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24/08/2004
-
21h25
GUILHERME GORGULHO
da Folha Online
Trinta anos depois, de uma velha fita de áudio de uma polegada que registrou um momento único na música popular brasileira, renasce uma pérola. O histórico encontro entre Elis Regina e Tom Jobim volta nesta semana às lojas em uma edição dupla com uma nova mixagem estéreo no formato CD e um DVD áudio com uma qualidade muito superior às gravações já conhecidas, no sistema "surround 5.1".
"Elis & Tom", lançado originalmente em 1974, conta também com duas faixas bônus: uma versão alternativa de "Fotografia" e a música "Bonita", que não entrou originalmente no disco porque Elis não gostou de sua pronúncia em inglês.
O trabalho de recuperação das gravações foi supervisionado por ninguém menos do que o músico Cesar Camargo Mariano, ex-marido de Elis que a acompanhou em 14 discos, e o engenheiro Luís Paulo Serafim, da Trama, que desenvolveu o projeto em parceria com a gravadora Universal, detentora do acervo da extinta Philips.
Depois de meses debruçada na restauração da degradada matriz do disco, a equipe tinha apenas uma oportunidade para transferir o registro da fita analógica para uma versão digital. Os técnicos somente poderiam passar o master uma vez pelo cabeçote de reprodução para evitar o desgaste do material.
"Foi uma mão de obra relativamente grande, que durou meses. Aí então fechou-se a caixa novamente, guardou-se a caixa novamente, e tínhamos aqui um hard disc [disco rígido] para o resto de nossas vidas com aquele original", conta Mariano.
O pianista e arranjador descobriu muitas surpresas ao ouvir novamente as sessões de gravação realizadas em Los Angeles (EUA), onde Jobim morava, e incluiu algumas destas saborosas preciosidades na nova edição especial.
No disco pode-se ouvir as conversas entre os músicos, ruídos do estúdio e os finais mais longos de algumas faixas, normalmente limados nos discos. "Esses finais às vezes são maiores do que o tempo da música. (...) Geralmente esses finais são cortados, ou na mixagem, ou mesmo na gravação, pelo técnico", explica Mariano.
Ele defende que essas "sujeiras" de estúdio são importantes para serem preservados como um documento. Tudo começou quando Tom Jobim, acompanhado por Roberto Menescal, foi mostrar a recém composta "Águas de Março" para Elis e Mariano em 1971. A faixa acabou entrando no álbum "Elis" (1972) e, a partir daí nasceu na cabeça de Elis a idéia de um dia gravar um disco só com canções de Jobim.
Quando Elis completou dez anos na Philips, em 1974, a direção da gravadora ofereceu um presente à cantora. Ela, por sua vez, não titubeou e pediu um disco com Tom Jobim.
Inicialmente houve uma certa tensão no ar. Elis e Tom Jobim, pertenciam a gerações diferentes, e as experiências musicais dela e Mariano com instrumentos elétricos causaram certo estranhamento no maestro quase cinqüentão. Já da parte de Elis e Mariano, o receio vinha do fato de estarem gravando com um de seus ídolos.
"Houve um clima de tensão muito grande. Um ponto de interrogação enorme no meio da sala. (...) Era um negócio meio sério. A irresponsabilidade de jovens fazendo uma coisa de alta responsabilidade, e ele estava vendo essa responsabilidade", diz Mariano. "Peraí bicho, vocês vão chegar aqui assim. Vocês não têm experiência de estúdio americano, desenvolvido, vocês não tem essa experiência de músico, quem vai fazer o arranjo?", lembra o produtor do disco imitando o jeito de Tom Jobim falar.
No estúdio, depois da escolha de repertório, músicos, e arranjador --o próprio Mariano--, o clima melhorou muito, e as gravações transcorreram muito bem.
Depois de ouvir o disco pronto, uma metáfora dita por Tom Jobim para Cesar Camargo Mariano resumiu muito bem toda a história: "Eu gosto de tomar banho de banheira, com água parada. Já vocês gostam de tomar banho de chuveiro, com água fresca", lembra o músico, emocionado, 30 anos depois.
