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19/06/2003 - 09h40

Matheus Nachtergaele faz da peça experiência transtornante

SERGIO SALVIA COELHO
Crítico da Folha de S.Paulo

Um espectro assombra o Brasil: o de Woyzeck. A perturbadora peça que Büchner deixou inacabada quando morreu, aos 23 anos, em 1837, é proposta como retrato do aqui e agora brasileiro no espetáculo elaborado em conjunto pela encenadora Cibele Forjaz, o dramaturgista Fernando Bonassi e 11 atores-criadores, encabeçados por Matheus Nachtergaele.

A direção de Forjaz prima por catalisar a criação de cada participante. Woyzeck, o brasileiro, não é mais soldado como no texto original, mas trabalha em uma olaria. O público disposto em cadeiras distribuídas pelo espaço tem acesso a vários palcos nos quais cada interlocutor de Woyzeck espera sua vez. Essa disposição, além de acentuar a crueldade da exposição do protagonista, tem como mérito driblar o que pode haver de desconexo no original.

Passando de um palco ao outro, Nachtergaele nos reflete. Como um Cristo dos mistérios medievais, a paixão de Woyzeck é uma morte congelada em um tempo que se mede pelo número de tijolos produzidos. Por isso, tanto faz se o retrato da parede for de Getúlio Vargas ou de Mao Tse-tung: a condição proletária é imutável.

Esse voyeurismo do sofrimento é máximo quando o médico (Nilton Bicudo) humilha Woyzeck: a luz geral denuncia a passividade do público. Se Woyzeck é o anti-herói manipulado, decifra a voz dos que vivem no fundo do poço. Woyzeck é um proletário que adivinha a angústia da classe média.

E a presença de Nachtergaele faz da encenação uma experiência transtornante. Como na construção de Chico Buarque, Woyzeck beija sua mulher como se fosse a última, flutua no ar como se fosse um príncipe e se acaba no chão, atrapalhando o sábado.

Avaliação:

Woyzeck, o Brasileiro
Dramaturgia: Fernando Bonassi
Direção: Cibele Forjaz
Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro Ramos, 915, região leste, tel. 6602-3700)
Quando: sáb. e dom., às 21h. Até 3/8.
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 15
 

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