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22/12/2003 - 08h16

Zuenir Ventura faz relato passional sobre caso Chico Mendes

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FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

Em 22 de dezembro de 1988, há exatos 15 anos, Chico Mendes era assassinado em Xapuri (AC). Dois anos depois, os matadores Darci e Darly Alves foram condenados num julgamento que tinha como assistente de acusação o futuro ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e na platéia Luiz Inácio Lula da Silva, Marina Silva e José Genoino, atuais presidente da República, ministra do Meio Ambiente e presidente do PT.

Em defesa do seringueiro e contra os réus estava, além do que hoje é o poder central do país, o jornalista Zuenir Ventura, 72. Enviado do "Jornal do Brasil" ao Acre para a cobertura do caso, ele produziu uma exemplar série de reportagens, que depois ganharia o prêmio Esso, agora reunida em "Chico Mendes - Crime e Castigo", da Companhia das Letras. O livro é o quinto lançamento da coleção "Jornalismo Literário".

Por exemplar entenda-se notável, mas cuja fórmula, como admite o próprio autor, traz riscos ao jornalista que for segui-la. Zuenir é tendencioso, parcial, preconceituoso até. Já os tratava como assassinos antes da condenação --estimulado, é verdade, pelo manancial de evidências.

"Fiz como os manuais de redação não recomendam. Eu me exponho ali, revelo meus medos, minhas preferências. Ter distanciamento seria de uma hipocrisia absurda. Não é um modelo de reportagem, mas rompe um pouco o faz-de-conta que domina esse tipo de texto", afirma Zuenir.

Além de não esconder a admiração por personagens como o garoto Genésio Ferreira da Silva, principal testemunha de acusação, e o juiz Adair Longuini (..."um país que é capaz de juntar numa mesma história Chico Mendes, o garoto Genésio e o juiz Adair Longuini é um país que pode ter conserto"), o jornalista cria ojeriza pelos acusados.

Numa entrevista com Darly seis meses antes do julgamento, descreve assim o réu: "Aquele cheiro de corpo mal lavado, aquele mau hálito produzido pela úlcera ou pela dentadura mal instalada, ou pelas duas, provocava uma repulsa que deixava de ser um sentimento para se transformar numa sensação física. Era insuportável aquele ruído de lábios que, presos por uma gosma branca, se descolam com dificuldade a cada movimento da boca".

Em sua defesa, Zuenir lembra, com razão, que deu voz a todas as partes e traçou um perfil sem cosméticos de Chico Mendes, ao revelar "defeitos" como a bigamia do líder sindical.

Tão passional foi o mergulho do autor que, a pedido da Justiça, Zuenir acolheu em sua casa no Rio o garoto Genésio, alvo potencial dos assassinos, que vivia na fazenda dos Alves e cujo depoimento foi crucial para condená-los. Genésio viveu sob a tutela do jornalista até a maioridade e ainda hoje seu paradeiro não é revelado, por questões de segurança.

À época da publicação das reportagens, entre 1989 e 1990, o editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, já queria condensá-las num livro, mas esbarrou na resistência de Zuenir. A coleção e os 15 anos da morte de Chico Mendes ressuscitaram o projeto.

O autor quis voltar ao Acre para produzir a última parte do livro, "Quinze anos depois". As duas primeiras são "O Crime" e "O Castigo", com a íntegra das reportagens. A única alteração se deu na ordem dos capítulos --por sugestão do editor, a obra é aberta com a morte do sindicalista.

CHICO MENDES - CRIME E CASTIGO
Autor:
Zuenir Ventura
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 33,50 (248 págs.)
 

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