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14/06/2004 - 09h58

Autor português festeja "anonimato" em evento literário de Parati

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LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo, do Rio

Há um motivo extraliterário para Miguel Sousa Tavares estar feliz em participar, em julho, da Flip (Festa Literária Internacional de Parati). Num evento que contará com Chico Buarque, Caetano Veloso, Paul Auster e Luis Fernando Verissimo, o escritor português flanará quase anonimamente pela cidade histórica. É tudo o que ele gostaria de fazer --e não consegue-- na sua terra.

Sousa Tavares é um dos mais famosos e influentes jornalistas de Portugal. Faz comentários no "Jornal da Noite", da TV1, tem uma coluna no jornal "Público", outra no diário esportivo "A Bola" e ainda escreve para revistas.

Por opinar tanto sobre os temas atuais de seu país, ele viu seu romance "Equador" --lançado lá no ano passado e que chega agora aqui pela Nova Fronteira-- ser considerado, por parte da crítica, um retrato do Portugal contemporâneo, embora a trama se passe no início do século 20.

"Se dizem, depois de ler o livro, que Portugal não mudou muito em um século, fico bastante triste. Mas eu não quis fazer uma análise do país hoje", diz Sousa Tavares, 52, por telefone.

Suas opiniões são freqüentemente polêmicas. Em março passado, afirmou em artigo no "Público" que "um casal homossexual não oferece garantias para criar e educar equilibradamente uma criança". Foi bombardeado por associações de gays e lésbicas.

Nem todas as suas idéias podem ser chamadas de conservadoras. Ele defende a legalização do aborto e a venda de drogas pelo Estado. "Eu sou conservador nas coisas que acho que devam ser conservadas. Mas talvez meu critério esteja errado", ironiza.

Os alvos mais freqüentes de MST --como é chamado em Portugal-- são as idéias politicamente corretas. "O politicamente correto produziu, como resultado final, a América de Bush. Sou a favor dos vícios. Fumo, bebo, gosto de mulheres, de caçar, de jogar, de tudo." Recentemente, parte das baterias de Sousa Tavares tem se voltado para a própria imprensa. "Acho que os países não funcionam sem elites. Quando olhamos para a imprensa inglesa, vemos que ela está dominada pelos tablóides e que há 20, 30 anos os donos eram cavalheiros, pessoas que precisavam ter um código de conduta inatacável. Havia uma função social que tende a se perder, porque as elites foram afastadas, e a imprensa se rendeu às audiências, que são as massas", diz.

É um personagem da elite portuguesa o protagonista de "Equador", primeira obra ficcional de maior envergadura de MST. Aos 37, Luís Bernardo Valença "não tem problemas de dinheiro, não tem créditos nem dívidas, não tem mulher nem partido, não tem obrigações, não deve nada a ninguém". Tanta leveza é posta em xeque quando o rei de Portugal decide fazer de Valença governador da colônia de São Tomé e Príncipe, na África. O contraste entre a boa vida lisboeta e o mundo cão africano é chave do livro.

"Pela primeira vez na vida, Luís Bernardo se vê numa posição de ter que fazer escolhas e assumir responsabilidades. Então, descobre em si essa capacidade e o sofrimento que isso custa", explica.

Para escrever o livro, Sousa Tavares fez viagens a São Tomé e mergulhou em pesquisas. Apesar de uma certa ironia em relação à situação da ex-colônia ("Não mudou muito [desde o início do século 20], para não dizer que não mudou nada"), ele não é um crítico do antigo império português.

Vem daí a "questão mal resolvida" que diz ter com João Ubaldo Ribeiro por ter discordado de certas idéias de "Viva o Povo Brasileiro". "Talvez seja nacionalismo, mas não consigo aderir à tese de que a desgraça do Brasil foi ser descoberto pelos portugueses", afirma ele, lembrando já ter escrito também contra opiniões de Caetano Veloso a respeito da colonização portuguesa. Ubaldo e Caetano estarão na Flip.

O autor é um visitante freqüente do Brasil e está ligado ao país desde a infância. Sua mãe, a poeta Sophia de Mello Breyner Andersen, era amiga de Vinicius de Moraes e João Cabral de Melo Neto e costumava recitar poemas brasileiros. Também é admirador de Manuel Bandeira, Rubem Fonseca, Chico Buarque e do futebol brasileiro. E torcedor apaixonado do Porto, atual campeão europeu. "O Porto é outro vício que tenho", brinca.

EQUADOR. Miguel Sousa Tavares. Ed. Nova Fronteira; R$ 39 (528 págs.).

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