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13/07/2009 - 12h24

Nascimento do rock traz polêmica entre brancos e negros; leia trecho de livro

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da Folha Online

Com mais de 50 anos de vida, o bom e velho rock and roll é lembrado no calendário a cada 13 de julho, Dia Mundial do Rock. A data passou a ser comemorada depois da realização do concerto musical Live Aid, em 13 de julho de 1985.

Idealizado pelos músicos Bob Geldof e Midge Ure, os shows simultâneos na Inglaterra, Estados Unidos, Austrália e Rússia, tiveram a presença de grandes nomes do rock como Queen, Paul McCartney e The Who, em prol das vítimas da fome na Etiópia. Dado o sucesso do evento, a data ficou marcada como o Dia do Rock.

Divulgação
Em almanaque, o músico e jornalista Kid Vinil revela histórias, personagens e curiosidades sobre o rock, o ritmo cinquentão
Em almanaque, o músico e jornalista Kid Vinil revela histórias, personagens e curiosidades sobre o rock, o ritmo cinquentão

Para os amantes do ritmo e das incríveis histórias que surgem aliadas às novidades roqueiras, o livro "Almanaque do Rock", de Kid Vinil, traça uma detalhada linha do tempo sobre a criação do ritmo e os acontecimentos curiosos de cada época.

Testemunha ocular do rock brasileiro e pesquisador de sua influência mundial, Vinil descreve no livro os 50 anos de história do rock. O almanaque ricamente ilustrado relata o surgimento do rock and roll desde a década de 50, quando Chuck Berry e Elvis Presley mostravam ao mundo uma fusão da country music e do rhythm'n'blues, passando pela agregação do ritmo aos elementos do jazz, da música clássica, do folk e da world music, até o rock da era digital.

O último, cheio instrumentação eletrônica e computadores, mostra bandas relativamente novas no circuito, de Klaxons à brasileira Cansei de Ser Sexy.

Entretanto, mesmo diante de tantas mudanças, o autor garante: "o rock and roll nunca perdeu a sua rebeldia, o seu jeito de entrar com o pé na porta."

Leia abaixo um trecho do livro "Almanaque do Rock".

Atenção: o texto reproduzido abaixo mantém a ortografia original do livro e não está atualizado de acordo com as regras do Novo Acordo Ortográfico. Conheça o livro "Escrevendo pela Nova Ortografia".

*

A Receita do Rock and Roll

Na sua forma mais pura, o rock é composto de três a quatro acordes, uma batida forte e contínua e uma melodia pegajosa. As raízes do rock and roll provêm de fontes variadas: o blues tradicional, o rhythm & blues (R&B) e a música country. Adicione também o gospel, o pop tradicional, o jazz, o boogie-woogie e o folk. E misture uma estrutura ao estilo blues, que torna a canção rápida, dançante e atraente.

O rock and roll teve seu modelo criado pela primeira geração de rockers: Chuck Berry, Elvis Presley, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly, Bo Diddley, Bill Haley, Gene Vincent, The Everly Brothers, Carl Perkins, entre outros. Nas décadas seguintes, um grande número de artistas foi recriando e redefinindo esse som. Da invasão inglesa, folk-rock e psicodelia ao hard rock, heavy metal, glam rock e punk, diversos subgêneros foram surgindo, muitos deles ainda conservando

Brancos ou negros?

O rock and roll já nasceu polêmico. Quando a juventude da época começou a se revoltar contra o racismo, a música foi uma forma de unir a todos. Alguns atribuem aos negros a criação do rock and roll nos anos 50. Mas quem será o pai do rock? Na versão negra, podemos considerar Chuck Berry, Little Richard, Fats Domino e Bo Diddley.

O primeiro marco na história do rock foi uma gravação de Ike Turner (o falecido marido da Tina Turner). Ele tinha um grupo de R&B chamado The Kings of Rhythm, que, em maio de 1951, emplacou nas paradas o compacto Rocket 88.

Os primeiros brancos a se aventurarem no contagiante ritmo foram Bill Haley, Carl Perkins, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis, Roy Orbison e Elvis Presley, que traziam em suas músicas as origens do hillbilly, uma espécie de música pré-folk feita no sul dos Estados Unidos, o swing do blues feito pelos negros e uma pitada do jazz e do boogie-woogie - este, outra vertente do blues tradicional. Essa mistura mais tarde passou a ser chamada de rockabilly.

A diferença entre o rock and roll e o rockabilly é que no primeiro entravam elementos do pop feito antes da década de 50 - o chamado pop tradicional - e, no segundo, havia predominância das raízes country e do rhythm & blues.

O selo Sun Records, do produtor Sam Phillips, ajudou a propagar pela América alguns desses ritmos importantes, na voz de nomes como Johnny Cash, Jerry Lee Lewis e Elvis Presley. Enquanto isso, em Chicago, um outro selo chamado Chess Records - uma gravadora de R&B - apresentava ao mundo os artistas negros do rock and roll, como Chuck Berry e Bo Diddley.

Nessa época, houve uma proliferação pelos Estados Unidos de outros selos menores que também fizeram história, como o Imperial e o King. Um dos caras mais negligenciados pela mídia foi Bill Haley, músico do Estado de Michigan, que já tocava rock and roll desde o início dos anos 50, quando o ritmo ainda nem tinha nome. Sua gravação de "Rock Around the Clock", por exemplo, aconteceu em abril de 1954, antes de Elvis Presley assinar com a gravadora Sun Records (também em 1954), e de Chuck Berry gravar "Maybellene", em 1955.

