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04/02/2004 - 03h18

Raul Cortez atua e produz em SP duas peças de Bortolotto

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VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

O encontro soa inusitado, mas tem razões que o palco conhece. O consagrado ator Raul Cortez saúda a juventude transviada da dramaturgia de Mário Bortolotto.

Aos 72 anos, 48 deles de teatro e de contracenação zelosa com o cinema e a televisão, Cortez declara-se "apaixonado" pela obra do mais comentado autor das últimas temporadas em São Paulo.

Cortez escolheu duas peças de Bortolotto, 41, e juntou-as em pacote único por noite.

São elas: "Fica Frio - Uma Road Peça" (escrita em 1989), que já foi montada em São Paulo há dois anos, por Marco Antônio Pâmio, e "À Meia-Noite um Solo de Sax na Minha Cabeça" (de 1983), esta inédita na cidade.

Na primeira, Cortez faz uma ponta como um policial e outra como uma dona de pensão. Na segunda, o ator é um dos dois protagonistas separados pelo vão social de berço, mas ligados incondicionalmente pela amizade que carregam desde a infância.

Cortez seguiu as pegadas literárias de Bortolotto a partir da montagem de "Deve Ser do Caralho o Carnaval em Bonifácio", dirigida por Fauzi Arap na primeira edição da Mostra de Dramaturgia Contemporânea, em 2002. Aliás, Arap é outro elo do autor com artistas de gerações anteriores que não negaram fogo; foi dirigido por ele em 2003 no monólogo "Kerouac", de Maurício Arruda Mendonça.

Em seguida, Cortez foi ao subsolo do Centro Cultural São Paulo e viu algumas das 26 peças da 2ª Mostra Cemitério de Automóveis. Com os livros de Bortolotto nas mãos (um romance e três coletâneas de peças), escolheu duas histórias que, em princípio, apenas produziria, mas depois se deixou seduzir como intérprete.

James Dean

Vestido à James Dean, o blusão e a boina, Jesse é o personagem de Cortez em "À Meia-Noite um Solo de Sax na Minha Cabeça". Ele passa momentos pontuais da vida ao lado de Billy (por Mário César Camargo). Este é pobre, aquele é rico, mas isso pouco importa.

São 13 cenas de celebração de irmandade que inicia quando ainda bebês, nos anos 50, e segue até o Festival de Águas Claras (São Paulo), em 1983, embalados por um solo de sax "do além", portas escancaradas da percepção em pleno show de Walter Franco.

Em meio a tudo, em saltos de tempo e espaço, há o pano de fundo da política brasileira. A chamada sociedade civil de então era mais convicta dos significados da esquerda e da direita, estava em compasso de espera pela abertura que se pretendia gradual e irrestrita.

Para a direção de "À Meia-Noite um Solo de Sax na Minha Cabeça", foi convidada Cibele Forjaz, da Cia. Livre ("Um Bonde Chamado Desejo").
Já "Fica Frio - Uma Road Peça", o espetáculo que abre a sessão, flagra um rapaz com o pé na estrada, Fernando (Renato Chocair). Ele assalta uma joalheira e leva de roldão o seu irmão, Maurício (Chico Carvalho), que acabou de prestar vestibular para o curso de direito e foi incumbido pelo pai de levá-lo de volta para as indústrias de laticínios da família.

O enredo de fuga expõe as diferenças. Porém, prevalece a cumplicidade, a simetria na hora de despistar uma perseguição policial, saltar para dentro de um vagão com o trem em movimento --e fora da plataforma-- ou dormir em um hotel fuleiro.

Para Cortez, os irmãos simbolizam a oposição entre pôr a vida em movimento ou estacionar. "É bonito a maneira como um transforma o outro, com aceitação e respeito", diz o ator que convidou Sérgio Ferrara ("Tarsila") para a direção.

Ao cabo, afirma o intérprete de Rei Lear na peça homônima de Shakespeare, encenada por Ron Daniels em 2000, a junção das duas peças e duas equipes parece carregar o espírito do circo. E o canal entre os dois textos passa pela perspectiva humanista dos personagens que jamais demovem a esperança --sabe-se lá em quê.

FICA FRIO - UMA ROAD PEÇA
De: Mário Bortolotto
Direção: Sérgio Ferrara
Com: Chico Carvalho e Renato Chocair

À MEIA-NOITE UM SOLO DE SAX NA MINHA CABEÇA
De: Mário Bortolotto
Direção: Cibele Forjaz
Com: Raul Cortez e Mário César Camargo

Onde: teatro Faap (r. Alagoas, 903, Pacaembu, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 3662-7233)
Quando: pré-estréia amanhã, às 21h, em sessão beneficente; estréia sexta, às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h. Até 1º/5.
Quanto: de R$ 40 a R$ 50
Patrocinadores: Nossa Caixa e Paramount Têxteis
 

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