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27/05/2004 - 03h49

"O Dia Depois de Amanhã" é amontoado de "contra-clichês"

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MARCELO COELHO
Colunista da Folha de S.Paulo

A primeira metade é bacana: lindas cenas de destruição, Nova York inundada, furacões gigantes em Los Angeles, granizo digno de Godzilla caindo dos céus de Tóquio. Inaugura-se uma nova Era do Gelo, capaz de fazer o Empire State virar sorvete em menos de um minuto.

A outra metade é a chatice de sempre. Pai culpado procura resgatar o filho contra ventos e marés. Mocinho e mocinha se apaixonam e sofrem moderados riscos de afogamento, septicemia, inanição e trucidamento por animais selvagens. Cientista abnegado, à beira de catástrofe climática, tenta convencer o governo de que é preciso fazer alguma coisa. E há aquela tradicional meia dúzia de coadjuvantes desengonçados e leais, a ser exterminada no seu devido tempo.

"O Dia Depois de Amanhã" é um amontoado de clichês. Mas é também um amontoado de "contra-clichês" --e isso o torna mais interessante. Não sem humor, o filme de Roland Emmerich ("Independence Day") se dá ao luxo de contrariar em filigrana as obviedades que afirma no atacado.

A bandeira dos EUA tremula em triunfo numa das primeiras cenas. Mais tarde, porém, um vento polar haverá de imobilizá-la espetacularmente, sob uma camada instantânea de gelo.

Antes da tempestade, vemos uma imagem bem "incorreta" do ponto de vista político: numa estação meteorológica, o funcionário negro cochila tranqüilamente em suas horas de plantão. Surpresa: ele acorda, é o primeiro a dar o alarme e não tem nenhum sotaque do Alabama --trata-se de um disciplinado cidadão britânico.

A própria catástrofe nasce de uma inversão de expectativas. A nova Era do Gelo foi provocada pelo aquecimento global. É que com o derretimento das calotas polares as correntes marítimas se desorganizam, e esse fator, por sua vez --bem, o cientista americano (Dennis Quaid, com a expressão do rosto congelada num constante alarme) encarrega-se de explicar tudo direitinho.

O cientista está numa reunião da ONU: os representantes do mundo árabe, razoáveis e esclarecidos, entendem o problema na hora. O vice-presidente americano, radical de direita, não quer saber de nada. Num filme produzido pela Fox (com direito a merchandising do próprio canal de notícias, famoso pelo conservadorismo), não deixa de ser uma ironia interessante. Outras virão: em meio ao pânico climático, um mendigo nova-iorquino e até os povos latino-americanos irão mostrar certo valor paradoxal.

O casalzinho romântico (Jake Gyllenhaal e Emmy Rossum) derrete-se com excessiva lentidão e tem tanto charme quanto um picolé de chuchu. Ganha um, em todo caso, quem descobrir por que a Biblioteca de Nova York é o melhor lugar de abrigo para a dupla.

Um cientista inglês (o resignado Ian Holm) se associa aos americanos. O continente europeu, num ato de presumível ressentimento geopolítico, é ignorado no filme. Com belas cenas de terrorismo ecológico, a nova Guerra Fria imaginada por Emmerich não aponta inimigos claros para os Estados Unidos. Exceto, talvez, o próprio planeta Terra.

Avaliação:

O Dia Depois de Amanhã
Produção: EUA, 2004
Direção: Roland Emmerich
Com: Dennis Quaid, Jake Gyllenhaal
Quando: pré-estréia hoje; estréia em circuito a partir de amanhã
 

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