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24/05/2004 - 10h10

Conheça as mentiras e as verdades de "O Dia Depois de Amanhã"

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LEANDRO FORTINO
da Folha de S.Paulo

O verão começa na próxima sexta-feira. Pelo menos em Hollywood. E a previsão é de tempo frio, com tempestades de gelo, chuva de granizo, enchentes, furacões, desastres e muito exagero.

Estréia no próximo dia 28 o filme "O Dia Depois de Amanhã", megaprodução que encabeça a lista de lançamentos das férias de verão dos EUA, que ainda terá as continuações de "Homem-Aranha", "Shrek" e o novo Harry Potter.

Produzido pela mesma equipe de "Independence Day", "O Dia Depois de Amanhã" mostra as conseqüências do aquecimento global, causado pelo efeito estufa, no clima do planeta Terra. O problema é que cem anos para o planeta Hollywood é o mesmo que dez dias.

A natureza, por mais que a mão do homem acelere suas transformações, não funciona dessa maneira, como explica Tércio Ambrizzi, chefe do departamento do Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), que, a convite do Folhateen, assistiu a uma pré-estréia do filme.

"Cientistas afirmam que essas conseqüências acontecerão entre 50 e cem anos, e o filme acaba acelerando isso. Apesar de a escala de tempo poder ser um pouco menor do que os cientistas falam, isso não acontecerá em termos de semanas ou mesmo em alguns anos. Mudanças climáticas demoram centenas de anos e, algumas vezes, milhares."

O filme conta a história de um climatologista (Dennis Quaid), que, após analisar pesquisas próprias e de outros colegas, descobre que a natureza vai se revoltar contra o homem e causar uma nova Era do Gelo no Hemisfério Norte, que terá de ser totalmente evacuado, enquanto milhões de pessoas morrerão. Como os governantes nunca acreditam na previsão do tempo, o pior, é claro, acontece.

EUA, Europa e Ásia são tomados por três furacões gigantes que congelam tudo por onde passam. Americanos são obrigados a fugir para o México e outros países da América Latina, que, em troca, têm suas dívidas externas perdoadas.

Entre os excessos de "O Dia Depois de Amanhã" está uma ocorrência de vários tornados em Los Angeles. "Poderia haver tornados simultâneos, mas nunca cinco ou seis na mesma cidade, porque tornados em grandes cidades são muito difíceis de acontecer, pois ocorrem geralmente em regiões mais descampadas."

Há também uma cena em que blocos de gelo desabam do céu sobre a cabeça de japoneses em Tóquio. "Granizo pode cair com tamanhos razoáveis, mas são muito menores que os do filme, no máximo do tamanho de uma bolinha de golfe. Não dá para cair um tijolo, porque a atmosfera não comportaria um peso desses lá em cima", explica Ambrizzi.

As três tempestades, com características de furacão, em proporções gigantescas, que pegam metade do Hemisfério Norte, como mostra o filme, são também realmente impossíveis, diz Ambrizzi.

"Três furacões, um do lado do outro, praticamente fechando o globo, nunca vão ocorrer na vida real e nunca serão daqueles tamanhos. Sempre que há uma tempestade daquelas proporções tem de haver uma compensação. Se você tem uma massa muito grande subindo, tem de ter uma região sem nuvens, por exemplo. O que se mostrou ali foi um Hemisfério Norte completamente tomado."

Mas nem tudo em "O Dia Depois de Amanhã" é mentira. Os computadores e equipamentos usados para as medições climáticas, assim como imagens de satélites que são mostradas, são realmente instrumentos importantes para a climatologia. Além disso, o filme serve de alerta para mostrar que o homem está, de certa forma, destruindo o planeta.

"Os EUA são responsáveis por emitir de 30% a 35% de gases, como o carbônico e o metano, que causam o efeito estufa. Seria muito importante a redução, como foi feito com o CFC, que interage na camada de ozônio e foi proibido. Mesmo tendo feito isso agora, o CFC ainda vai ficar na atmosfera por mais cem anos, mas os efeitos serão minimizados no futuro. É esse ponto que temos de trabalhar, no Protocolo de Kyoto [acordo internacional destinado a combater o aquecimento global], para que os países entendam que alguma coisa tem de ser feita já."
 

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