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13/06/2003 - 02h30

Jorge Furtado mistura referências em "O Homem que Copiava"

SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

O cineasta Jorge Furtado, 44, ancorou seu pensamento no de Millôr Fernandes --"Quando você copia alguém, é plágio, quando você copia 300 pessoas, é pesquisa"-- e usou "uma salada de referências" para roteirizar e dirigir "O Homem que Copiava", longa que estréia hoje em 75 salas.

Para contar a história de quatro jovens suburbanos em Porto Alegre que querem dinheiro para mudar de vida, o diretor copiou primeiro a si mesmo e fez um filme em hipertexto, repetindo o modelo do curta "Ilha das Flores" (1989), que o consagrou.

"O filme todo tem a estrutura de hipertexto, com o tempo aos saltos --para a frente e para trás. E tem [por temas] o herói romântico, a necessidade de matar o pai, a discussão de cópia e original, a importância do filho e uma história de Hamlet invertida."

Antes que soe demasiada complicação, fique o espectador avisado de que "O Homem que Copiava" trata seus temas complexos de forma simples e compreensível.

O "herói romântico" é André (Lázaro Ramos), um operador de fotocopiadora, ou mais exatamente o moço do xerox numa papelaria de bairro. Por amor a Sílvia (Leandra Leal), vendedora numa loja de roupas, André quer mudar o curso da vida _daí o heroísmo e o romance.

A "necessidade de matar o pai" está nos dois protagonistas. "Ele, metaforicamente, quer se livrar do pai imaginário. Ela quer matar o pai realmente, porque acha que aquele homem (Carlos Cunha Filho) não é seu pai e abusou dela na infância", explica o diretor.

A discussão sobre "cópia e original" vai além do rotineiro liga-e-desliga do trabalho de André e ganha forma também no valor do dinheiro --"quase um personagem na trama".

De um soneto de Shakespeare que cai nas mãos de André, surge o símbolo para "a importância do filho". Diz o texto: "Contra a foice do tempo é vão combate, salvo a prole, que o enfrenta se te abate". O roteiro de Furtado fará André perceber que "o sentido do soneto é que o único jeito de enfrentar a morte é o filho, que leva adiante a linhagem do pai".

A inversão de Hamlet está representada pela trajetória de Sílvia --"uma filha que quer matar o pai usurpador para vingar a morte da mãe", diz Furtado.

Além do pai de Sílvia e da mãe de André (Tereza Teixeira), gravitam em torno do casal Marinês (Luana Piovani), colega de trabalho de André, Cardoso (Pedro Cardoso), pretendente a namorado de Marinês, e Feitosa (Júlio Andrade), o amigo barra-pesada do herói romântico.

"Os personagens que me interessam são os periféricos. Gosto dos coadjuvantes da história. Eu me preocupo em falar de pessoas comuns", afirma Furtado. Mas, na vida das pessoas comuns do filme, os acontecimentos têm muito de fantasioso. "Apesar de os personagens serem possíveis e realistas em sua construção, a história não tem nada de realista: tudo o que eles fazem dá certo", diz. Inclusive crimes e contravenções.

"A indústria produz há anos milhões de histórias que têm a mesma moral --o crime não compensa, seja bom, não transgrida, cumpra ordens. E a transgressão a cada dia aumenta mais. Acho que o herói transgressor mexe com as pessoas, mas não induz à transgressão", diz Furtado.
 

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