O cara chorão

Citado como um precursor do rock and roll, Johnnie Ray tinha um estilo inspirado no R&B, algo entre Frank Sinatra e Elvis Presley. Ele ganhou seu primeiro disco de ouro em 1951 com a música "Cry" e depois com "Little White Cloud that Cried". O apelido The Cry Guy (o cara chorão) surgiu porque sua performance no palco incluía choro e dramatizações, como se ajoelhar aos prantos. Muitos o consideram uma das grandes influências de Elvis e, no Brasil, de Tony Campelo.

Enquanto isso, no Rádio...

Alan Freed foi tido como o responsável por ter apresentado o som dos negros para as platéias brancas com seu programa de rádio Moondog Rock and Roll Party, que começou em Ohio, em 1952, tocando R&B para uma audiência de adolescentes brancos. Como o racismo pegava pesado naquela época, o DJ foi criticado por sua iniciativa e perseguido pelas autoridades.

Um dos momentos marcantes de Freed foi em 1952, quando ele conseguiu reunir uma platéia de 25 mil brancos em Cleveland, tentando entrar num local com capacidade para 10 mil pessoas, para ver um show que trazia praticamente só artistas negros de rock and roll. Claro que ocorreu um grande tumulto, mas o sucesso levou seu programa para Nova York dois anos depois. Ele promoveu outro show histórico em 1955, no Brooklyn Paramount Theater, com Fats Domino, The Drifters, The Clovers e The Heptones and Joe Turner. Mais uma vez, a maior parte da platéia presente era de jovens brancos.

O DJ virou um herói do rádio em toda a América, pois dava força a todos os novos grupos de R&B, até aos mais obscuros, e se recusava a tocar Pat Boone, cantor que cantava sucessos do rock and roll em versões adocicadas. Ele também apareceu em diversos filmes nos anos 50 interpretando a si mesmo, como Ao Balanço das Horas (Rock Around the Clock), Don't Knock the Rock e Mister Rock and Roll. Apesar de tudo isso, Alan Freed sofreu processos por exigir participações em direitos autorais de certas composições que ele ajudava a estourar tocando-as em seus programas.

Um dos piores momentos de sua carreira foi em 1958, no seu programa de TV Rock and Roll Dance Party, em que ele foi proibido de mostrar o cantor de doo-wop negro Frankie Lymon dançando com uma garota branca.

Diante de tantas acusações e proibições, sua carreira começou a decair, até que em 1959 estourou o escândalo do payola (jabá), quantia exigida pelos DJs de rádio para tocar as músicas dos artistas. Freed terminou sua vida e sua carreira em 1965, desempregado e alcoólatra.

Doo-wop

Um estilo importante dentro do rock and roll dos anos 50 foi o doo-wop, uma espécie de exercício vocal feito por grupos de jovens negros e brancos, pobres e, às vezes, ítalo-americanos, que começaram a carreira cantando sem nenhum acompanhamento de instrumentos, naquilo que chamamos a capella. Nessa década, apareceram diversos grupos desse estilo, e alguns conseguiram certo sucesso, como The Crows, The Penguins, The Ravens e The Orioles. Mas outros também merecem destaque, entre eles: The Platters, The Clovers, The Spaniels, Frankie Lymon and The Teenagers, Dion, The Flamingos e The Drifters.

Em 1954, um dos grupos precursores foram os canadenses do Crew Cuts que chegaram ao primeiro lugar em algumas paradas com a música "Sh'Boom", que consistia em um arranjo vocal dos quatro integrantes. No ano seguinte, emplacaram mais uma: "Earth Angel", regravação dos The Pinguins. The Crows foi o primeiro grupo vocal negro a tocar em rádios de brancos em 1954, com a música "Gee". Entretanto, um dos grupos mais bemsucedidos foi o The Clovers, que emplacou 13 sucessos entre 1951 e 1954. Sem contar o The Platters, grupo de doo-wop que entrou nas principais paradas com "The Great Pretender" em dezembro de 1955.

Músicas de doo-wop que ficaram na história:

"A TEENAGER IN LOVE"_DION

"BARBARA ANNE"_THE REGENTS

"BLUE MOON"_THE MARCELS

"DEVIL OR ANGEL"_THE CLOVERS

"EARTH ANGEL"_THE PENGUINS

"LITTLE DARLIN"_THE DIAMONDS

"LOVE PORTION NO 9"_THE CLOVERS

"SMOKE GETS IN YOUR EYES"_THE PLATTERS

"THE GREAT PRETENDER"_THE PLATTERS

"WHY DO FOOLS FALL IN LOVE"_FRANKIE LYMON

O Compacto de Vinil

Um produto de consumo importante foi o compacto de vinil de sete polegadas, o single, conhecido no Brasil como "compacto simples". Todos os grandes nomes começavam gravando suas músicas nesse formato. Na época, as rádios só tocavam compactos. Existia apenas uma parada de sucessos que eles chamavam de singles chart (algo como "parada de compactos"). Somente no início dos anos 60 foi criada a parada albuns chart ("parada de discos") para os LPs que só eram lançados depois de o artista ter tido vários compactos de sucesso. Estes eram reunidos no LP.

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"Almanaque do Rock"
Autor: Kid Vinil
Editora: Ediouro
Páginas: 248
Quanto: R$ 52,90
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 e no site da Livraria da Folha.

 

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