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07/06/2006 - 11h11

Esquecido, Germano Mathias tenta a sorte em "Rei Majestade"

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TOM CARDOSO
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Germano Mathias espera comprar seu barbeador elétrico em breve. Isso se ele for um dos finalistas do programa "Rei Majestade", do SBT, que toda quarta à noite reúne nomes esquecidos pelo grande público. Germano, mestre do sincopado, uma das vertentes mais sofisticadas do samba, conhecido nas rodas pelo epíteto de "O Catedrático do Samba", torce para que o júri popular veja mais graça nele do que nos "nobres" concorrentes: Beto Barbosa, Pepê e Neném, Roberto Leal e outras feras da nossa música. Coisas de Brasil. "Se ficar em terceiro lugar, embolso 40 paus (mil reais). Eu fico rico até o fim da vida", torce o cantor de 72 anos e minguados dois shows por mês na agenda.

Folha Imagem
Sambista participa de programa de televisão
Sambista participa de programa de televisão
Germano, morador do Jardim Líder, bairro violento da periferia de São Paulo, já gravou um disco inteiro ("Antologia do Samba Choro", 1978) em parceria com o hoje ministro da Cultura, Gilberto Gil. Dividiram os créditos no disco, mas não chegaram a se encontrar. Na época, a Warner, gravadora de ambos, tentou promover o encontro da dupla em estúdio, mas o sambista, alegaram os produtores, havia sumido.

Pavão misterioso

"Sumi, nada. Eu estava aqui pertinho, fazendo show na boate Cangaceiro, em Campinas", lembra Germano. "O Gil é meu fã, sempre foi, mas depois que virou ministro subiu no pedestal. Eu mandei vários discos meus para Brasília, tentei conseguir patrocínio para shows, mas o Gil não está nem aí. Aliás, nem aqui. Vive viajando", protesta.

Germano espera não precisar tão cedo da ajuda do ex-parceiro. Está cheio de planos para 2006. Em julho, vai ao Rio para receber uma homenagem especial do Prêmio Tim de Música. Ainda no segundo semestre deve ser lançada a sua biografia, escrita pelo advogado e pesquisador Caio Silveira Ramos. "Estou em plena forma", garante o Catedrático, que gosta de repetir uma frase criada por outro sambista duro na queda, Moreira da Silva (1902-2000): "Tenho corpo limpo, sem varizes, e continuo afogando o ganso com cara de pavão misterioso".

Cara de pavão misterioso Silvio Santos fez quando Germano ameaçou cantar "Minha Nega na Janela", um dos maiores sucessos da carreira, no programa "Rei Majestade". A letra do samba, sucesso de 1956, não é das mais elegantes: "Minha nega na janela / Diz que tá tirando linha / Eta nega, tu é feia / Mais parece macaquinha". "Eu nunca fui racista. É mais uma brincadeira. Mas não sou louco de cantá-la hoje em dia. Os negros estão cheio de frescuras", diz o ex-engraxate, que forjou o seu estilo cantando ao lado de sambistas negros na praça da Sé, centro de São Paulo. "Eu era o único branco. Mas tinha ritmo, sabia batucar. Hoje em dia tem muito cantor que finge, mas não consegue dividir. Acho que agora sou o último dos moicanos", orgulha-se.

Não é papo. Contratado nos anos 60 pela gravadora Odeon, a mesma em que brilhava João Gilberto (um apreciador confesso da divisão do sincopado), Germano, o branquelo da zona Leste, enfeitiçou boa parte dos compositores cariocas. Todos queriam ser gravados por ele. Para Germano, Zé Kéti fez "Malvadeza Durão". Nelson Cavaquinho dizia sempre que a melhor gravação para "História de Um Valente" era daquele rapaz de São Paulo, que dividia o canto melhor que muito sambista do morro.

Morador do subúrbio, Germano tirou de letra a recente onda de violência que apavorou São Paulo nas últimas semanas. "Jamais tive problema com a polícia. Sou malandro, mas pacato. Só faço tipo."

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