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28/10/2000
-
04h54
da Folha de S.Paulo
Antes de tudo, a atriz e diretora portuguesa Maria de Medeiros teve o mérito de concretizar um projeto necessário. "Capitães de Abril" é um filme que faltava, um filme sobre a Revolução dos Cravos. É um projeto ambicioso para uma cineasta ainda iniciante. O trabalho de Medeiros é digno, mas sua falta de experiência se faz sentir, especialmente na resolução dos momentos mais humorísticos de seu roteiro.
Momentos em que aflora o lado quixotesco do levante empreendido, em abril de 74, por jovens militares de baixa patente, contra as guerras colonialistas e a ditadura de Salazar. Pressionados pela intelectualidade local e insatisfeitos com a condição de soldados colonialistas obrigados a lutar por um império morto e uma ditadura longeva, esses militares protagonizaram a mais simpática quartelada do século.
A simpatia como arma. É por pura empatia que o líder do movimento consegue arregimentar os colegas de pelotão: "Todos nós sabemos que existem vários tipos de Estado: os Estados liberais, os Estados social-democratas, os socialistas etc. Mas nenhum deles é pior do que o estado a que aqui se chegou (risos). Acho que é preciso acabar com ele. Quem vem comigo?". Com cravos na ponta dos tanques e idéias democráticas na cabeça, derrubaram um sistema.
A Revolução dos Cravos, no entanto, não foi apenas essa insurreição militar abordada em "Capitães de Abril". Ela resultou tanto numa grande liberalização dos costumes quanto num completo desmonte do aparelho estatal e institucional português.
Durante mais de um ano, Lisboa foi uma festa. E ela mal começa quando o filme de Medeiros acaba. Contentando-se em contextualizar devidamente o primeiro momento da revolução, a diretora lega o tema da liberação sexual a um casal secundário da trama e reserva para si o papel central de uma professora esquerdista, irmã de um ministro salazarista e mulher de um militar.
O drama do casal protagonista serve para pontuar os bastidores políticos da época, mas, no final das contas, ele não só remete a um velho clichê hollywoodiano, como atravanca, num paralelismo algo forçado, o essencial do fluxo narrativo: a ação (anti)militar.
(TIAGO MATA MACHADO)
Capitães de Abril
Capitaines d'Avril
Direção: Maria de Medeiros
Produção: França/Portugal, 2000
Com: Stefano Accorsi, Maria de Medeiros, Joaquim de Almeida
Quando: 30, às 12h, no Cinearte 2 (sessão para estudantes secundaristas), e, às 20h45, no Cinearte 1; 31, às 21h05, e 1º, às 20h25, no Espaço Unibanco
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Filme "Capitães de Abril" eterniza ideais de revolta simpática
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da Folha de S.Paulo
Antes de tudo, a atriz e diretora portuguesa Maria de Medeiros teve o mérito de concretizar um projeto necessário. "Capitães de Abril" é um filme que faltava, um filme sobre a Revolução dos Cravos. É um projeto ambicioso para uma cineasta ainda iniciante. O trabalho de Medeiros é digno, mas sua falta de experiência se faz sentir, especialmente na resolução dos momentos mais humorísticos de seu roteiro.
Momentos em que aflora o lado quixotesco do levante empreendido, em abril de 74, por jovens militares de baixa patente, contra as guerras colonialistas e a ditadura de Salazar. Pressionados pela intelectualidade local e insatisfeitos com a condição de soldados colonialistas obrigados a lutar por um império morto e uma ditadura longeva, esses militares protagonizaram a mais simpática quartelada do século.
A simpatia como arma. É por pura empatia que o líder do movimento consegue arregimentar os colegas de pelotão: "Todos nós sabemos que existem vários tipos de Estado: os Estados liberais, os Estados social-democratas, os socialistas etc. Mas nenhum deles é pior do que o estado a que aqui se chegou (risos). Acho que é preciso acabar com ele. Quem vem comigo?". Com cravos na ponta dos tanques e idéias democráticas na cabeça, derrubaram um sistema.
A Revolução dos Cravos, no entanto, não foi apenas essa insurreição militar abordada em "Capitães de Abril". Ela resultou tanto numa grande liberalização dos costumes quanto num completo desmonte do aparelho estatal e institucional português.
Durante mais de um ano, Lisboa foi uma festa. E ela mal começa quando o filme de Medeiros acaba. Contentando-se em contextualizar devidamente o primeiro momento da revolução, a diretora lega o tema da liberação sexual a um casal secundário da trama e reserva para si o papel central de uma professora esquerdista, irmã de um ministro salazarista e mulher de um militar.
O drama do casal protagonista serve para pontuar os bastidores políticos da época, mas, no final das contas, ele não só remete a um velho clichê hollywoodiano, como atravanca, num paralelismo algo forçado, o essencial do fluxo narrativo: a ação (anti)militar.
(TIAGO MATA MACHADO)
Capitães de Abril
Capitaines d'Avril
Direção: Maria de Medeiros
Produção: França/Portugal, 2000
Com: Stefano Accorsi, Maria de Medeiros, Joaquim de Almeida
Quando: 30, às 12h, no Cinearte 2 (sessão para estudantes secundaristas), e, às 20h45, no Cinearte 1; 31, às 21h05, e 1º, às 20h25, no Espaço Unibanco
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