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29/06/2003
-
09h08
colunista da Folha
Nesta segunda (30) o canal de TV paga Sony exibe o último capítulo da sexta e derradeira temporada de "Dawson's Creek". Dawson, o jovem aspirante a cineasta, sua amicíssima e quase namorada Joey e seus outros amiguinhos de Capeside devem passar para a história da cultura pop como os adolescentes mais chatos jamais criados para qualquer tipo de ficção.
Curioso: a mesma indústria do entretenimento que moldou a idéia da juventude como o território da rebeldia via música e cinema nos anos 50, está se encarregando de sepultá-la. Nos seriados dramáticos norte-americanos da virada dos anos 90 que contemplam a juventude, o tom é de um conservadorismo de arrepiar.
À primeira vista, todos os temas que compõem o repertório básico das histórias de jovens tal como foi estabelecido por Hollywood -as descobertas da identidade e da sexualidade, os dilemas morais da entrada no mundo adulto, a educação sentimental- estão lá, mas qualquer idéia de confronto com as instituições foi eliminada. Há, por vezes, fricção, arrufos, aborrecimentos, que em geral são causados por adulto incompetente -um pai ausente, uma mãe perturbada mentalmente, um professor mau-caráter. Mas, basicamente, cabe aos adolescentes e jovens se adaptar e se conformar com o mundo tal como ele se apresenta.
"Dawson's Creek" talvez seja o produto mais bem acabado de uma lista que ainda conta com o extinto "Felicity", e os mais recentes "Gilmore Girls" e "Everwood". Criada por Kevin Williamson, roteirista de "Pânico", "Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado", o seriado é uma lição de como fazer histórias e personagens moralistas soarem bacanas. Claro, esta sempre foi uma especialidade da indústria do entretenimento norte-americana, mas a indústria vem sendo cada vez mais eficiente em maximizar a carga de proselitismo conservador, ao mesmo tempo em que sofistica sua maquiagem "cool".
Em outras palavras, quanto mais próximo das referências da cultura jovem/pop, maior a eficácia das inúmeras lições de moral que vêm junto.
Em "Dawson's Creek", até mesmo o fato de um dos personagens do núcleo principal ser gay entra nesse rolo compressor do conformismo. A cultura norte-americana é tão poderosa no sentido de amansar comportamentos transgressores que o seriado oferecia em Jack um modelo perfeito para ensinar os jovens gays a conciliar homossexualidade com conformidade.
Diante de um mundo codificado, ao qual não há alternativa de nenhuma espécie, só restava aos lindos, bem vestidos e aborrecidos adolescentes de Capeside falar pelos cotovelos, escarafunchando suas vidas com a mesma energia neurótica que os personagens de Woody Allen -só que sem a menor sombra de humor.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
Crítica: "Dawson's Creek" prega o conformismo pop
BIA ABRAMOcolunista da Folha
Nesta segunda (30) o canal de TV paga Sony exibe o último capítulo da sexta e derradeira temporada de "Dawson's Creek". Dawson, o jovem aspirante a cineasta, sua amicíssima e quase namorada Joey e seus outros amiguinhos de Capeside devem passar para a história da cultura pop como os adolescentes mais chatos jamais criados para qualquer tipo de ficção.
Curioso: a mesma indústria do entretenimento que moldou a idéia da juventude como o território da rebeldia via música e cinema nos anos 50, está se encarregando de sepultá-la. Nos seriados dramáticos norte-americanos da virada dos anos 90 que contemplam a juventude, o tom é de um conservadorismo de arrepiar.
À primeira vista, todos os temas que compõem o repertório básico das histórias de jovens tal como foi estabelecido por Hollywood -as descobertas da identidade e da sexualidade, os dilemas morais da entrada no mundo adulto, a educação sentimental- estão lá, mas qualquer idéia de confronto com as instituições foi eliminada. Há, por vezes, fricção, arrufos, aborrecimentos, que em geral são causados por adulto incompetente -um pai ausente, uma mãe perturbada mentalmente, um professor mau-caráter. Mas, basicamente, cabe aos adolescentes e jovens se adaptar e se conformar com o mundo tal como ele se apresenta.
"Dawson's Creek" talvez seja o produto mais bem acabado de uma lista que ainda conta com o extinto "Felicity", e os mais recentes "Gilmore Girls" e "Everwood". Criada por Kevin Williamson, roteirista de "Pânico", "Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado", o seriado é uma lição de como fazer histórias e personagens moralistas soarem bacanas. Claro, esta sempre foi uma especialidade da indústria do entretenimento norte-americana, mas a indústria vem sendo cada vez mais eficiente em maximizar a carga de proselitismo conservador, ao mesmo tempo em que sofistica sua maquiagem "cool".
Em outras palavras, quanto mais próximo das referências da cultura jovem/pop, maior a eficácia das inúmeras lições de moral que vêm junto.
Em "Dawson's Creek", até mesmo o fato de um dos personagens do núcleo principal ser gay entra nesse rolo compressor do conformismo. A cultura norte-americana é tão poderosa no sentido de amansar comportamentos transgressores que o seriado oferecia em Jack um modelo perfeito para ensinar os jovens gays a conciliar homossexualidade com conformidade.
Diante de um mundo codificado, ao qual não há alternativa de nenhuma espécie, só restava aos lindos, bem vestidos e aborrecidos adolescentes de Capeside falar pelos cotovelos, escarafunchando suas vidas com a mesma energia neurótica que os personagens de Woody Allen -só que sem a menor sombra de humor.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
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