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04/11/2003 - 03h27

"Matrix Revolutions" põe fim à cinessérie dos irmãos Wachowski

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

Há duas analogias possíveis para a cinessérie "Matrix", cujo terceiro e último episódio, "Matrix Revolutions", estréia amanhã no mundo todo, Brasil incluído. A primeira é política. Os dois criadores dos filmes, os irmãos americanos Wachowski, são o Bill Clinton de Hollywood.

Em seu primeiro mandato, o jovem democrata mudou a história do país. Nunca os EUA haviam crescido tanto em tão pouco tempo, as liberdades individuais viveram seu auge, a preocupação social do governo era uma realidade. Mas aí veio o segundo mandato; com ele, Monica Lewinski, charutos, mentiras, os perdões polêmicos, o sumiço de móveis na Casa Branca... É por isso que ele é lembrado.

A outra é estética. Quando começou, o rapper Puff Daddy era original e talentoso. Por isso mesmo, ficou rico --e agora só fala em suas músicas de grifes, modelos e carrões. O símbolo da mudança é sua nova casa, um tributo ao exagero, com estátuas de animais em tamanho natural e fonte luminosa no meio da sala.

Andy e Larry Wachowski eram dois jovens humildes de Chicago, Illinois. Desenharam todo o primeiro "Matrix" (1999) em storyboards antes de conseguir os dólares para filmá-lo. Conseguiram e mudaram o cinema de ficção científica, tanto na técnica de filmar quanto na forma de contar uma história. Nos que se seguiram, já tinham todo o orçamento e os recursos à disposição.

Moral da história: eles deveriam ter parado no primeiro.

Resolveram fazer os dois capítulos seguintes. Perderam-se. O anterior, "Matrix Reloaded", que estreou em maio, era um tributo à Doutrina Bush, como se o roteiro tivesse sido escrito por Paul Wolfowitz, o secretário adjunto de Defesa dos EUA.

O que no primeiro encantava pela discussão entre o real e o virtual, com pitadas que iam de Jean Baudrillard à filosofia oriental, passando pela Bíblia e pelos clássicos gregos, no segundo era pau puro, militarista e com ecos do pior de "Guerra nas Estrelas".

O atual, que chega às telas de todo o mundo hoje, nem isso consegue ser. É um emaranhado de cenas sem conexão que mal esconde o objetivo de sua existência: dar um ponto final a todos os plots e subplots que foram criados até agora. Como o último capítulo de uma novela das oito.

Recapitulando, Neo (Keanu Reeves) é um hacker transformado num messias relutante quando descobre que a Terra virou uma simulação de computador, feita por máquinas que dominaram o mundo e precisam da energia gerada por seres humanos, que são mantidos em incubadoras. Os que conseguem fugir da realidade virtual vão para Zion, onde fica a resistência.

"Revolutions" começa com Neo num purgatório, retratado como uma estação de trem limpíssima, do qual deve ser solto pelo Trainman (Bruce Spence), o que acontece com a intervenção de Trinity (Carrie-Anne Moss), Morpheus (Laurence Fishburne) e Seraph (Collin Chou).

Livre, ele se dirige à Cidade das Máquinas, onde vai pedir ajuda (a "deus"?) para derrotar o vírus agente Smith (Hugo Weaving, sempre excelente), que coloca em risco a própria existência de Matrix. Enquanto isso, Zion se prepara para a invasão das máquinas, que finalmente ocorre.

Um blablablá sem fim.

Salvam-se, é óbvio, alguns efeitos especiais, como a luta final entre Neo e Smith, que dura uns bons dez minutos. De novo, "Matrix" é vítima de seu próprio sucesso: já não se sabe mais se tal efeito foi visto no original (foi) ou num comercial de uma loja de roupas (também foi).

Não que alguém, além dos críticos, esteja reclamando. Com os filmes, DVDs, games, licenciamento etc. (e bote etc. aí), a série já rendeu US$ 2 bi. Os dois criadores poderiam se aposentar, assim como seus filhos e netos. Pois que agora eles só saiam de seu descanso se tiverem algo tão original quanto o primeiro "Matrix".

Eles devem isso ao cinema.

Avaliação:

Matrix Revolutions
Produção:
EUA, 2003
Direção: Andy e Larry Wachowski
Com: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss
Quando: a partir de amanhã, nos cines Bristol, Ibirapuera e circuito
 

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