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07/08/2004 - 07h26

Artista do mundo, Gilvan Samico sai à "caça" em SP

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FABIO CYPRIANO
enviado especial a Olinda

Diz uma lenda esquimó, sobre a história de um famoso caçador de renas, que um dia foi abordado por uma ave de rapina: "Se você não parar de matar, eu vou acabar com você, a não ser que você dê uma grande festa". A partir dessa temática, Gilvan Samico, 76, realizou sua mais recente gravura, "A Caça", peça central da mostra que a Pinacoteca inaugura hoje. Além da própria gravura, cerca de 30 estudos, dos 50 realizados, estarão expostos em São Paulo.

Pois é, Samico não se inspira apenas na temática brasileira. "Li a lenda em 'Memórias do Fogo', organizado pelo [ensaísta uruguaio] Eduardo Galeano. Isso foi uma inspiração", diz ele, em sua casa-ateliê em Olinda, a poucos passos do Mosteiro de São Bento, de onde saiu o altar para a mostra "Brasil, Body & Soul", no Guggenheim de Nova York (2001).

Os estudos para "A Caça" fazem um diálogo com desenhos do artista dos anos 50, quando Samico viveu em São Paulo e no Rio. "Em 1998, tive uma grande mostra no Rio, com as gravuras. Quis levar algo novo para a Pinacoteca."

Foi em 1957 que Samico deixou seu posto de funcionário público em Recife, com uma carta do amigo e multiartista Aloisio Magalhães (1927-82), indicando-o para o gravador Lívio Abramo (1903-92), que vivia em São Paulo. Ganhou de Abramo uma bolsa de estudos. "Ele foi um mestre e um amigo", relembra-se Samico.

Depois de alguns meses, o artista ruma ao Rio, em busca de emprego. Lá, chega com nova carta, dessa vez de Abramo para Oswaldo Goeldi (1895-1961), que dava aulas na Escola Nacional de Belas Artes. Samico ganha nova bolsa de estudos, mas abandona o curso para trabalhar em dupla jornada: como desenhista num escritório de arquitetura e em outro de comunicação visual.

Aos 30 anos, Samico já havia estudado com os dois mais importantes gravadores vivos no país, Goeldi e Abramo, mas não estava satisfeito com sua obra. "Eu achava muito noturna, muito européia", conta. Numa das viagens de férias em Recife, ele se encontra com o escritor Ariano Suassuna.

"Foi dele a sugestão para observar a literatura de cordel, mas eu não sabia por onde começar, já conhecia gravadores populares e não queria imitá-los. Li os folhetos e vi que, no texto sim, havia inspiração, em como eles extrapolam o mundo real, foram as narrativas que me interessaram", diz Samico, em sua cozinha de azulejos azuis, desenhados por ele mesmo. Com "O Boi Feiticeiro e o Cavalo Misterioso" (63), o artista passou a usar narrativas populares como inspiração.

Samico encontrava uma fonte de idéias, mas formalmente continuava insatisfeito. Veio então seu eureca: "Observei as capas dos folhetos de cordel, com estruturas rígidas, e abstraí as imagens me utilizando das organizações gráficas". "Suzana" (66) é a obra que marca essa mudança.

Finalmente, em 69, na Europa, graças ao prêmio recebido no Salão Nacional, a obra de Samico chega ao formato atual. "Buscava papéis de grande dimensão, e os encontrei em Genebra. Comprei os 20 que havia lá e, desde então, as gravuras têm esse formato."

Após a Europa, Samico, que produzia dezenas de gravuras por ano, passa a realizar apenas uma, com tiragem de 120 cópias, a partir de dezenas de estudos. "Eu não posso errar, é uma gravura que me tortura", justifica. Com tal método, Samico se tornou um dos artistas mais importantes dos últimos cem anos, segundo Ivo Mesquita, no catálogo da mostra.

O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da produção da exposição

SAMICO, DO DESENHO À GRAVURA
Curadoria:
Ronaldo de Brito
Onde: Pinacoteca (pça. da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/ 11/3229-9844)
Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 3/10
Quanto: R$ 4 (grátis aos sáb.)

Especial
  • Arquivo: veja o que já foi publicado sobre a Pinacoteca
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