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06/01/2006 - 20h54

Análise: Pato Fu tenta exorcizar fantasma dos Mutantes

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JULIANO DE SOUSA
Colaboração para a Folha Online

"Toda Cura Para Todo Mal", o mais recente trabalho do Pato Fu, mostra novamente a faceta pop que consagrou o grupo no mercado fonográfico brasileiro. O grupo repete a fórmula de compor canções de apelo fácil e kitsch sem abrir mão de misturar ao seu bom pop melódico elementos como ruídos e vozes robotizadas, experiências sonoras que se tornaram marca registrada da banda.

Desde sua criação em 1992, o Pato Fu sempre se permitiu passar por várias experimentações musicais sem ficar escravizado a um estilo musical que pudesse deixá-los estagnados no cenário musical brasileiro. Apesar deles não terem feito parte de nenhum movimento musical que marcasse os anos 90, como o mangue beat, o grupo ganhou destaque no cenário indie com o álbum "Rotomusic de Liquidificapum" (1993) mostrando uma miscelânea sonora misturada com bom humor.

Músicas como "O Processo de Criação vai de 100 até 1000" e a regravação no melhor estilo alternativo de "Sítio do Picapau Amarelo" fizeram os mineiros do Pato Fu ganhar um sutil destaque entre os descolados da época.

Sucesso

O sucesso foi aumentando de uma forma gradativa com o lançamento de seu segundo álbum, "Gol de Quem?" (1995), onde emplacaram o tenro hit "Sobre o Tempo". Numa época em que os resquícios do grunge e do hard rock imperavam na preferência dos telespectadores, o vídeoclipe dessa música começou a ser veiculado bastante na programação da MTV, chegando a figurar entre os dez clipes mais pedidos pela audiência da emissora.

Mas a primeira escorregada a gente nunca esquece. O incômodo que a banda tinha em ser sempre comparada com os Mutantes de Rita Lee, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista fez a veia de criatividade do grupo estancar. A prova disso resultou no lançamento de seu terceiro trabalho "Tem, mas acabou" de 1996. Os mesmos elementos musicais usados na consagração de seus dois primeiros álbuns tornaram-se repetitivos e cansativos de se escutar. O que poderia ser a consagração plena do grupo se transformou num fiasco lastimável.

O bom humor do grupo deu lugar a um pastelão insosso em versos de canções como "a água um dia vai cair lá do céu molhadim..." (da música "Água"). Para fugir do fantasma dos Mutantes, até fizeram uma música séria, "O peso das coisas". Mas eles ainda não estavam maduros o suficiente para escrever letras com mais consistência.

Em "Pinga", eles até se esforçaram em fazer uma homenagem aos grandes jogadores do futebol brasileiro como Pelé e Tostão. Diante do descaso da crítica e do público, decidem trabalhar com um produtor renomado para fugir totalmente do estigma "Sou cria dos Mutantes". Sob produção de Dudu Marote, lançam "Televisão de Cachorro" (1998) fugindo totalmente do estilo que consagrou o grupo. No lugar de canções engraçadinhas, criaram músicas e letras com apelo mais melancólico e conquistaram novamente a simpatia do público.

A primeira música de trabalho, "Antes que seja tarde" figurou entre as dez mais tocadas na cidade de São Paulo --um feito se fizermos uma retrospectiva musical do que tocava naquela época. Pela primeira vez, o grupo ultrapassa a venda de 100 mil cópias, coloca outro hit na parada paulistana --a triste "Canção pra você viver mais" - e ganha destaque na revista "Time", figurando ao lado de grupos como U2, Sigur Ros, Orishas e Radiohead como uma das bandas mais relevantes da atualidade (de uma forma exagerada, diga-se de passagem).

Experimentações

Com a carreira consolidada, o grupo decide continuar passeando pelo mundinho pop sem abrir mão de suas velhas experimentações nos álbuns "Isopor" (1999) - destaque para "Perdendo os dentes" (um apanhado das situações em que todos nós passamos na infância e adolescência), "Um ponto oito" (um filme de Pedro Almodóvar com pitada de Plínio Marcos) e o chiclete "Made in Japan"; "MTV Ao Vivo" (2002), fazendo releituras de seus sucessos; e "Ruído Rosa" (2001), com a explosiva "Eu", "2 Malucos" (música ao melhor estilo Super Furry Animals), "Day After Day" --que conta com a participação dos Mulheres Negras-- e "Tolices".

Para polemizar um pouco, eles regravam "Ando meio desligado", sucesso na voz dos Mutantes, dando um fim a sua crise de incômodo nas comparações com o grupo de Rita Lee & cia.

O exorcismo desse fantasma acaba em "Toda a Cura Para Todo Mal" '(2005). Apesar das repetições e do mesmo senso de humor, a voz de Fernanda Takai continua sendo uma peça chave para audição desse CD. A primeira música de trabalho, "Uh Uh Uh Lá Lá Lá Ié Ié" é uma mera bobagem se comparada com outras músicas de (bom) peso, como a delicada e esquisita "Simplicidade", a crise de identidade de "Anormal", a acomodada "Vida Diet" e a mistura de Odair José com Morrissey na amarga 'Agridoce', a melhor do CD.

De grupo restrito às platéias alternativas de Belo Horizonte, o Pato Fu se tornou uma potência pop com certa facilidade em uma década (no caso, a de 90) marcada pela falta de criatividade musical que pairava sobre as principais bandas brasileiras que surgiram na época e morreram no caminho. O exorcismo diante do fantasma dos Mutantes valeu a pena.

O jornalista Juliano de Souza, 30, é animador cultural e atualmente trabalha no Sesc Vila Mariana, em São Paulo

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