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20/04/2006 - 09h43

DVD traz Chico Buarque nos bastidores de "Carioca"

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LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo, no Rio

Chico Buarque compra músicas de compositores anônimos e assina como suas. "Geralmente eu compro dos mesmos, que já conheço há mais tempo", conta. Suas canções femininas são feitas por uma moça. Há fornecedores em decadência, o que o leva a procurar gente nova, como um tal Ahmed, autor oculto de uma das faixas do CD "Carioca", que será lançado no início de maio.

"Cobrou caro pra cacete! Mas, como eu estava precisando, e ele sabia que eu estava na pior, eu paguei, né?", lamenta Chico, que diz ter sido obrigado por Ahmed a dar mais e mais dinheiro até receber a música completa. "Eu não componho, não, mas trabalho pra cacete", defende-se.

Divulgação
CD e DVD chegam em maio
CD e DVD chegam em maio
A história acima é, obviamente, uma brincadeira. Uma das muitas que Chico gosta de inventar e que fazem parte de "Desconstrução", DVD a que a Folha assistiu nesta semana e que poderá ser comprado juntamente com "Carioca" --R$ 60, em média, o pacote; R$ 40 só o CD.

Apesar do título algo pretensioso, o DVD é o oposto dos que estão nas lojas, resultantes dos especiais de TV dirigidos por Roberto de Oliveira. Em vez de belas cidades européias, apenas o estúdio da gravadora Biscoito Fino como cenário. Em vez de entrevistas, só declarações colhidas informalmente e muitas brincadeiras como a de Ahmed.

"A idéia era que o material viesse dele, Chico. Procurei interferir o mínimo possível", diz o diretor, Bruno Natal, 28, que começou a filmar, autorizado pela gravadora, sem saber que o material viraria um DVD e sem que Chico soubesse o que aquela câmera digital portátil fazia atrás dele.

É a primeira vez que os bastidores das gravações de um disco de Chico são amplamente registrados --42 horas de material bruto, colhidas de setembro de 2005 a março passado. Em seu último CD de inéditas, "As Cidades", de 1998, ainda engatinhavam no Brasil câmeras digitais e DVDs.

"Quando vi a cena com o Jorge Helder, eu percebi que tinha algo especial, que só tinha acontecido ali e não dava para ser refeito", conta Natal, delimitando o momento em que o DVD começou a nascer.

A "cena com o Jorge Helder" é uma das melhores seqüências dos 58 minutos do documentário e resume sua espontaneidade. Chico arma uma surpresa para seu baixista: sem avisá-lo antes, vai mostrar a letra que fez para uma melodia entregue por Helder.

Quando começa a perceber a armadilha, o músico fica lívido e com vergonha da câmera. "Por favor, bicho, pára aí. Pô, vou pagar um mico aqui." Antes de chorar, sai do estúdio. Volta de cara inchada, tremendo: "Me dá um calmante, qualquer coisa". Ganha um copo d'água e o riso frouxo de Chico, que se diverte com a emoção de Helder. "Eu não mereço isso, não!", comove-se por se tornar parceiro do amigo/ídolo.

Outro registro raro é o de Chico inseguro com uma letra. Afinal, ele praticamente só compõe em casa, sozinho. Mas, na hora de mostrar uma nova versão de "Sempre", canção que fez para o filme "O Maior Amor do Mundo", de Cacá Diegues, outras pessoas que estão no estúdio não conseguem disfarçar o estranhamento com um verso: "Como um gato à sua dona". É um cacófato.

"Vocês estão querendo tirar o meu gato da música", brinca, um pouco apreensivo. Tenta defender, chega a pedir: "Esquece o cacófato". Acaba saindo chateado. No dia seguinte, outro verso: "Como um gato aos pés da dona".

Sua falta de intimidade com a tecnologia gera outras seqüências em que, fato raro, Chico é mais alvo do que autor das piadas. Em uma delas, ele pena para procurar seus e-mails: "Ele tá me sacaneando, esse negócio aqui". Alguém tenta ajudar: "É só fechar o browser [programa para navegar na internet]". "Fechar quem?", espanta-se. Quando consegue abrir a página, frustra-se: "Ninguém escreveu pra mim!".

Em outra, conversando com Luiz Cláudio Ramos, seu diretor musical, procura entender o ofício dos DJs. "O DJ não toca [instrumento]?", pergunta, antes de ouvir uma explicação que parece não absorver completamente.

Entre uma gargalhada e outra, Chico aparece no DVD cantando trechos de quase todas as músicas de "Carioca", conversando com os músicos e técnicos e respondendo a algumas perguntas de Natal. "Eu combinei de fazer uma pergunta por dia. Era sempre na cabine onde ele ia pôr a voz nas músicas", conta o diretor.

Chico começa, por exemplo, falando da dificuldade de voltar à música após um longo período dedicado à literatura. No final do filme, diz como é estranho ter que ir à Alemanha lançar "Budapeste": "Não sei mais o que é aquilo".

"O fato de ter escrito aquele livro de alguma forma me torna um músico melhor. Agora, explicar o porquê é mais complicado", diz, encerrando a conversa para gravar outra música.

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