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01/05/2004
-
05h47
INÁCIO ARAUJO
crítico da Folha
Alguém diz que, quando "O Ano Passado em Marienbad" estreou em São Paulo, Jean-Claude Bernardet, o mais respeitado dos jovens críticos na cidade no começo dos anos 60, foi visto, após sair do cinema, sentado na calçada, chorando.
Nunca tirei a história a limpo. Mas é certo que a emoção de "Marienbad" em tempos idos era digna mesmo desse tipo de reação. Por que chorar? Talvez porque, a uma primeira abordagem, aquilo não parecesse compreensível. Talvez por conta do impacto estético do filme, que foi enorme. Talvez tudo tenha sido apenas a imaginação de alguém.
O fato é que o filme que Alain Resnais dirigiu a partir do roteiro de Alain Robbe-Grillet contraria tudo que se poderia esperar, naquela altura, em matéria de narrativa. E olha que era o tempo de todas as experiências narrativas, as godardianas e as antonionianas.
Mas Resnais saiu-se com a história de um estranho triângulo amoroso numa estação de águas. Logo de início, a câmera penetra pelos corredores e salões de um hotel, que a voz off descreve. Depois de muito andar, o mesmo discurso é assumido por um ator e percebemos que estamos em um teatro. Mas aí já não sabemos se estivemos sempre acompanhando a voz do ator no teatro, ou se a o ator assumiu o discurso da voz off.
Talvez seja pior: talvez a voz off seja de um ano, e o teatro, uma lembrança do ano passado, ou de qualquer outro ano. Os referenciais de tempo, e os de espaço por conseguinte, são amplamente subvertidos. De tal modo que quem quiser compreendê-lo racionalmente ("ah, isso aconteceu antes ou depois daquilo") vai se dar mal.
É como se o filme seguisse o fluxo de consciência de um amoroso: passado, presente, repetições, imagens-fetiche, tudo isso está lá.
Uma pena: a música ajudou o filme a envelhecer muito e mal.
O ANO PASSADO EM MARIENBAD
Quando: hoje, às 22h, no Telecine Classic
"O Ano Passado em Marienbad" envelheceu mal
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crítico da Folha
Alguém diz que, quando "O Ano Passado em Marienbad" estreou em São Paulo, Jean-Claude Bernardet, o mais respeitado dos jovens críticos na cidade no começo dos anos 60, foi visto, após sair do cinema, sentado na calçada, chorando.
Nunca tirei a história a limpo. Mas é certo que a emoção de "Marienbad" em tempos idos era digna mesmo desse tipo de reação. Por que chorar? Talvez porque, a uma primeira abordagem, aquilo não parecesse compreensível. Talvez por conta do impacto estético do filme, que foi enorme. Talvez tudo tenha sido apenas a imaginação de alguém.
O fato é que o filme que Alain Resnais dirigiu a partir do roteiro de Alain Robbe-Grillet contraria tudo que se poderia esperar, naquela altura, em matéria de narrativa. E olha que era o tempo de todas as experiências narrativas, as godardianas e as antonionianas.
Mas Resnais saiu-se com a história de um estranho triângulo amoroso numa estação de águas. Logo de início, a câmera penetra pelos corredores e salões de um hotel, que a voz off descreve. Depois de muito andar, o mesmo discurso é assumido por um ator e percebemos que estamos em um teatro. Mas aí já não sabemos se estivemos sempre acompanhando a voz do ator no teatro, ou se a o ator assumiu o discurso da voz off.
Talvez seja pior: talvez a voz off seja de um ano, e o teatro, uma lembrança do ano passado, ou de qualquer outro ano. Os referenciais de tempo, e os de espaço por conseguinte, são amplamente subvertidos. De tal modo que quem quiser compreendê-lo racionalmente ("ah, isso aconteceu antes ou depois daquilo") vai se dar mal.
É como se o filme seguisse o fluxo de consciência de um amoroso: passado, presente, repetições, imagens-fetiche, tudo isso está lá.
Uma pena: a música ajudou o filme a envelhecer muito e mal.
O ANO PASSADO EM MARIENBAD
Quando: hoje, às 22h, no Telecine Classic
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