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14/05/2004 - 03h32

"Tróia" começa conquista pelo Festival de Cannes

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SÉRGIO DÁVILA
Enviado especial a Cannes

O segundo capítulo da nova invasão do gênero "saia-e-sandália" começou sua batalha pela conquista mundial ontem em Cannes, com a exibição do longa (e bote longa nisso) "Tróia", um dia após sua estréia na França e um dia antes de sua chegada aos cinemas dos EUA e do Brasil. Com 2h43 de duração e um orçamento não declarado de um quarto de bilhão de dólares, o filme quer ir aonde "Gladiador" foi em 2000 --ou seja, 12 indicações ao Oscar e a aceitação dos adolescentes.

Faz sentido. Para esse público norte-americano médio, que é o que importa, pois domina as bilheterias, tanto faz que a história se passe há 3.200 anos, como é o caso da "Ilíada", de Homero, em que "Tróia" se baseia, ou numa galáxia muito distante ou ainda na Terra Média --desde que não aconteça aqui e agora, o roteiro pareça "estranho" e os nomes sejam diferentões, não importa se Agamemnon ou Frodo Baggins.

Para evitar marola para o lado de seu filme, o ator Brad Pitt, o Aquiles da adaptação, começou a entrevista de ontem se recusando a fazer qualquer relação entre as guerras troianas, que levaram os gregos a conquistar Tróia, a princípio por um motivo fútil (a infidelidade de uma bela mulher, Helena), e a Doutrina Bush, que levou os Estados Unidos à invasão do Iraque, no final por um motivo falso (as armas de destruição de massa de Saddam Hussein).

"Pesquisei muito para fazer esse papel, falei com muitos estudiosos e creio que o que Homero queria era nos passar a idéia de que uma humanidade com um desejo de bem comum é possível e que os ódios podem ser superados", disse, fugindo do assunto. Pitt deu a seu Aquiles, guerreiro que buscava a imortalidade com seus atos, um tom bem atual de alguém louco pela celebridade. "Ele era uma espécie de rock star."

Outra polêmica não foi evitada. O diretor Wolfgang Petersen defendeu as duas modificações mais gritantes do roteiro em relação ao poema grego, que foram a morte de Agamemnon por uma escrava (e não por sua mulher, Clitemnestra) e a ausência dos deuses como parte da trama. "Nós nos inspiramos na 'Ilíada', não a adaptamos", disse. "Nos dias de hoje, a participação dos deuses seria risível e creio que mesmo Homero deve olhar o resultado final do filme com um bom sorriso."

A ausência de qualquer tensão homoerótica entre Aquiles e seu primo, Patroclo, foi bancada pelo roteirista David Benioff. "Mostre em qual dos 16 mil versos há qualquer referência explícita a isso", desafiou ele, com apoio de Pitt. "Apesar de o homossexualismo ser algo comum naquela época, também não encontrei nada que sugerisse essa relação em minhas pesquisas", afirmou o ator.

O apelo adolescente influenciou também a escolha do elenco, que conta com nomes como Orlando Bloom ("O Senhor dos Anéis") no papel de Páris, Sean Bean (também de "Senhor") como Ulisses e Eric Bana ("Hulk") como Heitor --além de uma Helena (a modelo Diane Kruger) que, embora valha belos closes, não vale uma guerra; rouba-lhe a cena Saffron Burrows (como Andromaca).

Embora evitasse perguntas pessoais, Pitt disse que assistira ao último episódio de "Friends", sitcom na qual sua mulher, a atriz Jennifer Aniston, trabalhava. "Vi e foi bom", disse. Depois, riu da comparação feita, de que em "Tróia" Aquiles se apaixona por uma troiana (Briseis, interpretada por Rose Byrne) enquanto na vida real Pitt está com uma grega (Aniston vem da família Anastassakis). "Elas são perigosas, essas gregas. A minha pediu que eu não jogasse fora o figurino do filme..."

"Tróia" é a segunda produção recente do gênero, mas não a última. Vem aí a vida de Alexandre, o Grande, por Oliver Stone, entre outros. "Hollywood tem uma natureza cíclica", disse Pitt. "Não acho que as pessoas se copiem, troquem anotações para fazer igual, mas sim que há um reflexo dos tempos. Só isso explica o fato de num ano existirem seis filmes sobre beisebol, por exemplo."

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