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01/08/2004 - 04h16

Livro revela Alberto Korda marcado pela moda e pela revolução

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LUCRECIA ZAPPI
Free-lance para a Folha de S.Paulo

Alberto Korda (1928-2002) fez de tudo para ser um fotógrafo de moda bem-sucedido, mas acabou entrando para a história da fotografia por conta da Revolução Cubana. Autor da imagem mais famosa do líder revolucionário Che Guevara, item indispensável em quartos e camisetas de adolescentes, Korda registrou os fatos mais representativos da história comunista ao lado de Fidel Castro.

O livro "Cuba por Korda" (Cosac & Naify), a ser lançado no dia 25 de agosto na Fnac, com a presença de Alessandra Silvestri-Lévy e Christophe Loviny, autores do volume, traz as duas fases do fotógrafo, marcadas por estilos opostos: a moda e a revolução.

Publicado originalmente na França, o volume reúne 82 imagens apresentadas em ordem cronológica, que, segundo Silvestri-Lévy foram selecionadas a partir de 20 mil negativos.

As primeiras páginas documentam o trabalho inicial do fotógrafo, durante os anos 50, quando retratava modelos de maneira convencional, construindo personagens posando de divas, com ar de mistério, sob a luz natural que o fotógrafo gostava de explorar.

Foi nessa época que ele, Alberto Díaz Gutiérrez, registrou seu estúdio fotográfico como Korda, em homenagem aos irmãos cineastas húngaros Zoltan e Alexander, que tinham seus filmes exibidos em Havana naquela época. Ele dizia também que gostava do nome por soar um pouco como Kodak.

Apesar de se dizer apaixonado pelas mulheres e querer seguir literalmente os passos do norte-americano Richard Avedon, seu fotógrafo predileto, Korda revela em um dos textos do livro que inicialmente havia optado por uma "vida frívola", mas a revolução mudou sua maneira de ver o mundo: "Percebi que valia a pena dedicar um trabalho à revolução que propunha a supressão de tais desigualdades", conta.

Em 1959, ano em que Fidel Castro ocupou Havana, Korda foi chamado para fazer parte da equipe do jornal "Revolución" e, meses depois, estava acompanhando Fidel em viagens internacionais, alternando retratos oficiais e em ambientes descontraídos.

Entre esses episódios históricos, está a famosa foto de Che, feita no ano seguinte, durante um encontro organizado por Fidel após o atentado contra o navio La Coubre, ancorado no porto de Havana, em que morreram 69 marinheiros cubanos e seis franceses.

A imagem ficou mundialmente conhecida com o assassinato do combatente na Bolívia, sete anos depois, quando Korda dá ampliações da foto ao editor italiano Giangiacomo Feltrinelli. De volta a Milão, Feltrinelli imprime milhões de pôsteres e postais, pelos quais Korda nunca recebeu um centavo. Segundo Silvestry-Lévy, ele teria ficado ressentido apenas porque a foto vinha sem crédito.

Enquanto Korda via o mundo estampar a imagem de Che, numa grande oferta visual panfletária, sua paixão pela moda não decresce. Aos poucos, cria a partir da moda e da atmosfera da revolução uma figura com linguagem única e forte conteúdo ideológico. Numa dessas viagens oficiais em que acompanhou Fidel, de passagem por Nova York, Korda vai ao estúdio de Avedon que o aconselha fotografar modelos potencializando o contexto dos acontecimentos históricos, fugindo do repertório tradicional de exaltação das curvas femininas.

O resultado é a remodelagem da figura da mulher em uniformes compactos, em que a rigidez exalta os contornos imaginários. A revista "Paris Match" chegou a publicar, nos anos 60, uma reportagem fotográfica em que sua mulher, a modelo Norka, veste calça verde-oliva e camisa azul, o uniforme dos guerrilheiros cubanos.

Assim como as modelos passam a desfilar militantes, Che se torna o garoto-propaganda da revolução através das lentes do fotógrafo. A criação da imagética revolucionária se consolida nesse retrato, do clichê do jovem endurecido pela revolução, mas que jamais perderá a ternura.

CUBA POR KORDA. Autores: Alessandra Silvestri-Lévy e Christophe Loviny. Fotos: Alberto Korda. Tradução: Newton Villaça Cassiolato. Quanto: R$ 69,50 (160 págs.). Lançamento: 25/8, às 19h, na Fnac Pinheiros (av. Pedroso de Moraes, 858, Pinheiros, tel. 0/xx/11/4501-3000).

Especial
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