"Elis & Tom"
Intérpretes: Elis Regina e Tom Jobim
Gravadora: Trama
Preço: R$ 51,90
Especial
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre Elis Regina
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre Tom Jobim
Histórico encontro "Elis & Tom" volta remixado e com faixas bônus
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da Folha Online
Trinta anos depois, de uma velha fita de áudio de uma polegada que registrou um momento único na música popular brasileira, renasce uma pérola. O histórico encontro entre Elis Regina e Tom Jobim volta nesta semana às lojas em uma edição dupla com uma nova mixagem estéreo no formato CD e um DVD áudio com uma qualidade muito superior às gravações já conhecidas, no sistema "surround 5.1".
| Divulgação |
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| Tom Jobim e Elis Regina na época do lançamento do disco |
O trabalho de recuperação das gravações foi supervisionado por ninguém menos do que o músico Cesar Camargo Mariano, ex-marido de Elis que a acompanhou em 14 discos, e o engenheiro Luís Paulo Serafim, da Trama, que desenvolveu o projeto em parceria com a gravadora Universal, detentora do acervo da extinta Philips.
Depois de meses debruçada na restauração da degradada matriz do disco, a equipe tinha apenas uma oportunidade para transferir o registro da fita analógica para uma versão digital. Os técnicos somente poderiam passar o master uma vez pelo cabeçote de reprodução para evitar o desgaste do material.
"Foi uma mão de obra relativamente grande, que durou meses. Aí então fechou-se a caixa novamente, guardou-se a caixa novamente, e tínhamos aqui um hard disc [disco rígido] para o resto de nossas vidas com aquele original", conta Mariano.
O pianista e arranjador descobriu muitas surpresas ao ouvir novamente as sessões de gravação realizadas em Los Angeles (EUA), onde Jobim morava, e incluiu algumas destas saborosas preciosidades na nova edição especial.
No disco pode-se ouvir as conversas entre os músicos, ruídos do estúdio e os finais mais longos de algumas faixas, normalmente limados nos discos. "Esses finais às vezes são maiores do que o tempo da música. (...) Geralmente esses finais são cortados, ou na mixagem, ou mesmo na gravação, pelo técnico", explica Mariano.
Ele defende que essas "sujeiras" de estúdio são importantes para serem preservados como um documento. Tudo começou quando Tom Jobim, acompanhado por Roberto Menescal, foi mostrar a recém composta "Águas de Março" para Elis e Mariano em 1971. A faixa acabou entrando no álbum "Elis" (1972) e, a partir daí nasceu na cabeça de Elis a idéia de um dia gravar um disco só com canções de Jobim.
Quando Elis completou dez anos na Philips, em 1974, a direção da gravadora ofereceu um presente à cantora. Ela, por sua vez, não titubeou e pediu um disco com Tom Jobim.
Inicialmente houve uma certa tensão no ar. Elis e Tom Jobim, pertenciam a gerações diferentes, e as experiências musicais dela e Mariano com instrumentos elétricos causaram certo estranhamento no maestro quase cinqüentão. Já da parte de Elis e Mariano, o receio vinha do fato de estarem gravando com um de seus ídolos.
"Houve um clima de tensão muito grande. Um ponto de interrogação enorme no meio da sala. (...) Era um negócio meio sério. A irresponsabilidade de jovens fazendo uma coisa de alta responsabilidade, e ele estava vendo essa responsabilidade", diz Mariano. "Peraí bicho, vocês vão chegar aqui assim. Vocês não têm experiência de estúdio americano, desenvolvido, vocês não tem essa experiência de músico, quem vai fazer o arranjo?", lembra o produtor do disco imitando o jeito de Tom Jobim falar.
No estúdio, depois da escolha de repertório, músicos, e arranjador --o próprio Mariano--, o clima melhorou muito, e as gravações transcorreram muito bem.
Depois de ouvir o disco pronto, uma metáfora dita por Tom Jobim para Cesar Camargo Mariano resumiu muito bem toda a história: "Eu gosto de tomar banho de banheira, com água parada. Já vocês gostam de tomar banho de chuveiro, com água fresca", lembra o músico, emocionado, 30 anos depois.
"Elis & Tom"
Intérpretes: Elis Regina e Tom Jobim
Gravadora: Trama
Preço: R$ 51,90
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