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11/06/2003 - 10h46

Aristófanes expõe essência do grupo Parlapatões

SERGIO SALVIA COELHO
Crítico da Folha de S.Paulo

Sempre houve algo de Aristófanes nos Parlapatões. Um enredo próximo da fábula, que serve como base para a sátira aberta, politicamente incorreta como toda boa política em teatro, foi o que destacou o grupo desde "Sardanapalo", de 1993, hoje em sua oitava versão.

O ponto de partida literário, seja ele Shakespeare, Rabelais ou a vida de Alexandre o Grande, alcança uma alta eficiência no contexto do circo e da chanchada. Nessa curiosa síntese de pesquisa erudita com o escracho mais popular está a principal marca parlapatônica. Ser fiel a Aristófanes (448-385 a.C.) é fazer com seu texto o mesmo que ele fazia com a mitologia: transformá-lo em pretexto para o sarcasmo contra as decadentes mistificações de nosso próprio tempo.

Hugo Possolo é hábil nessa transposição em "As Nuvens e/ou um Deu$ Chamado Dinheiro", onde conjuga dois textos de Aristófanes, "Um Deus Chamado Pluto" e "As Nuvens": o ataque original contra a filosofia de Sócrates, tema de "As Nuvens", é inteiramente aplicável à mentalidade "motivacionista" que busca levar ingênuos "empreendedores" a fazer amigos e influenciar pessoas.

Essa idéia fixa de ser um "vencedor" é tratada com a irreverência devida, sobretudo quando as nuvens remetem às estrelas instantâneas da televisão: desautorização pública igual a essa pode ser contada nos dedinhos.

Do "Um Deus Chamado Pluto" é tirado o ataque ao culto principal da nossa época: ao Deus Dólar, que vem descendo até nós, e o Deus Juros, que haverá de fazer o mesmo.

Como toda noção de felicidade e auto-realização parece depender disso, é urgente a libertação pelo riso promovida pelos Parlapatões, que sugerem outros usos para o dólar na catártica cena final da montagem.

Explicações

Curiosamente, quando o texto se cobra a não ser um simples pretexto e força uma narrativa, perde sua eficácia. A combinação das duas trajetórias dos personagens Estrepado, do "Um Deus Chamado Pluto", e de Crédulo, de "As Nuvens", o que já é uma complicação do que era eficientemente simples, é interrompida por constantes explicações ao público, para que esse não perca o fio.

Não seria preciso: o público vem não pela história, mas pelo que sabe que os Parlapatões farão com ela. Hugo Possolo põe esse público no bolso só com o timbre de sua voz, Raul Barreto tem pleno domínio de seu tipo, entre canastrão de filme B e Harpo Marx. Sente-se a ausência do terceiro Parlapatão, mas são muito bem vindos os reforços de três outros: além de Claudinei Brandão e Henrique Stroeter, Eduardo Silva, que está para Grande Otelo o que Robinho está para Pelé.

No prumo de Aristófanes, os Parlapatões cumprem plenamente seu papel, mas deixam transparecer também seus limites: como nas reprises tradicionais do Circo, reatualizam as mesmas fórmulas eficazes. Não decepcionam nunca, mas também não surpreendem.

Avaliação:

As Nuvens e/ou um Deu$ chamado Dinheiro
Com: Parlapatões
Onde: teatro Ruth Escobar - sala Gil Vicente (r. dos Ingleses, 209, Bela Vista, tel.: 289-2358)
Quando: de qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h
Quanto: R$ 5 (preço único até 15/6); até 27/7
Patrocinador: BrasilTelecom
 

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