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12/03/2003 - 07h05

Contista traz "vida como ela é" de Anton Tchekhov

CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Médico que também era, o escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904) operou o bisturi nas letras como poucos na história da ficção universal. Conterrâneo de Tolstói e Dostoiévski, autores de romances volumosos e com montanhas-russas emocionais, usou de precisão cirúrgica para talhar uma prosa equalizada e nos formatos literários mais concisos.

Não é surpresa, assim, que tenha sido esse o paciente escolhido por Rubens Figueiredo para uma de suas operações mais delicadas. Adepto da literatura em tom menor, jogador do primeiro time do conto nacional, o escritor carioca de 47 anos tomou Tchekhov como objeto de seu primeiro livro de traduções diretas do russo.

Responsável por dezenas de versões brasileiras de autores de língua inglesa como Paul Auster, Martin Amis e Susan Sontag, Figueiredo estréia no novo idioma importando ao português os seis contos escolhidos por ele para "O Assassinato e Outras Histórias".

Publicado na Prosa do Mundo, a coleção "premium" de literatura da editora Cosac & Naify, o volume apresenta ao leitorado nacional uma fase menos conhecida do escritor, mais popular no Brasil por peças como "A Gaivota", "As Três Irmãs" e "Jardim das Cerejeiras".

O Tchekhov que chega a nós agora é o da mesma época desses sucessos dramatúrgicos, os últimos anos de seu menos de meio século de vida, mas desta vez no registro contístico.

Escritas entre 1894 e 1900, as histórias de "Assassinato" (cinco delas inéditas aqui) flagram o grande nome das formas breves alongando um pouco a envergadura de sua prosa.

Não vão muito além as diferenças da literatura desse período, se comparada com histórias como as belamente traduzidas por Boris Schnaiderman em "A Dama do Cachorrinho" (editora 34, 1999).

É o mesmo autor que dizia que para chegar a um bom conto se deveria decapitar seu começo e final, o escritor da frieza, concisão, dos poucos adjetivos e desconfiança a emoções mais imediatas.

Como aponta Figueiredo no prefácio, o escritor não economiza no uso da sentença "a vida só é dada uma vez" nas de "O Assassinato". Dr. Tchekhov, estetoscópio no peito, sabia como funcionava a vida, e escrevia uma espécie de "a vida como ela é".

Se Tolstói, por exemplo, pintava com tons bastante idealizados o campesinato russo de seu tempo era com um bom naturalismo que retratava a miserável população rural Tchekhov, como fica patente na história "Os Mujiques".

O não-engajamento direto político do autor não é visto por Figueiredo como uma "apolitização". "Essa "neutralidade" política era claramente política, era lida como política e ele sabia que aquilo ia produzir efeitos no quadro político", diz o tradutor. "A literatura russa é indissociável do caminho do pensamento social, funcionavam como duas pernas", complementa Figueiredo.

Seduzido por elas, por essas pernas, é que o autor carioca, sem parentescos com a Rússia, escolheu essa literatura como objeto de estudo na universidade. Com pouco mais de 20 anos, formado, deixou de lado seus livros em alfabeto cirílico. Com a volta ao idioma de Dostoiévski, quatro anos atrás, Figueiredo tomou embalo.

Ele acaba de entregar para a Cosac mais um Tchekhov: uma nova versão de "A Gaivota".


O ASSASSINATO E OUTRAS HISTÓRIAS
Autor: Anton Tchekhov
Tradução e prefácio: Rubens Figueiredo
Editora: Cosac & Naify (tel. 0/xx/11/3218-1444)
Quanto: R$ 37 (263 págs.)
 

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