarde da última segunda-feira. Agradeceu a Steven Soderbergh ("Traffic") a viabilização do filme, falou no "terror do mundo globalizado" e adiantou uma radical guinada em sua carreira, prometendo uma comédia. Leia a seguir.
Folha - Houve um intervalo de quatro anos entre os dois primeiros episódios da série "Qatsi" e quase quinze anos desde então. Por que um intervalo tão longo?
Godfrey Reggio - Não levou tanto tempo por minha causa. Demorou, sim, devido à dificuldade para conseguir levantar o dinheiro. A indústria que controla o dinheiro resiste em financiar filmes que não tenham atores conhecidos, estrelas, uma história tradicional. Felizmente apareceu um anjo que viabilizou o projeto.
Folha - Quem foi ele?
Reggio - Foi Steven Soderbergh. Ele leu uma entrevista minha ao "New York Times" em 2000. Me ligou e perguntou se eu aceitaria que ele entrasse com o dinheiro. Ele já conhecia e admirava os dois primeiros episódios. Aceitei, assim foi feito e ele cumpriu o que prometeu.
Folha - Em retrospecto, passadas duas décadas, com a aceleração do progresso tecnológico e a crescente crítica à falta de limites éticos, a trilogia não parece até mais sintonizada com nossos tempos, com algo de profético?
Reggio - Sim, concordo que a trilogia parece mais atual. Não gosto da idéia de profecia como uma forma de adivinhar o futuro, mas se se considera profético saber ler os sinais do presente, aceito a definição. O filme mostra a guerra civilizada, algo que a gente não vê, mas está lá. Tentei ser um "outsider" e não alguém de dentro. Mostrar o terror do mundo globalizado. A unidade ditada pela homogeneização tecnológica. A "los-angelização" do planeta.
Folha - "Naqoyqatsi" apresenta breves
Reggio -
Folha - Se a série "Qatsi" termina mesmo aqui, o que virá a seguir?
Reggio - Sim, é o fim desta série. Philip Glass está tentando me convencer a começar uma nova. Outra trilogia. Não tenho certeza ainda. Não quero me repetir. Gostaria de fazer algo distinto, inclusive em estilo. Pensei numa comédia, algo bem-humorado, com atores e com linguagem, mas não com palavras e sim com linguagem corporal. Já comecei a escrever e pretendo me dedicar ao projeto depois de dezembro.
Leia mais sobre a 26ª Mostra BR de Cinema
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice