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17/10/2003
-
03h49
SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo
A partir da história real de um homem que escrevia cartas para evitar o fechamento do posto dos Correios de uma cidadezinha no interior baiano, onde era o único funcionário, a diretora Eliane Caffé, 42, fez o roteiro de seu segundo longa, "Narradores de Javé".
O filme --que tem exibição, hoje, na 27ª Mostra BR de Cinema de São Paulo-- deve estrear em circuito comercial no país em janeiro de 2004. Ao longo deste ano, "Narradores de Javé" acumulou 13 prêmios em festivais.
O projeto data de 1998, quando Caffé concluía seu longa de estréia, "Kenoma". "Naquela época, li sobre a história desse homem, Pedro Cordeiro, que tentava manter o fluxo de correspondências do posto dos Correios escrevendo ele mesmo diversas cartas, e achei o assunto interessantíssimo", afirma a diretora.
Depois de uma troca de correspondências e de uma "emocionante" visita ao personagem real, Caffé passou a escrever o roteiro, a quatro mãos, com o dramaturgo Luiz Alberto de Abreu, seu parceiro também em "Kenoma".
História oficial
Foi de Abreu a proposta de estender a todos os moradores do povoado, e não concentrar em apenas um de seus habitantes --o Antônio Biá (José Dumont) decalcado de Cordeiro--, o impulso de registrar em prosa impressa os casos contados ao pé do ouvido.
Através do gesto de transferir para a escrita a história oral de uma comunidade, os roteiristas quiseram contemplar o tema da construção da história oficial, ou de como um ponto de vista pode se impor como verdade histórica.
"Tentamos mostrar que toda história é comprometida, nunca é neutra. Na oralidade, as divergências convivem, mas, quando você escreve uma versão, muitas outras ficam de fora", diz Caffé.
Para tornar verossímil o desejo dos moradores de escrever as origens do povoado, os roteiristas precisavam de "um motivo", como observa a diretora.
A razão encontrada foi a perspectiva de a cidadezinha --a Javé do título-- ser encoberta pelas águas de uma represa, para suprir uma usina hidrelétrica.
O protagonista Biá distanciou-se do personagem real que o inspirou ganhando "um caráter anárquico e até um pouco duvidoso", segundo Caffé. Ocorre que, nas correspondências que forja, Biá difama os moradores da cidade e termina expulso. É chamado de volta quando a vila de semi-analfabetos decide compor o livro de suas aventuras.
A diretora conta que, na fase de preparação do roteiro, realizou "três expedições" pelo interior da Bahia e de Minas Gerais, de onde retirou "o material bruto" para escrever o filme. Além dessa pesquisa, muito do que se vê na tela, salpicado aqui e ali nas falas dos personagens, pertence à trajetória pessoal do ator José Dumont. "No filme, há um traçado da vida dele [Dumont]. Por isso, considero-o um co-autor", diz Caffé.
Especial
Veja a programação, sinopses e as notícias da Mostra BR de Cinema de São Paulo
Episódio real inspira "Narradores de Javé"
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da Folha de S.Paulo
A partir da história real de um homem que escrevia cartas para evitar o fechamento do posto dos Correios de uma cidadezinha no interior baiano, onde era o único funcionário, a diretora Eliane Caffé, 42, fez o roteiro de seu segundo longa, "Narradores de Javé".
O filme --que tem exibição, hoje, na 27ª Mostra BR de Cinema de São Paulo-- deve estrear em circuito comercial no país em janeiro de 2004. Ao longo deste ano, "Narradores de Javé" acumulou 13 prêmios em festivais.
O projeto data de 1998, quando Caffé concluía seu longa de estréia, "Kenoma". "Naquela época, li sobre a história desse homem, Pedro Cordeiro, que tentava manter o fluxo de correspondências do posto dos Correios escrevendo ele mesmo diversas cartas, e achei o assunto interessantíssimo", afirma a diretora.
Depois de uma troca de correspondências e de uma "emocionante" visita ao personagem real, Caffé passou a escrever o roteiro, a quatro mãos, com o dramaturgo Luiz Alberto de Abreu, seu parceiro também em "Kenoma".
História oficial
Foi de Abreu a proposta de estender a todos os moradores do povoado, e não concentrar em apenas um de seus habitantes --o Antônio Biá (José Dumont) decalcado de Cordeiro--, o impulso de registrar em prosa impressa os casos contados ao pé do ouvido.
Através do gesto de transferir para a escrita a história oral de uma comunidade, os roteiristas quiseram contemplar o tema da construção da história oficial, ou de como um ponto de vista pode se impor como verdade histórica.
"Tentamos mostrar que toda história é comprometida, nunca é neutra. Na oralidade, as divergências convivem, mas, quando você escreve uma versão, muitas outras ficam de fora", diz Caffé.
Para tornar verossímil o desejo dos moradores de escrever as origens do povoado, os roteiristas precisavam de "um motivo", como observa a diretora.
A razão encontrada foi a perspectiva de a cidadezinha --a Javé do título-- ser encoberta pelas águas de uma represa, para suprir uma usina hidrelétrica.
O protagonista Biá distanciou-se do personagem real que o inspirou ganhando "um caráter anárquico e até um pouco duvidoso", segundo Caffé. Ocorre que, nas correspondências que forja, Biá difama os moradores da cidade e termina expulso. É chamado de volta quando a vila de semi-analfabetos decide compor o livro de suas aventuras.
A diretora conta que, na fase de preparação do roteiro, realizou "três expedições" pelo interior da Bahia e de Minas Gerais, de onde retirou "o material bruto" para escrever o filme. Além dessa pesquisa, muito do que se vê na tela, salpicado aqui e ali nas falas dos personagens, pertence à trajetória pessoal do ator José Dumont. "No filme, há um traçado da vida dele [Dumont]. Por isso, considero-o um co-autor", diz Caffé.
Especial
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