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29/08/2003 - 09h01

Crítica: "Secretária" sedimentara mesmices

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INÁCIO ARAUJO
crítico da Folha

E vamos nós outra vez: esse mundo em desequilíbrio, de móveis pontiagudos, cores berrantes; um ambiente tumular, visto através de imagens distorcidas, em que o mórbido é quase sempre reforçado por um biombo instalado entre nós e os personagens, ou por um arabesco atrás.

Esse é o mundo de "Secretária", mais um filme do cinema independente americano --esse que era uma esperança de romper com a mesmice hollywoodiana e que em pouco tempo sedimentou suas próprias mesmices.

O filme de Steven Shainberg não foge a esse academismo. Talvez por oposição a Hollywood, aqui olha-se o humano com pouca esperança. Somos uma espécie em estado de degeneração. Assim é Lee (Maggie Gyllenhaal), a secretária da história, que cultiva o hábito de martirizar a própria carne.

Lee é problemática. Quando consegue um emprego, após sair de uma instituição psiquiátrica, o patrão (James Spader) revela-se capaz de entabular uma relação sadomasoquista. Chegamos, enfim, ao assunto do filme: o amor sadomasoquista. Ou antes, o amor e a dificuldade que consiste em encontrar alguém compatível.

Não se trata de um assunto irrelevante, com certeza. Isso não obriga ninguém a tratá-lo, como faz Shainberg, com as tintas do excesso: aborda o assunto não propriamente para abordá-lo, mas para evitá-lo. Pois à força de ser caricata, a imagem de "Secretária" liquida o interesse que pudesse haver na ficção original.

E existe o "subplot" do politicamente correto: o óbvio assédio sexual de um patrão em relação a uma funcionária. O filme enfatiza isso e, assim, manifesta sua oposição à tentativa de subordinar o amor aos constrangimentos legais talvez exagerados que se verificam nos EUA. Como ao menos desse tipo de exagero não sofremos, também por esse lado o interesse da coisa é, para nós no Brasil, bastante reduzido.

O lamentável é que essa bobagem conta com dois bons atores. James Spader é bem conhecido. Maggie Gyllenhaal é uma novata sensível. Talvez por ironia do destino, é filha de Stephen Gyllenhaal, um dos piores diretores do mundo e espécie de precursor de filmes sérios e nulos como este.

Avaliação:

Secretária (Secretary)
Produção: EUA, 2002
Direção: Steven Shainberg
Com: James Spader e Maggie Gyllenhaal
Quando: nos cines Bristol, Market Place Playarte, Pátio Higienópolis e circuito
 

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