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21/02/2005 - 11h24

Biografia faz justiça ao cineasta Alberto Cavalcanti

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LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo

Com o lançamento hoje, no Rio, de um livro chamado "Alberto Cavalcanti --O Cineasta do Mundo", inicia-se nova tentativa de fazer de Alberto Cavalcanti um cineasta do Brasil. Reconhecido como um diretor fundamental na Inglaterra e na França, onde passou a maior parte da vida, este carioca sempre foi visto em seu próprio país como um estrangeiro. Hoje, nem visto ele é mais.

Salvo um ciclo extemporâneo, como o realizado na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2002, ou alguma aparição miraculosa num canal da TV paga, é praticamente impossível ver um filme de Cavalcanti no Brasil. Não há vídeos nem DVDs. No exterior, mesmo que a oferta não seja farta, suas obras estão em cinematecas, centros culturais e páginas na internet.

"Quando ele morreu, o título de um jornal brasileiro foi: "Morreu o gênio mal-amado". Ele sempre foi incompreendido aqui e hoje é escamoteado. Por falta de consideração ou ignorância, é como se Alberto Cavalcanti não existisse no Brasil", protesta Sergio Caldieri, autor da biografia que será lançada hoje.

O livro narra didaticamente a vida do cineasta, do nascimento no Rio, em 1897, até a morte em Paris, em 1982. Um dos aspectos abordados é a rejeição do cinema novo a Cavalcanti. Expoentes do movimento, como o crítico Alex Viany e o cineasta Glauber Rocha, bateram forte em seus filmes, mas depois fizeram mea-culpa.

"Ninguém foi expulso do cinema brasileiro a não ser o próprio Alberto Cavalcanti, que teve de arrumar as malas e retomar o seu prestígio na Europa. (...) Nunca, em torno de um homem só, tamanha e sórdida campanha foi desencadeada, no seio de uma classe", escreveu Glauber, em 1963, no livro "Revisão Crítica do Cinema Brasileiro".

A "expulsão" aconteceu em 1954. Cavalcanti voltara cinco anos antes, após 28 de Europa, para ser o diretor-geral da Vera Cruz, a companhia de cinema criada por Franco Zampari.

Até 1952, envolveu-se em brigas, supervisionou maus e muito criticados filmes e não dirigiu nenhum. Saiu, criou a Kino Filmes e realizou suas três obras brasileiras: "Simão, o Caolho" (1952), "O Canto do Mar" (53) e "Mulher de Verdade" (54). Apanhou mais, perdeu dinheiro e decidiu voltar à Europa com uma passagem paga por Yolanda Penteado, sua grande amiga e mulher do empresário Ciccillo Matarazzo.

"Ele foi vítima de uma rejeição xenofóbica. Era um brasileiro visto aqui como estrangeiro numa época de nacionalismo acirradíssimo", diz a jornalista Norma Couri, que deve lançar em livro neste ano "O Estrangeiro - Alberto Cavalcanti e a Ficção do Brasil", tese que concluiu na USP em 2004. "Como era homossexual, também foi alvo de muitas ironias. Ficou tão humilhado que foi embora", acrescenta ela.

Couri entrevistou Nelson Pereira dos Santos, pioneiro do cinema novo, que, ainda como crítico, arrasou os filmes de Cavalcanti por não considerá-los "revolucionários", "sociais". "Nelson tinha 20 anos e hoje se arrepende profundamente. Para ele, Cavalcanti podia ter salvado o cinema brasileiro", conta ela.

O livro de Caldieri abre uma série de homenagens a Cavalcanti que acontecerão no Rio, a começar, em 17 de março, por uma exposição no Espaço Sesc. Do dia 18 até 3 de abril, uma mostra no MAM (Museu de Arte Moderna) pretende exibir 27 filmes de que Cavalcanti participou, como diretor, produtor, roteirista ou montador. "Pretende" porque ainda estão sendo analisados os estados de conservação dos filmes guardados no Brasil e adquiridos os DVDs das produções européias, que serão exibidas sem legendas.

Em 31 de março, lança-se no MAM um catálogo que abordará todos os 126 filmes em que Cavalcanti trabalhou. O catálogo não terá distribuição comercial, assim como a biografia.

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