Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
27/02/2004 - 16h16

Katia Lund fez ouvir algo mais do que tiros das favelas nas telas

Publicidade

JORGE SVARTZMAN
da France Presse, em Brasília

A co-diretora de "Cidade de Deus", Katia Lund, descobriu, preparando um clipe para Michael Jackson em 1996, que "tudo o que se via das favelas era mentira", e decidiu retratar esse mundo que se entrelaça com o luxo das cidades, mas que só chama atenção quando os tiros o alcançam.

"A vinda de Jackson foi como um projetor; tudo o que se via de fora era mentira. Me dei conta de que a realidade era diferente", disse Lund em entrevista por telefone à France Presse, depois que o filme que fez com Fernando Meirelles foi indicado a quatro Oscars (melhor diretor, melhor fotografia, melhor montagem --ou edição-- e melhor roteiro adaptado).

Seu compromisso com esse mundo ignorado e temido foi desde então aprofundado. No Rio de Janeiro, fez "Notícias de uma Guerra Particular" (1999), co-dirigido com João Moreira Salles.

Depois veio a primeira experiência com Meirelles, "Palace 2" (2001), que ganhou prêmios em vários festivais internacionais e é considerado um "ensaio" de "Cidade de Deus", que retrata a vida nessa favela do Rio, transformada em campo de batalha de quadrilhas de narcotraficantes formadas por crianças e adolescentes.

"Em 'Notícias de uma Guerra Particular' entrevistei traficantes, moradores e policiais. Foi considerado um filme subversivo, porque questionava a eficácia da repressão. Mas a repressão só cria mais violência, é um caminho sem saída", destaca a diretora de 37 anos.

Contribuição

Em um país onde os esquadrões da morte assassinavam meninos de rua nos anos 80, Lund acha que seu trabalho contribuiu para "que se deixe de considerar garotos de 11 ou 12 anos como se fossem inimigos públicos número um".

"É preciso ver o que a favela precisa, para ver essa realidade", afirma.

Ela acredita que essa evolução da sociedade brasileira também se reflete na eleição de Lula, um ex-líder sindical sem títulos universitários.

"Lula já é essa realidade, temos que ouvi-lo, ele sabe o que é tentar novas soluções", diz a cineasta.

Para selecionar o elenco de "Cidade de Deus", Lund criou uma ONG, Nós do Cinema, que agora está sendo administrada por vários dos jovens que querem seguir a carreira de ator.

Reconhecimento

Ela se diz satisfeita com as indicações ao Oscar, embora faça duas ressalvas.

A primeira é que o filme não tenha tido uma indicação para "melhor ator".

Katia lembra que todo o elenco masculino recebeu um prêmio conjunto de "melhor ator" no Festival de Havana, "talvez porque os cubanos são mais criativos do que os americanos", alfineta.

Também se queixa por ter sido relegada no reconhecimento do trabalho realizado.

Em "Palace 2", Meirelles e Lund aparecem como "diretores", enquanto em "Cidade de Deus" ele figura como "diretor" e ela como "co-diretora".

"No início tínhamos um acordo verbal, que seria como em 'Palace 2', mas [Meirelles], que tinha colocado todo seu dinheiro, me disse que era o projeto de sua vida, e me pediu que fizéssemos esse acerto", destaca.

Segundo Lund, esse acerto também a prejudicou financeiramente. "Aprendi que o contrato é tudo (...) e que para os negócios sou burra", afirma.

Mas "decidi ser feliz, porque o filme, o trabalho coletivo continuam sendo reconhecidos, e quem conhece meus trabalhos anteriores, com clipes como 'A Minha Alma', sabe que a linguagem de 'Cidade de Deus' já existia", comenta.

Katia Lund reconhece em sua formação a influência do neo-realismo italiano e de filmes como "A Batalha de Argel", de Gillo Pontecorvo, e de "Pixote - A Lei do Mais Fraco", de Héctor Babenco.

Atualmente ela prepara um longa e alguns videoclipes, dos quais prefere não dar detalhes. "Só falo de meus filmes quando estão terminados", afirma.

Especial
  • Fique por dentro da 76ª edição do Oscar
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página